Dando continuidade ao 1º Sacoleja – Mostra Livre de Cinema Pernambucano, será exibido nesta terça-feira (19), no Cine São Luiz, o longa Um Homem Sentado no Corredor, do cineasta pernambucano Felipe André Silva.
Com influências do mumblecore americano e tendo como referência cineastas do porte de Chantal Akerman e John Cassavetes, os filmes de Felipe André apresentam como característica uma pegada mais experimentalista. Seu trabalho mais conhecido, o longa Santa Monica, é um bom exemplo disso. Gravado totalmente com um celular, teve custo praticamente zero. Foi exibido no VIII Janela Internacional de Cinema e na 16ª Mostra do Filme Livre, no Rio de janeiro.
Em entrevista à Revista Algomais, Felipe André Silva conta detalhes de seu último filme e fala sobre os desafios enfrentados por quem deseja trabalhar com cinema em Pernambuco.
Revista Algomais – De que se trata “Um Homem Sentado no Corredor”?
Felipe André Silva – Na gênese do processo eu queria falar sobre interpretação, focando na ideia de que o trabalho do ator é uma performance constante e que todos nós estamos vivendo algum nível dessa performatividade quando nos moldamos àquilo que o ambiente deseja, mas durante o processo ele se tornou também um filme sobre uma juventude algo perdida, desmotivada de certa forma, ainda que muito agarrada às suas certezas. Não chamo de retrato geracional porque não era minha intenção, mas fala um pouco de alguns jovens que estão por aí hoje, da minha geração sobretudo.
Qual mensagem deseja passar com o longa?
Eu não me alinho muito a essa ideia de ‘filme com mensagem’, acho que os personagens são preexistentes ao próprio filme e as coisas que eles fazem e falam estão repletas de mensagens, caberia mais ao espectador filtrar aquilo que lhe pareça mais cabível.
Como surgiu a ideia do filme?
Eu assisti um experimento cênico chamado War Nam Nihadan e aquilo me encheu de curiosidade pelo universo do teatro, que havia abandonado a muitos anos. Comecei a dar forma a alguns diálogos e personagens que devolvessem em torno de uma companhia teatral mas notei que só aquilo não era o filme que eu buscava depois de fazer uma coisa tão experimental quanto Santa Monica. Nos meus arquivos encontrei essa história de dois adolescentes explorando a própria sexualidade e achei que havia um ponto em comum aí, o processo da descoberta, etc. Daí caminhou mais fácil.
Qual maior desafio enfrenta quem está começando a fazer cinema em Pernambuco?
Talvez aprender a trilhar os caminhos da burocracia, se esse for o desejo. O Funcultura é um processo penoso, por vezes caro, e difícil para quem não tem experiência. Todos os meus filmes até agora forem feitos sem esse aporte, por questões relativas a essas. Eu não sou um cineasta de classe média que pode tirar dinheiro do bolso para fazer numa grande produção, então aprendi a fazer filmes que caibam na minha realidade. O importante é conhecer suas limitações, ainda que sempre lutando para expandir o limite delas, e se cercar de pessoas que acreditam nas suas ideias.
Teu trabalho sofre influência de algum cineasta específico?
Quando comecei a filmar eu era muito influenciado pelo mumblecore americano – e dentro desse, em especial o cinema de Joe Swanberg -, um movimento que fazia também filmes de baixo orçamento sobre jovens perdidos, sempre focados em diálogo, etc. Creio que o grosso da minha experiência estética vem daí, mas sempre existem as referências cinéfilas como Chantal Akerman, John Cassavetes, Valeska Grisebach, Straub-Huillet, Hong Sang-soo. Talvez não estejam presentes nos filmes, mas estão sempre acompanhando a gênese das ideias.
Já planeja mais um filme?
Dei uma pausa nas produções mas devo retornar em breve. A ideia é fazer um musical, não sei se conseguiremos, mas o desejo tá aí.