*Por Rafael Dantas
Em 5 de outubro de 1821, os revolucionários pernambucanos que enfrentaram o capitão-general português Luiz do Rego Barreto conseguiram uma vitória determinante com a assinatura da Convenção de Beberibe. O então governador, o último lusitano do Estado, deixava o poder e aceitava a realização de eleições em Pernambuco. Pleito esse que ocorreu semanas depois e foi vencido por Gervásio Pires. Tal movimento, que possuía um caráter constitucionalista, é considerado o primeiro episódio da Independência do Brasil, que aconteceu com quase um ano de antecedência ao Grito da Independência.
A Convenção de Beberibe é um dos episódios finais desse movimento revolucionário que teve início na Zona da Mata Norte, poucos meses antes, com a formação da Junta Governativa Provisória de Goiana. A Revolução de 1821, apesar de ter saído vencedora, com seus pleitos atendidos, ela é menos conhecida que as duas outras que se passaram naquele período: a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador, de 1824.
Os principais nomes do movimento de 1821 na verdade estavam presentes já em 1817. Felippe Menna Calado da Fonseca e Manuel Clemente Cavalcanti de Albuquerque, por exemplo, foram presos após Luiz do Rego Barreto derrotar as forças revolucionárias de 1817, permanecendo 4 anos em Salvador. Após libertos, por determinação da Revolução do Porto, eles voltam para Pernambuco, mas se refugiam nos engenhos da mata norte onde articulam a revolta que derrubaria seu algoz.
Em 29 de agosto de 1821, após reunir tropas no Engenho Tamataúpe de Flores (na época pertencente ao município de Nazaré da Mata, mas hoje é território de Buenos Aires), os revolucionário chegam à Casa de Câmara e Cadeia de Goiana com o objetivo de instituir a Junta de Governo Provisória. Apesar de certa resistência, eles formam essa junta que começa um enfrentamento a princípio diplomático e posteriormente militar contra Luiz do Rego Barreto. O presidente eleito por essa junta foi o goianense Francisco de Paula Gomes dos Santos.
O argumento dos revolucionários para a formação dessa junta e da realização de eleições era decorrente também de determinações da Revolução do Porto, de 1820, que estavam sendo desconsideradas pelo português que foi colocado em Pernambuco por Dom João VI. Em solo pernambucano, um dos motivos que fortaleceu os revolucionários era a alta rejeição de Luiz do Rego Barreto, que foi responsável por alguns episódios sanguinários contra o povo pernambucano, além da cobrança de altos impostos que dificultavam a economia local.
As tentativas de resistência de Luiz do Rego Barreto foram anuladas pelos revolucionários, que conseguiram a deserção de uma parcela significativa do exército sob domínio do português. Com sagacidade e inteligência militar, a Junta de Goiana avança para o Recife, consegue cercar a cidade e se instalar na vila de Beberibe. Após ver esgotados os seus esforços, o governador envia negociadores para firmarem um acordo com os vencedores, que foi a Convenção de Beberibe. Pernambuco ficava assim independente de Portugal um ano antes do restante do País.
No Recife, um monumento erguido pelo artista plástico Abelardo da Hora em 1972 - construído na ocasião da comemoração dos 150 anos da Independência do Brasil - faz homenagem à Revolução de 1821, instalado na Praça da Convenção de Beberibe. Essa história vitoriosa e relevante nos esforços de libertação brasileira de Portugal infelizmente tem seu reconhecimento ainda muito restrito, mesmo em Pernambuco.
*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)
Referências:
DELGADO, Luiz. A Convenção de Beberibe, UFPE, 1971.
MACHADO, Teobaldo. As Insurreições Liberais em Goiana. Cepe, 1990.
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