200 anos de parceria: Cônsul-Geral May Baptista fala sobre as Relações Brasil-Estados Unidos - Revista Algomais - a revista de Pernambuco
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Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia

200 anos de parceria: Cônsul-Geral May Baptista fala sobre as Relações Brasil-Estados Unidos

Em entrevista, a diplomata destaca a importância da colaboração em temas como democracia, segurança e desenvolvimento econômico no contexto das comemorações do bicentenário.

A cônsul-geral dos Estados Unidos no Recife, May Baptista, compartilha suas perspectivas sobre as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, especialmente no contexto das celebrações pelos 200 anos de parceria entre as nações. Com uma trajetória no Serviço de Relações Exteriores que inclui experiências em diversos países da América Latina e da Europa, Baptista enfatiza a importância da construção de relacionamentos sólidos, com foco na promoção da democracia, segurança e progresso econômico. Seu papel no Recife abrange uma vasta gama de iniciativas voltadas à educação, direitos humanos e desenvolvimento sustentável, refletindo seu compromisso em cultivar redes entre culturas e organizações.

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Como o Consulado no Recife tem celebrado o marco dos 200 anos das relações diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos?

Este ano estamos celebrando os 200 anos de relações diplomáticas entre Estados Unidos e Brasil com eventos em diversos estados brasileiros. No Nordeste, onde o Consulado Geral dos EUA no Recife atua em oito estados, promovemos diversas parcerias que marcaram este bicentenário e gostaria de destacar: as apresentações e intercâmbios musicais do artista norte-americano Daniel Ho & Friends, que com sua banda apresentou a música e dança do Havaí para os públicos do Recife e de Fortaleza - em parcerias com o Paço do Frevo (Pernambuco) e Embaixada Bilíngue Fortaleza (Ceará); ingressos dados a  estudantes de projetos educacionais de Fortaleza e Natal para assistir ao concerto ao vivo “Magia e Sinfonia” da Disney; a presença da embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley, e de representantes da NASA no Space Week Nordeste, em São Luís do Maranhão; a visita do cutter da Guarda Costeira dos EUA a Fortaleza, que possibilitou a intercâmbio de conhecimentos com integrantes da Marinha do Brasil e que reforça nossa amizade histórica com o país como parceiro de defesa e segurança pela democracia no Hemisfério Ocidental; e a bela exposição sobre as relações históricas entre os EUA e Pernambuco,  que foi criada e exibida na ABA Global Education (Pernambuco), nosso Espaço Americano no Recife.

Nacionalmente, tivemos desde intercâmbio para jovens de escolas públicas e o primeiro jogo na NFL em São Paulo, além de exposição de arte que será lançada neste mês de outubro na capital paulista. O bicentenário nos lembra do impacto positivo que nossa relação teve em nossos países e em nossos povos, e que continuamos trabalhando juntos para um futuro brilhante. 

Quais os principais eixos de atuação do consulado atualmente? Houve alguma mudança significativa pós-pandemia?

Gosto sempre de lembrar que o Consulado Geral dos Estados Unidos no Recife desenvolve ações e parcerias nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Piauí e Maranhão. A Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil atuam em eixos que têm valores compartilhados com governo e instituições brasileiras.

Algo de muito impacto no momento pós-pandemia foi nosso trabalho para emissão de vistos para cidadãos em busca de viagens aos Estados Unidos. Aqui no Recife, além de mutirão consular e da prioridade aos brasileiros que estudam nos EUA, inauguramos no Paço Alfândega o Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto, que recebe e entrega documentos daqueles que não precisam de entrevista para a renovação do visto.  Hoje, celebramos que em 2023 emitimos um recorde de 1,1 milhão de vistos para brasileiros. E vamos bater uma nova marca este ano: no primeiro semestre de 2024, emitimos aproximadamente 675 mil vistos, 17% a mais em relação ao mesmo período de 2023.

Nossa relação bilateral com o Nordeste é focada no fortalecimento da democracia e direitos humanos; em promover educação na área STEM (Ciência, Tecnologia, Educação e Matemática); no combate à crise climática; e empoderamento e combate à violência de gênero. Destaco que em todas as nossas ações buscamos incorporar diversidade, equidade, inclusão e acessibilidade para todas as pessoas.

Sobre nossa atuação em direitos humanos, ressalto o termo de cooperação estabelecido em 2023, e que continua em atividade, entre o estado de Pernambuco e a ONG internacional Freedom Fund, parceira implementadora de bolsa de financiamento do Escritório de Monitoramento e Combate ao Tráfico Humano do Departamento de Estado dos EUA. Por meio da doação, investimos mais de 25 milhões de dólares em vários estados e setores no Brasil para combater o trabalho forçado e o tráfico sexual.

Já na educação, os números mostram que também temos um diálogo contínuo com quem busca o conhecimento. De acordo com o Open Doors, relatório elaborado pelo Departamento de Estado dos EUA, o Brasil é o 9º país do mundo que mais envia estudantes para os Estados Unidos: são mais de 16 mil brasileiros matriculados em cursos de universidades americanas.

Uma opção segura e gratuita para a busca de uma vaga em uma universidade nos EUA é fazer uma consulta no EducationUSA, centro oficial do governo que oferece informações sobre oportunidades de estudos. Através de parcerias com instituições educacionais, hoje temos nove escritórios EducationUSA no Nordeste – em Pernambuco, Ceará, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte. E espero em breve celebrar a abertura de um centro em mais um estado nordestino!

Na pauta econômica, quais são os setores de maior interesse americano em estabelecer parcerias em Pernambuco e no Nordeste brasileiro?

O comércio e o investimento dos Estados Unidos apoiam mais de 520 mil empregos no Brasil e aproximadamente 100 mil nos EUA.  No contexto dos investimentos de empresas americanas em Pernambuco e no Nordeste, é evidente para mim que somos o principal parceiro internacional na região. Várias empresas americanas possuem grandes operações por aqui, contribuindo bastante para o desenvolvimento econômico e oferecendo empregos de qualidade.

O ramo de alimentos e bebidas é, sem dúvida, um dos segmentos de maior atividade fabril, mas também temos forte atuação em indústrias de maior valor agregado, como a automotiva, além de importante participação na área de TI. No setor de franquias, várias marcas americanas estão presentes no dia a dia dos nordestinos há anos. Não citarei nomes para não ser injusta com algumas de nossas empresas que operam aqui na região, mas posso dizer que estimamos em cerca de 50 o número de subsidiárias americanas operando por aqui.

Na área de tecnologia e evidente potencial logístico do estado de Pernambuco, destaco também a recente concretização de uma parceria entre os portos de Houston e Suape, que pode render frutos e contribuir para o crescimento do comércio entre nossas nações.

Segurança pública continua sendo um tema relevante no Brasil e, ao longo dos anos, nossos parceiros brasileiros da área de segurança têm expressado grande interesse em fazer investimentos consideráveis em tecnologia inovadora de combate ao crime. Em parceria com o Departamento Comercial dos EUA, o Consulado geral dos EUA no Recife está organizando uma feira chamada “Law Enforcement Showcase” que promoverá, em dezembro, o encontro de empresas americanas provedoras de soluções na área com os principais responsáveis pela tomada de decisões do setor de segurança pública da região.

Como a Sra avalia o momento das relações da diplomacia entre o Brasil e os Estados Unidos? Quais as pautas prioritárias nessa relação?

Com a proximidade do G20, reforço que os Estados Unidos apoiam a presidência do Brasil no G20: promoção da transição para energia limpa; combate à fome e à pobreza; e reforma da governança global são temas propostos pelo governo brasileiro que ressoam com os dos Estados Unidos.

O caminho para um mundo mais justo e sustentável requer parceria. No Nordeste, por exemplo, estivemos presentes no grupo de trabalho sobre Emprego do G20, realizado em Fortaleza no mês de julho, com a presença da secretária adjunta do Trabalho dos Estados Unidos (EUA), Julie Su, para discutir sobre o futuro do trabalho. Em encontro com o ministro do Trabalho e Emprego do Brasil, Luiz Marinho, a secretária Su tratou sobre os impactos da crise climática no mercado de trabalho, de como o calor extremo é um grande desafio a ser enfrentado, e da necessidade de se ter empregos de qualidade para todos.

Também estaremos presentes em Fortaleza, neste mês de outubro, para o encontro de Educação do G20 com a presença da secretária adjunta do Departamento de educação dos EUA, Cindy Marten, e representantes do Gabinete de Assuntos Educacionais e Culturais do Departamento de Estado. 

Esses diálogos nos mostram que relações diplomáticas respeitosas nos permitem estabelecer uma melhor ligação com as pessoas dos nossos países. Há 200 anos celebramos conexões positivas que nos permitem avançar juntos.

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