Pesquisas mostram que em tempos de crise aumentam os riscos de fraudes digitais e, consequentemente, os investimentos de grandes corporações em segurança cibernética. Foi nesse contexto que a pernambucana Tempest Security Intelligence deslanchou no cenário nacional e investiu pesado no exterior. Com 17 anos no mercado, duas filiais (uma em São Paulo e outra em Londres), a empresa viu crescer sua clientela de forma mais acelerada nos dias em que a economia brasileira começava a definhar. Em 2016, ela alcançou um faturamento de R$ 29 milhões e projeta fechar o ano de 2017 com R$ 50 milhões.
Entre os serviços prestados pela Tempest estão desde os sistemas de defesa – seja consultoria ou mesmo o gerenciamento contínuo de proteção digital (24 horas por dia), analisando todas as possíveis ameaças e alertas – como o de atacar a operação das organizações que os contratam para testar a capacidade de segurança. “Somos conhecidos por realizar esses testes. As empresas nos contratam para atacá-los. Observar se existem vulnerabilidades. Fazer um teste antes que o atacante o faça”, explica o sócio Evandro Hora.
Ele explica que desde o seu nascimento, a Tempest tinha vocação para atuar em um patamar mais complexo que o da concorrência. “Nunca quisemos trabalhar no mesmo nível de outras empresas locais, que vendiam antivírus, mas planejamos atuar na área de inteligência. A ‘miudeza’ nunca nos interessou. Desde o começo trabalhamos para grandes clientes como o Banco Mundial e alguns ministérios”, explica. O contato com esses gigantes vinha através do C.E.S.A.R., onde a Tempest ficou incubada entre os anos 2000 e 2003.
Com apenas cinco anos de atuação, a empresa já possuía uma filial em São Paulo, quando entrou mais forte no atendimento às grandes companhias de telecomunicações e, principalmente, no mercado financeiro, que hoje corresponde a aproximadamente 53% da receita. “Na época da crise as fraudes aumentam. Logo cresceu também o tamanho do contrato das empresas conosco. Temos crescido nos últimos anos numa média de 20%, em alguns até mais do que isso”, afirma Evandro.
Entre 2015 e 2016 o salto do faturamento foi de R$ 19 milhões para R$ 29 milhões. Seguradoras, empresas de milhagem e cartões de crédito são alguns segmentos atendidos pela pernambucana. A empresa possui uma carteira média entre 60 e 70 clientes, entre os quais está a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Para dar conta do crescimento da demanda, a Tempest já conta com aproximadamente 200 funcionários, sendo 140 só no Recife.
Após a consolidação da filial em São Paulo, a empresa partiu para uma fase de internacionalização. Hoje aproximadamente 15% de sua clientela está no exterior. Evandro explica que vários clientes no Brasil eram multinacionais e que sempre elogiavam o profissionalismo da prestação de serviços. A Tempest mirou então no Reino Unido, onde tem a filial desde 2012, no ano em que a cidade recebia os Jogos Olímpicos. Entre as empresas europeias que atende estão gigantes do setor de comunicação, como a BBC, o The Ecomomist, The Guardian e HBO. Nessa carteira estão também alguns bancos e a rede de supermercados Tesco. “Queremos crescer mais em Londres. É muito bom vender em libras e ter o custo em reais, 90% dos serviços são desenvolvidos no Recife. Mas isso pode mudar um pouco porque a equipe de lá está crescendo com alguns profissionais que estamos contratando e outros que estamos enviando daqui”, diz o diretor.
Para impulsionar sua internacionalização, principalmente na Europa, e diversificar o portfólio de serviços, a empresa conseguiu, no ano passado, um investimento de R$ 28,2 milhões do Fundo Aeroespacial (que tem a Embraer como principal financiador privado).
“Esse recurso é para acelerar alguns projetos no Brasil e no Reino Unido. Nossa ideia é atingir a Europa a partir de Londres”. Uma das ações para crescer no Velho Mundo foi a compra de 70% da El Pescador, que trabalha no segmento de educação e gestão em educação de segurança.
Outro passo estratégico da empresa para ganhar competitividade no mercado atual foi dado há cerca de cinco anos. Na época, a Tempest criou um laboratório interno para trabalhar com inovações e começou a investir na tecnologia do blockchain (utilizada na moeda digital bitcoin). “Procuramos estudar que tipo de tecnologia poderíamos estar usando cinco anos à frente. Foi dessa experiência que criamos o caixa eletrônico de bitcoins, que tem uma unidade instalada no Paço Alfândega. Esse produto não é para ganharmos dinheiro com ele, mas para mostrar ao mercado que a gente domina a tecnologia”.
Com os investimentos em andamento e atuando com inovações, as estimativas da Tempest são ambiciosas para o futuro. “As ações e contratações que estamos fazendo trarão resultado nos próximos dois anos. As boas notícias de agora são intermediárias. Esperamos nesse período estar, pelo menos, com o dobro do desempenho atual”, planeja Evandro Hora.
*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais – rafael@algomais.com