Jovens no Grande Recife apresentam menor apego à televisão e maior dependência do celular – Revista Algomais – a revista de Pernambuco
Notas do Sertão

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Geraldo Eugênio

Jovens no Grande Recife apresentam menor apego à televisão e maior dependência do celular

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Estudo aponta aspectos divergentes e alguns pontos em comum sobre o hábito de assistir televisão entre famílias de baixa renda e alta renda no Grande Recife. No caso das pessoas de baixa renda, a TV ainda ocupa um papel central no dia a dia das famílias, isso porque o aparelho é uma das únicas fontes de informação e acesso ao conteúdo audiovisual, principalmente entre os mais velhos. Já nas famílias de alta renda, a televisão aparece como complementar às outras telas, muitas vezes até vista como algo substituível, principalmente entre os mais jovens. Entretanto, um ponto em comum entre os dois grupos é que os adultos e idosos carregam consigo o hábito mais forte de assistir televisão, em horários estabelecidos e todos os dias, enquanto os jovens já não apresentam um apego tão forte ao aparelho por estarem mais ligados à internet e ao celular.

Foi com o propósito de mapear os novos hábitos do telespectador recifense frente a TV, tanto pelas famílias de alta renda quanto as de baixa renda, que a mestre em comunicação Manuella Teixeira Vidal chegou a essas conclusões, registradas na dissertação “Televisão e novos hábitos – mapeamento do comportamento do telespectador em Recife no cenário digital”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE, sob orientação da professora Karla Regina Macena Pereira Patriota. Segundo Manuella, “apesar de a televisão sempre ter alcançado um lugar de destaque na rotina do telespectador brasileiro, no cenário atual, em meio à convergência cultural em que ocorre a interação entre novos e antigos meios de comunicação, a TV tem assumido novos papéis, funções, características e significados”.

Para a autora do trabalho, a importância da televisão atribuída ao telespectador de baixa renda resulta da própria limitação de acesso a serviços de qualidade, outras modalidades de aparelhos mais modernas e novas tecnologias, estes já disponíveis para as pessoas de maior renda. Já as famílias de alta renda, segundo o estudo, por estarem inseridas em um cenário de abundância, seja de canais, telas ou formatos, apresentam uma relação diferente com a tela da TV, que passa a ser vista como complementar às outras telas e, por vezes, até substituível.

O estudo constatou, ainda, que não existe mais um único hábito consolidado em relação ao ato de assistir TV, como ocorria no passado e como a televisão assume os papéis e graus de importância diferentes na vida de cada indivíduo, de acordo com a sua realidade, influenciados por fatores como idade, acesso às novas tecnologias e também pelo seu nível social. Como metodologia, a autora utilizou a etnografia da audiência, pesquisa qualitativa que envolve observação do ambiente e entrevistas em profundidade. Ao todo, foram selecionados 18 domicílios para a realização de entrevistas, metade com características de baixa renda e a outra metade de alta renda.

FAIXA ETÁRIA | Com base em todos os dados colhidos e na observação do ambiente no qual essas famílias se inserem, a pesquisa aponta que a televisão começa a figurar como algo substituível entre os jovens de baixa renda, mas ainda de forma não muito intensa. Já entre as famílias de alta renda percebe-se não só entre os jovens, mas também entre alguns dos adultos, que a TV já não ocupa um lugar de destaque. Utilizando como base informações da Kantar IBOPE Media (1º semestre de 2016), o estudo destaca que o perfil de audiência dos telespectadores do Grande Recife é composto principalmente por mulheres (59%), indivíduos com mais de 35 anos (63%) e das classes CDE (74%).

A pesquisadora aponta as percepções das famílias em relação à TV digital, que, além dos ganhos de qualidade de áudio e vídeo, oferece um leque mais amplo de canais, direcionamento com oportunidade de interatividade direta entre receptor e emissor, comércio eletrônico e mobilidade. “Essa nova dinâmica traz consigo a necessidade de retorno, na qual a comunicação também funciona do receptor ao emissor do sinal, diferentemente do que ocorre nas transmissões analógicas”, analisa Manuella Vidal.

Considerando as entrevistas realizadas nos domicílios de baixa renda, a percepção da TV digital se resume à imagem sem chuvisco, de melhor qualidade. Os entrevistados, em sua maioria, desconhecem as demais funções da TV digital, como a interatividade, a consulta às programações diversas, os aplicativos e a possibilidade de conexão à internet. Mesmo entre as famílias de alta renda também foi identificada certa dificuldade em definir as funcionalidades da TV digital, com poucos relatos encontrados sobre o conhecimento e utilização do recurso de interatividade, por exemplo.

A partir das entrevistas, o estudo indicou de que forma a TV digital ainda poderia, ou não, modificar o hábito de assistir televisão entre os grupos analisados. Nesse sentido, foi observado que as famílias de alta renda, que já convivem com a TV digital há mais tempo, exploram suas múltiplas funcionalidades como o acesso à internet e opções de gravação disponíveis, porém, o processo de interatividade com o conteúdo da televisão costuma ocorrer na palma de suas mãos, através da tela do celular. A realização das entrevistas antecedeu o desligamento da TV analógica no Recife (efetivado em maio de 2017). Ainda de acordo com a pesquisadora, existe uma tendência de que o comportamento observado entre as famílias de alta renda em relação à TV digital seja reproduzido também pelas famílias de baixa renda, no momento em que essas passem a ter acesso à internet de qualidade e aparelhos mais modernos.

 

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