O corpo é o grande objeto de estudos e experimentações da diretora e coreógrafa paulista Flávia Pinheiro. A busca para entender o corpo — seu, do outro, de ninguém —, em toda sua potência e versatilidade, levou a performer a diversas partes do mundo. Para o novo trabalho, lançado no próximo sábado (7), às 16h, na Galeria Massangana (Edf. José Bonifácio. Avenida 17 de agosto, 2187, Casa Forte, Recife), ela entra em contato com outros corpos — inofensivos, mas não inertes. Em ‘Abismos de um corpo que falha’, explora performances onde matéria, peso e dimensões distintas encontram unidade frente à gravidade e ao deixar de servir.
Na exposição, objetos encontrados em um ferro-velho na periferia do Recife servem de vestígios da performance e ganham status de esculturas. “Iniciei o trabalho em um ateliê, a partir de texturas. Observava o comportamento do corpo vivo em relação a objetos diversos: macios, duros, esponjosos, porosos etc. Verificando também como o peso incidia diante destas coisas de tamanhos e densidade diferentes”, conta a performer. “Mais tarde, em um ferro-velho na Guabiraba, encontrei bala de canhão, corrente de navio e tudo pesava mais pra tonelada. Comecei a trabalhar com esses materiais a possibilidade, deslocamento, atenta ao desenho e partitura do espaço.”
As fotografias, creditadas à Rhayssa Oliveira e Pedro Coelho, e os vídeos, produzidos por Pedro Giongo, retratam as performances executadas in loco em complemento à instalação. “São elementos que assumem a tentativa frustrada de simular aquilo que aconteceu, pois quando passa da tridimensionalidade para o 2D, muito não se capta”, provoca Flávia, que também assina a produção executiva e expografia da mostra, essa última em conjunto com Diogo Todë. Na abertura, às 18h, ela realizará a performance ao som de trilha incidental [quando a música é coadjuvante, um background] para ativar a exposição. Todo o trabalho é resultado das pesquisas realizadas através das Residências Artísticas 2018, projeto de incentivo às artes visuais da Fundação Joaquim Nabuco.
‘Abismos de um corpo que falha’ é parte da investigação de Flávia Pinheiro sobre o corpo em movimento. “Tento entender e hackear o corpo, que é esse mecanismo ou utopia ficção analógica-digital. O abismo é o tempo dessa obsolescência programada das coisas e objetos dentro do antropoceno — que é essa ideia ou essa construção de identidade humana que tem relação com o sistema neoliberal, capitalista, branco do Norte. O abismo é a busca de outras lógicas, a destruição desses padrões canônicos”, reflete. A obra funciona como resolução ou procedimento nas artes visuais de sua performance cênica anterior, ‘Ruínas de um futuro em desaparecimento’.
Curto-circuito
Simbólico ou literal, a escolha pelo Belo Lyra Sucata, na Guabiraba, busca tornar tangível a reflexão sobre a destruição ou aceleração do fim. A gravidade é o elemento que infringe todas estas coisas: do corpo humano aos objetos. “Criar esse circuito ou fazer um curto-circuito no corpo entre a percepção, a ação e a sensação tem a ver com esse abismo. A relação das variáveis em que, por mais que a gente viva nessa sociedade do controle, da disciplina e da assepsia, o abismo irá sempre existir. O estudo busca acelerar o fim, utilizando os verbos sempre no presente — como cair — em detrimento de um futuro impossível.”
A investigação em espaços de acumulação de lixo e coisas em desuso tem sido o caminho feito pela coreógrafa para suas experimentações. "Tenho desenvolvido essa pesquisa há alguns anos, performances, imagens, intervenções urbanas, videoarte. Meu trabalho vem nesses suportes diferentes dentro da linguagem corporal. No começo, trabalhava bastante com dispositivos analógicos, depois passei para uma tentativa utópica de usar os dispositivos digitais e agora estou na tentativa de desaparecer dessa matéria", conclui a pesquisadora. O suporte curatorial é de Moacir dos Anjos e a assistência. A assistência de produção é competência de Pedro Toscano e o crédito de figurino leva o nome de Marc Andrade.
Serviço
Abismos de um corpo que falha
Abertura: 07.02.2020
Horário: 16h
Local: Galeria Massangana - Fundação Joaquim Nabuco - Av. Dezessete de Agosto, 2187 - Casa Forte
Em cartaz até 19 de abri
Gratuito
Aberto ao público