O sociólogo José Arlindo Soares tem-se debruçado sobre livros, pesquisas e estudos de pensadores e políticos para entender as mudanças provocadas pela pandemia. Sua conclusão é que estamos diante de uma inflexão estrutural que pode transformar o modelo como o mundo vinha se comportando nas últimas décadas.
Nesta entrevista a Cláudia Santos, Soares, que é pesquisador do Centro Josué de Castro e membro do Movimento Ética e Democracia, analisa os rumos do liberalismo, as manifestações contra o racismo e as perspectivas do Brasil.
Confira abaixo as duas primeiras perguntas da entrevista da Edição 171.2 da Revista Algomais. Para ler completa, assine: www.assine.algomais.com e receba esta e as próximas edição da Algomais em PDF no seu e-mail e WhatsApp.
Qual o impacto desta crise sanitária e econômica?
Não estamos diante de uma crise conjuntural, mas de uma inflexão estrutural que pode transformar significativamente o modelo como o mundo vinha se comportando nas últimas quatro décadas. Pesquisei análises e propostas de lideranças políticas, de intelectuais e instituições influentes. Eles sugerem mudanças estruturais que possam enfrentar as consequências econômicas, sociais e sanitárias colocadas pela pandemia. Não se fala apenas de mudanças em comportamento, mas da percepção do significado de modelos como globalização, liberalismo, solidariedade, democracia, Estado e representação política.
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Você defende que esta crise necessita de fortes intervenções do Estado?
No início alguns economistas consideravam o enfrentamento do problema apenas com ajuste fiscal ou da clássica equação do mercado. Mas a catástrofe sanitária mundial apontava para consequências socioeconômicas semelhantes às crises ocorridas após guerras mundiais ou indicadores piores do que a Depressão de 1929. A semelhança, entretanto, não significa ser igual, considerando que a configuração da atual estrutura produtiva mundial é bem diferente.
Henry Kissinger (diplomata norte-americano), afirmou que a saída para a crise seria a articulação de lideranças políticas mundiais somando capitais para um novo Plano Marshall de reconstrução dos países onde a crise será mais profunda. Mas, conclui que atualmente o mundo não tem lideranças com uma visão global e a
liderança dos Estados Unidos não é capaz de entender a própria importância do país no contexto de geopolítico atual.
Já o economista Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel e ex-assessor do Governo BiIl Clinton, defende um novo contrato social, um novo equilíbrio entre mercado, estado e sociedade civil.
Afirma que no mundo do Século 21, o governo terá que assumir um papel muito maior do que no passado, razão pela qual ele cria o conceito de ‘capitalismo progressista’. Os mercados continuam importantes, mas não podem ser irrestritos como prevê o neoliberalismo. Para ele o mercado não tem a noção de universalidade dos problemas e por isso não pode substituir o estado. Para Stiglitz a prioridade é salvar as pessoas e se não pararmos a pandemia, a consequência é a paralisação da economia. Ele alerta que nos governos que não acreditam na ciência os desastres serão inevitáveis e defende que a única forma de evitar o colapso é injetar dinheiro no sistema.
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