Múltiplas candidaturas. Pelo menos cinco partindo com força – seja de estrutura, reconhecimento político ou tempo de TV. As eleições municipais do Recife sinalizam um cenário com toda tendência de segundo turno, após 12 anos. A última eleição na capital pernambucana que foi para o segundo turno foi entre João Paulo e Roberto Magalhães, no ano 2000. A deliberação oficial sobre as candidaturas e coligações acontece entre 20 de julho e 5 de agosto. Mas a disputa já começou há um bom tempo.
O PT e DEM (na época ainda PFL), atores daquele embate voltam fortes nessa eleição, mas sem favoritismo. Os democratas representados pela pré-candidata e deputada estadual Priscila Krause. Os dois mais votados nas eleições 2012, Geraldo Júlio (PSB) e Daniel Coelho (PSDB) voltam a se enfrentar no pleito de outubro. O partido do prefeito apresenta recall maior que naquele embate, mas sem uma figura que foi fundamental para aquela decisão: Eduardo Campos. Junta-se a esse grupo o deputado estadual Sílvio Costa Filho (PRB), que sonhava até então com o apoio dos petistas e do PTB, do senador Armando Monteiro. Mais duas candidaturas com menor estrutura já foram postas: o deputado estadual Edilson Silva (Psol) e o presidente do PV Carlos Augusto Costa.
“Podemos esperar uma eleição muito pulverizada. Muitos candidatos, muitos dos quais competitivos. O segundo turno é certo e o resultado é uma incógnita. Priscila agrega a bandeira da mulher, além de experiência no Legislativo. Ela tem capacidade de reunir as chamadas bandeiras de centro-direita. Daniel sempre teve excelentes performances devido a sua boa capacidade comunicacional”, avalia o cientista político e professor da Unicap, Thales Castro. Apesar do reconhecimento popular de João Paulo, o especialista acredita que o desgaste do impeachment no seu partido trará dificuldades para o ex-prefeito recompor sua base e reinventar o discurso.
A participação do DEM e do PSDB no ministério do governo provisório de Michel Temer é visto pelo cientista político Túlio Velho Barreto como um fator que poderá resultar num empoderamento dos seus candidatos na disputa local. No caso, Priscila Krause e Daniel Coelho. No entanto, ele ressalta que horizonte político até outubro ainda não é claro.
Um maior ou menor envolvimento dos atores políticos locais no governo e o desgaste das denúncias de corrupção poderiam tanto contribuir como prejudicar tais candidatos no Recife. “A morte de Eduardo Campos, único real líder do PSB no Estado, certamente, afetará a campanha. Não se sabe o que acontecerá com a disposição do PMDB de emplacar o candidato a vice na chapa, o que significaria o afastamento do atual vice- -prefeito Luciano Siqueira, do PCdoB”, avalia.
Sobre o prefeito Geraldo Júlio, Thales destaca que o socialista entrará numa eleição na situação oposta a que enfrentou quatro anos atrás. Em 2012, a força e habilidade de costura política do ex-governador Eduardo Campos, aliado ao intenso desgaste interno do PT, que detinha a prefeitura, levou o então desconhecido secretário de desenvolvimento econômico, mas com rejeição baixíssima, a uma vitória no primeiro turno.
“Geraldo Julio tinha Eduardo Campos como principal cabo eleitoral e ainda contava com uma aliança com Lula e Dilma. Há uma diferença brutal desse contexto de alianças”, afirma. Na ocasião, o atual prefeito contava com 12 partidos no seu palanque, que garantiu a eleição do então pouco conhecido secretário no primeiro turno. Daquela Frente Popular, ao menos o PRB e PV terão candidaturas próprias. Até o partido do vice-prefeito Luciano Siqueira, o PCdoB, não está garantido na coligação devido ao apoio socialista ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Para Velho Barreto, as dificuldades da gestão socialista se agravaram com o afastamento das legendas do DEM e do PSDB em Pernambuco e no Recife. “No plano local, o PSB parece ter se precipitado ao afastar ainda mais o DEM e o PSDB ao solicitar os cargos que esses partidos ocupavam na prefeitura e Estado. Tal fato pode ter sido resultado do açodamento dessas legendas em lançar os seus pré-candidatos, mas, fundamentalmente, parece ter resultado da inabilidade em costurar a manutenção da aliança ou de manter uma relação de proximidade que permitisse alguma composição na frente, ou seja, antes, durante ou depois da disputa eleitoral”, afirma.
Além das múltiplas candidaturas fortes, a crise econômica e política torna a eleição ainda mais imprevisível. “O cenário nacional de incerteza, denuncismo e delações promove uma desorientação no eleitor. Em outubro ainda estaremos submersos nessa crise continuada. Uma eleição atípica e oposta ao quadro econômico de 2012, quando Pernambuco surfava numa onda de muitos investimentos e euforia. Hoje omomento é de esgotamento tributário e financeiro do País”, afirma Thales.
Soma-se ainda a esse cenário turbulento a estreia de uma série de regras eleitorais que irão reduzir drasticamente o período de realização de campanha oficial, o tempo disponível em rádio e TV e uma queda no financiamento, devido à proibição da doação de recursos por parte das pessoas jurídicas. Em tese, o discurso de cada candidato ganha mais força frente as restrições.
REJEIÇÃO. Estudo do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) realizado em Parceria com a Folha de Pernambuco no final de junho indicou um fato preocupante para todos os pré-candidatos à prefeitura: o índice de rejeição é muito elevado. O único pré-candidato ao pleito municipal com menos de 50% de rejeição é Carlos Augusto (?), que tem 48%. As maiores rejeições são dos deputados Edilson Silva (57%), Priscila Krause (54%), Sílvio Costa Filho (53%) e Daniel Coelho (52%). O prefeito Geraldo Julio e o ex-prefeito João Paulo ficaram empatados com 50%.
(Por Rafael Dantas)