A matriz eólica é um dos destaques no conjunto de energias renováveis que pode ser acelerada nesse período de crise energética global. Para a reportagem de capa desta semana, a Algomais ouviu com Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica). Publicamos hoje mais dessa conversa sobre as perspectivas do setor e do crescimento esperado já em 2022.
Quais as suas perspectivas do impacto da guerra entre a Rússia e Ucrânia na transição global da matriz energética? Esse conflito que deve isolar um dos grandes produtores de combustíveis atrapalha, acelera ou é indiferente ao processo que o planeta vive?
Há consequências de curto e longo prazo. No curto prazo o consumo de combustíveis mais poluentes podem até aumentar, mas no médio e longo prazo o que fica claro é que, além de as renováveis, como solar e eólica, serem as melhores escolhas do ponto de vista ambiental e também financeiro (porque se tornaram altamente competitivas), elas também são opções para que os países conquistem sua independência energética.
Aqui em Pernambuco há uma grande expectativa da instalação de uma planta de produção de hidrogênio verde. O desenvolvimento desse combustível tem capacidade de aumentar os investimentos em energia eólica e as demais matrizes renováveis sustentáveis em Pernambuco e no Nordeste?
Sim, tem sim. O hidrogêncio verde é uma das grandes apostas para o futuro no setor energetico. E para produzi-lo você precisa de energia renovável, de forma que isso certamente tem a capacidade de aumentar investimentos em eólica, tanto onshore como offshore, e energia solar.
Atualmente quais os números principais da produção energética eólica em Pernambuco e no Nordeste? Qual foi o crescimento em 2021?
O Brasil bateu recorde de instalação de nova capacidade em 2021, com cerca de 3,8 GW de nova capacidade instalada. Ultrapassamos a marca de 20 GW de capacidade instalada no Brasil no ano passado, cerca de 80% dessa capacidade está no Nordeste. Pernambuco tem, hoje, 898MW de energia eólica em 36 parques.
Quais as expectativas para a região em 2022? Há grandes empreendimentos no horizonte?
No Brasil, até 2026, teremos pelo menos 33 GW, cerca de 80% dessa capacidade instalada no Nordeste. Digo “pelo menos” porque isso se refere apenas aos contratos já fechados até hoje. Ou seja, esse número certamente será maior, até porque o mercado livre está crescendo cada vez mais para as eólicas. Considerando apenas os contratos já assinados, podemos estimar um investimento de cerca de R$ 80 bilhões nos próximos cinco anos.
E as perspectivas são ótimas. Em 2022 devemos bater novo recorde de instalações, fruto dos leilões realizados nos anos anteriores e principalmente fruto do crescimento que a eólica vem tendo nos últimos anos no mercado livre. Também esperamos um bom avanço para a nova tecnologia das eólicas offshore. A ABEEólica avalia que o Decreto Nº 10.946, publicado pelo governo no final de janeiro de 2022, que dispõe sobre a cessão de uso de espaços físicos e o aproveitamento dos recursos naturais no mar para a geração de energia elétrica a partir de empreendimentos offshore, é um avanço crucial para que o Brasil possa iniciar seu caminho na implantação de parques eólicos offshore com segurança para o investidor, governo e sociedade. Talvez possamos já ver um leilão de offshore em 2023. Também vemos que as discussões e debates sobre hidrogênio verde devem se intensificar, assim como todas as demais tecnologias que são fundamentais na luta para conter o aquecimento global.