Em setembro, a galeria abre a exposição Geometria Oscilante, primeira individual do artista em Pernambuco, com curadoria de Felipe Scovino
No próximo dia 8 de setembro, a Amparo 60 abre a exposição Geometria Oscilante, de Ascânio MMM, com curadoria de Felipe Scovino. A mostra apresenta oito trabalhos recentes do artista, brasileiro, nascido em Portugal, e que vive no Rio de Janeiro desde 1959. Essa é a primeira mostra dele – que passou a fazer parte do casting da galeria em 2021 – em terras pernambucanas.
“Eu me sinto como se a própria Janete Costa estivesse me trazendo para essa exposição no Recife”, revela Ascânio contando um pouco da sua relação com a arquiteta, mãe da galerista Lúcia Costa Santos. “Conheci a Janete há muitos anos atrás. Ela estava fazendo um hotel em Copacabana e escolheu uma escultura minha para colocar lá. Conheci o Burle Marx através dela”, lembra, ressaltando que a amizade e parceria em trabalhos seguiram por muitos anos. “Eu conheço Ascânio há anos, desde a época em que ele e minha mãe eram próximos. Sempre quisemos trazê-lo para Amparo e agora esse momento chegou. É uma alegria ter um artista com uma bagagem tão consistente fazendo sua primeira mostra no Recife em nosso espaço”, destaca Lúcia Costa Santos.
Geometria Oscilante apresenta duas séries recentes do artista, de 2022, QuaCors e Prismas, cujo material base são perfis de alumínio. “As obras aqui expostas se baseiam na qualidade de serem cambiáveis, não correspondendo integralmente às premissas formalistas da escultura, especialmente por instaurarem a ideia de instabilidade”, escreve Scovino.
Na primeira, o artista compõe obras bidimensionais, quadrados de dimensões diversas, de 70 x 70 a 1,20 x 1,20 metros, com os módulos de alumínio e faz uso das cores industriais para gerar suas figuras geométricas. Desse diálogo vem o nome da série, que une as sílabas QUA com COR. Em Prisma, ele passa a trabalhar em composições tridimensionais, também montadas a partir dos perfis de alumínio. Segundo o curador, esses trabalhos reafirmam o compromisso do artista desde o início de sua carreira em trabalhar com as múltiplas possibilidades, fazendo da obra um campo aberto.
“As obras de Ascânio trazem essa ideia de participação. O público precisa se locomover, precisa observar a peça de vários ângulos, perceber suas possibilidades. Seja naqueles trabalhos em espaços públicos, obras apresentadas em galerias, e até naquelas, como é o caso de Caixas (c. 1968-69), em que o espectador é convidado a mexer, mudar e recombinar o trabalho”, diz Scovino, destacando que o signo construtivo é o principal objeto de estudo do artista.
Ele faz parte da geração que se segue ao Neo Concretismo ( 1959-1961), e sua formação se deu “vendo uma diversidade de associações metafóricas abrangendo arte, corpo e arquitetura”, pontua Scovino em seu texto curatorial. A questão construtiva, a chamada “vontade construtiva”, está no cerne de sua poética. O próprio artista ressalta que suas obras são construídas dentro do ateliê, parafuso por parafuso. O seu interesse não está apenas no objeto finalizado, mas no processo, na construção do mesmo. “A composição do objeto é um percurso, existe todo um processo por trás, que acontece no meu ateliê, onde eu acompanho todo esse desenvolvimento”, diz Ascânio.
O artista se lança a uma investigação sobre as formas geométricas e sobre a arquitetura – o índice arquitetônico de seus trabalhos é evidente e tem uma razão de ser. Ao chegar ao Brasil, no final da década de 1950, Ascânio mudou-se para o Rio de Janeiro, onde vive até hoje, com o objetivo de ingressar no curso de arquitetura. Enquanto aguardava a entrada na universidade, passa a frequentar a Escola de Belas Artes e começa a adentrar neste universo. Foi neste período, como conta o artista, que ele entrou pela primeira vez no Museu Nacional de Belas Artes. Nessas visitas passou a ter contato com obras de peso, como as de Franz Weissmann. “Fui fisgado, mordido pela escultura”, conta. Formado em arquitetura, o artista passa a conciliar as atividades. Todo o repertório adquirido ao longo de sua formação universitária é também empregado em seu s trabalhos artísticos. Ele traz elementos da cidade, materiais da construção civil (como madeira, alumínio…) para dentro da obra.
“Ascânio pensa os seus módulos de madeira – e, mais recentemente, de alumínio – como forças ativas que desencadeiam não só metáforas acerca do corpo mas ativam, na práxis, o corpo do espectador. Suas obras não se pautam numa discussão sobre massa ou volume; são translúcidas porque querem, exatamente, criar agenciamentos, embates e encontros entre elas e o corpo do espectador. Querem ser atravessadas, tocadas, usadas assim como desejam ser percebidas como projeções virtuais no espaço”, sintetiza Scovino.
SERVIÇO
GEOMETRIA OSCILANTE – ASCÂNIO MMM
Curadoria: Felipe Scovino
Dia 8 de setembro, aberto ao público a partir das 19h
Visitação: De 9 de setembro até 16 de outubro.
Segunda a sexta, das 10h às 19h
Sábados das 10h às 15h
Galeria Amparo 60 – No 3º andar da Dona Santa (Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 187 – Boa Viagem, Recife – PE, 51020-170)