Ao longo da série Desafios do Desenvolvimento de Pernambuco, os dados e as percepções da Condepe/Fidem (Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco) contribuíram para apontar algumas das macrotendências que deveriam nortear as políticas públicas dos próximos anos no Estado. O repórter Rafael Dantas conversou com a presidente da agência, Sheilla Pincovsky, sobre as prioridades de infraestrutura a serem encaradas pelo Governo do Estado, a importância da interiorização das universidades e a urgência de solucionar as dificuldades da população social e economicamente vulnerável. Uma questão, porém, recebeu especial destaque de Sheilla: a necessidade de implantar uma gestão da Região Metropolitana do Recife, que permitiria resolver de forma abrangente problemas como moradia, mobilidade, saúde, entre outros.
Quais os principais desafios ao desenvolvimento do Estado de Pernambuco?
Temos alguns desafios que eu diria que são estruturais. Demandam grandes investimentos e que não acontecem numa única gestão. Um deles, que a gente vem falando desde que eu me entendo por gente, é a Transnordestina. Ela já mudou de nome e ainda não se concretizou. Mas planejamento é assim mesmo, a gente defende, vai amadurecendo até que se concretize.
O Estado abraçou essa causa da Transertaneja e ela será um importante pilar do desenvolvimento, ao lado da melhoria das estradas e rodovias, nas quais não podemos parar de investir. Temos um déficit muito grande dessa infraestrutura logística, que não é restrito às áreas mais isoladas do Estado. A manutenção dessas estradas, a duplicação em alguns trechos e triplicação em outros são fundamentais para consolidar o processo de interiorização do desenvolvimento. Isso vem avançando desde a década de 1990, mas precisa ser intensificado.
Há algum outro destaque de infraestrutura?
Ainda na questão viária, há grandes projetos que precisam ser enfrentados e concluídos. Um desses é o Arco Metropolitano. Essa iniciativa, apesar de abranger toda a região metropolitana, será um ativo útil para potencializar a economia de Pernambuco. Tivemos um grande avanço para conectar o Estado com os aeródromos. O que era um desafio passou a ser um ativo importante, com a chegada dessa malha aérea em Caruaru, Serra Talhada, Garanhuns e Araripina. Além de já termos o Aeroporto de Petrolina. É uma malha muito interessante que leva a um processo estruturante e permanente do desenvolvimento do interior.
Temos visto também o surgimento de polos regionais educacionais e médicos no interior, como em Serra Talhada. São investimentos importantes para a manutenção da população local, evitando a migração para grandes cidades. Também são projetos que vêm lá da década de 1990 e foram parados. Mas se tornaram políticas de estado que vem perpassando vários governos. Toda política econômica desenvolvimentista deve ser uma política de estado e não de governo. Isso tem sido muito bom para Pernambuco.
Como essas novas estruturas logísticas fomentam o desenvolvimento no Sertão e no Agreste?
Essa infraestrutura vai facilitar muito o escoamento da produção e o deslocamento das pessoas. Isso é o que vai levar a uma maior facilidade, por exemplo, de escoamento da fruticultura do São Francisco. Uma estrada de ferro, como a Transertaneja, potencializa muito o Porto de Suape como centro de produção e de distribuição. Mas é ao mesmo tempo o caminho para integrar a produção do interior com o resto do mundo. É o grande meio para levar os nossos produtos para o mercado externo, diminuindo muito o custo logístico e o tempo, inclusive. E na via contrária, a via férrea contribui para levar os produtos e insumos para o interior. Estamos frente também a um conjunto de tendências irreversíveis, que são mais abrangentes que Pernambuco e que a gente não pode perder de vista.
A Agência Condepe-Fidem tem uma longa história de planejamento junto à Região Metropolitana do Recife, na época em que era ainda apenas Fidem. Quais os principais desafios para que essa complexa metrópole se desenvolva?
O plano de desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana do Recife (PDUI-RMR) dá toda orientação das diretrizes, em que analisa a realidade, as carências e as potencialidades de cada município. O que eu queria ressaltar aqui é a importância de se retomar o olhar sobre a região do ponto de vista do território metropolitano, como um todo, sem se preocupar tanto com os limites dos municípios. Ou melhor, os limites têm que ser considerados, mas é preciso haver aquela solidariedade territorial. A gente não pode imaginar um Recife sem pensar em Jaboatão, sem pensar em Camaragibe, sem pensar em Olinda. Não se pode pensar numa Itapissuma sem pensar em Igarassu, sem pensar em Araçoiaba, sem pensar em Itamaracá. A gente não pode pensar em Suape sem pensar nos municípios do Cabo e Ipojuca ou até em municípios da Mata Sul. Não se pode deixar de pensar nos municípios como um todo, de forma solidária entre eles.
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