Segundo livro da carreira do pernambucano será lançado na DOC Galeria, na Vila Madalena, em São Paulo. O projeto é lançado pela editora Olhavê e faz parte de uma coleção de livros de fotografia de autores contemporâneos brasileiros. O lançamento no Recife acontecerá no dia 6 de dezembro, no CCI – Capibaribe Centro da Imagem, às 19h
A editora Olhavê lança o terceiro livro da coleção “Olhavê {Projetos} e segundo da carreira do conceituado fotógrafo pernambucano Beto Figueiroa, o “Banzo”. Posteriormente ao sucesso da exposição e livro “Morro de Fé”, a obra será lançada no próximo dia 29 (terça-feira), às 19h, na DOC Galeria, em São Paulo. Na ocasião, também será apresentado o quarto fotolivro do selo, o “Vertentes”, de André Conti.
Editado pela professora Georgia Quintas e o jornalista Alexandre Belém, o fotolivro explana, em 32 páginas, as referências imagéticas e sensoriais que conotam o sentimento “Banzo”.
LIBERTAÇÃO – Estar de banzo, viver e senti-lo possui uma relação de contexto. Da ausência vivida pelo que está longe de nós, irmanada na presença da saudade, da sensação de perdermos o chão seja por um lugar ou por uma pessoa. Palavra impregnada da escravidão, o banzo, a saudade extrema, matava os escravos ainda nas embarcações. Beto Figueiroa batizou tais imagens com o peso e a potencialidade imaginativa que o termo enuncia.
Embora as fotografias tenham um ponto de partida, um cemitério ancestral às margens do Rio Capibaribe, na cidade de Salgadinho, Pernambuco – local onde os antigos escravos foram enterrados sob várias lápides de pedra bruta, sem nome e sem cruz, o ensaio guarda um olhar desterritorializado. Outras imagens foram capturadas em Limoeiro, no Agreste pernambucano; no mar, referência direta à chegada dos navios negreiros, e a seus resquícios de vegetação; ou simplesmente de nuvens carregadas no início da manhã ou fim de tarde, provam da mesma cor densa e repleta de significados.
“As imagens de ‘Banzo’ discursam por entre o que a palavra sugere. No entanto, a força imagética salta para uma visualidade que percorre a abstração, solo de desvios, de contextos apreendidos pelo acaso tanto quanto de sonhos interrompidos, lampejos da vista. Foi assim que surgiu ‘Banzo”, pela sensibilidade em ver coisas possíveis para sentimentos da vida, que a fotografia faz (às vezes), de cenário”, explica Georgia Quintas.
Beto Figueiroa – Fotografia além da visão
Beto Figueiroa passou parte da infância na histórica cidade de Goiana, Mata Norte de Pernambuco. Foi criado por uma mulher cega. Mãe Ná, sua avó, morreu em 2009 aos 106 anos e sempre foi uma referência não só na conduta de vida como na arte de enxergar. Para o menino Beto, o sentido da visão jamais foi parte essencial para a alegria. O jeito de ver as coisas se construiu de maneira diferenciada – bem provavelmente pela força dos ensinamentos de Mãe Ná, que jamais o viu, mas o acompanhou de perto, desde o início de sua carreira como fotógrafo.
A afetiva história sobre o olhar especial de Beto Figueiroa, evidente em suas fotos, talvez seja a primeira explicação para o reconhecimento do seu trabalho. Lançou em 2014 a exposição “Morro de Fé”, com curadoria de Mateus Sá e 25 fotografias coloridas e em preto e branco, impressas em grandes formatos, ocupando paredes, telhados com até 14 metros de largura. As imagens a céu aberto e em grandes proporções, foram fixadas nas fachadas e muros das casas no surpreendente suporte de pôster-bombs (lambe-lambe. Um ano após a intervenção no morro, o projeto ganhou o formato de livro. Um registro perene de uma intervenção efêmera, que em suas 114 páginas, abrange uma seleção mais ampla com um acervo de 50 fotografias, duas dezenas a mais que a apresentada na exposição ao ar livre, permitindo um mergulho mais profundo e sensível no diálogo entre o sagrado e o profano da Festa do Morro, evento que atrai cerca de 800 mil pessoas nos dez dias que antecedem o 8 de dezembro, Dia de Nossa Senhora da Conceição. Além das fotografias, a obra vem com o encarte
“O Morro para o Morro”, ilustrado com fotos da exposição, também pelo olhar de Beto, e com texto do jornalista Jorge Cavalcanti.
Com trabalho reconhecido pelas principais premiações do fotojornalismo nacional, como Vladimir Herzog. Beto participou de exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, além de inúmeras publicações em livros e revistas. Em 2007, esteve entre os dez brasileiros escolhidos pela Fototeca de Cuba e pelo Instituto de Mídia e Arte – Imea (SP) para representar a fotografia brasileira, sendo o mais jovem da seleção na mostra “Mirame – uma ventana da fotografia brasileña”, em Havana.
OLHAVÊ – As publicações da editora refletem a dedicação do editor e jornalista Alexandre Belém e da antropóloga e professora Georgia Quintas com que vêm empreendendo no cenário da fotografia brasileira. O Olhavê, blog que existe desde 2007, se expandiu numa plataforma de difusão e escoamento de conteúdo fotográfico com foco voltado para a formação através de cursos, workshops e grupos de estudos; além de realizar curadorias e consultorias.
O selo conta em seu catálogo com dez publicações de fotografia: 1978 (2016), Branca (2016), Vigília (2016), Ninguém é de ninguém (2015), Baches (2015), Tempo arenoso (2015), Abismo da Carne (2014), Inquietações Fotográficas – Narrativas Poéticas e Crítica Visual (2014), Olhavê Entrevista (2012) e Man Ray e a Imagem da Mulher – A vanguarda do olhar e das técnicas fotográficas (2008). Abismo, Inquietações e Entrevista foram publicados em parceria com a
editora Tempo d’Imagem.