Por Manu Siqueira
Este não é um texto qualquer. É um texto-memória-nostálgico de gratidão à vida. Um daqueles escritos que quero reler daqui a alguns anos. Parece um roteiro novelesco, algo cinematográfico, mas aconteceu comigo recentemente.
“Recife, 24 de abril de 1987. Prezada amiga Manoela: você é a minha melhor amiga do colégio. Como você fez a prova? Eu acho que fiz bem. Minha melhor amiga do colégio era Carol, mas agora é você. Somos muito amigas. Um beijo e um abraço precioso da sua amiga de sempre, Maria”.
Essa cartinha, escrita à mão em um papel de carta cor de rosa, está prestes a completar 40 anos, e guardo comigo até hoje, na esperança de reencontrar Maria, minha melhor amiga da época de escola. Quem me acompanha aqui já sabe que travo uma luta diária para frequentar a academia, que fica a 100 metros da minha casa. Pois bem, em uma terça-feira ensolarada, fui a uma aula de dança no início da manhã. A maior parte das alunas é formada por mulheres com mais de 60 anos. Falei com uma, puxei papo com outra e, enfim, começou a aula. Que foi ótima! No final, percebi um rosto familiar. Me aproximei e perguntei: “você é Vera, mãe de Maria?”. Ela me olhou com uma cara de espanto e disse que sim. Eu, com os olhos já marejados, disse: “sou Manu, a melhor amiga de infância da sua filha”. Ela, incrédula, me abraçou, e eu, já chorando, disse que sempre sonhei com esse momento.
Dias depois, Maria me passou uma mensagem. Ela também faz exercícios na mesma academia que estou frequentando. E mais! Estamos morando na mesma rua e no mesmo bairro em que ficava a nossa escola, na infância. Ou seja, somos quase vizinhas. A vida é ou não é uma caixinha de surpresas? Dizem que Recife é um ovo, mas posso provar que não é. Nunca nos cruzamos em nenhum shopping ou restaurante, ou supermercado ao longo desse tempo todo. Seria fácil reconhecê-la porque ela não mudou nadinha.
Demos uma pausa nas nossas agendas superlotadas e decidimos tomar um cafezinho em uma cafeteria ao lado da academia. Fui disposta a gravar no celular a minha reação ao vê-la. Mas quem disse que consegui? Eu me emocionei tanto que simplesmente esqueci de filmar. A gente se abraçou longamente e tentamos colocar em dia os 37 anos de conversas atrasadas.
Na infância, Maria mudou de colégio. Lembro de sentir uma tristeza profunda com a saída dela. Depois desse dia, nunca mais soubemos notícias uma da outra. Ainda arrisquei procurá-la nas redes sociais, mas não a encontrei. Depois do café, nos despedimos com a promessa de nunca mais nos largarmos.
Voltei para casa eufórica, feliz, radiante e escrevi essa mensagem para ela: “Maria, a sensação que tive hoje mais cedo, te reencontrando quase 40 anos depois, foi que, naquele café, a gente ainda tinha 7 anos e continuávamos conversando, como conversávamos, na hora do recreio. Foi muito bacana poder relembrar um monte de coisas que já estavam totalmente apagadas pela poeira do tempo.
Nesse processo de envelhecimento, tenho procurado fortalecer os meus laços afetivos de amizade e isso tem sido uma das principais prioridades da minha vida. Que bom te perceber doce, assim como Bárbara falou. A gente não muda nossa essência, né? E como você bem disse: que a gente nunca mais se perca. Um beijo enorme! Adorei nossa tarde! Manu”.
Maria está na minha memória afetiva mais bonita. Ela é um tesouro da minha infância. Fecho os olhos e relembro a nossa amizade pairada no ar: ela está na nossa pureza de criança, nas brincadeiras simples e divertidas, nas trocas dos lanches, na nossa doçura, nas intermináveis conversas, na nossa parceria e cumplicidade, nas infinitas trocas de papeis de carta, no encantamento pela vida, e nos sonhos que sonhávamos juntas.
Encontrá-la me permitiu fazer um mergulho dentro em mim e encontrar novamente com esses sentimentos que, às vezes, ficam perdidos dentro da gente.
A nossa comemoração do Dia do Amigo, celebrado no dia 20 de julho, já está marcada e, tenho certeza, vai ser muito especial e divertida. Tenho que concordar com Mário Quintana que disse: “a amizade é um amor que nunca morre”. É sim. Ela pode se ausentar, se perder, ficar guardada num cantinho do coração, mas sempre está lá, viva e pulsante.