*Por Eduardo Carvalho, Harvard University/IPERID Fellow, Autor do livro Educação Cidadã Global
Globalização é um fato. Vivemos num mundo interconectado em que as decisões tomadas num lugar podem impactar quem vive no outro extremo do planeta, no curto e/ou longo prazo. Os desafios enfrentados por organizações, cidades e países requerem cada vez mais conhecimento e cooperação internacional. Nesse cenário, temos que repensar o currículo, os planos de aula e as estratégias pedagógicas, com enfoque em competências globais, especialmente pensar o mundo em que estamos inseridos e formar crianças e jovens capazes de entender os desafios globais e locais, se preocupar com eles e adquirir as habilidades para enfrentá-los. É a missão mais importante que professores e gestores escolares precisam abraçar. Requer educação global, conceituada como: Desenvolver a capacidade de entender o mundo, respeitá-lo e atuar para mudá-lo para melhor, seja como cidadão, líder ou empreendedor.
É uma abordagem para orientar como os alunos aprendem e os professores ensinam, com o propósito de impactar positivamente a sociedade com ações e decisões. Pode envolver adições ao currículo, mas, primeiro, compreende examinar e revisar o currículo, a pedagogia e a organização escolar existentes. Trata-se de um processo no qual os alunos compreendem as áreas de conhecimento, os modelos de pensamento por meio de disciplinas integradas, desenvolvem habilidades, para aprender a solucionar problemas. Nesse processo o aluno torna-se capaz de sintetizar o conhecimento de várias disciplinas a fim de desenvolver processos para enxergar o problema. Capacita-se para entender as causas, os impactos e busca aprendizados além das fronteiras para colaborativamente, encontrar soluções inovadoras. Para alcançar esse objetivo se faz necessário que gestores e professores participem de rede global de conhecimento, aprendam com organizações de classe mundial e pesquisem melhores práticas e as adapte às suas realidades.
A educação global é um conjunto de propósitos claros que podem ajudar a alinhar o currículo com questões, desafios e oportunidades do mundo real. Como tal, é uma maneira de ajudar professores e alunos a entender a relação entre o que é aprendido na escola e o mundo fora da escola. Inclui vários domínios específicos, como educação para sustentabilidade, compreensão dos assuntos globais, compreensão do processo de globalização e interdependência global, desenvolvimento da competência intercultural, promoção do engajamento cívico, direitos humanos e educação para a paz. As ciências e as humanidades são os fundamentos disciplinares da educação global, pois não há como entender o mundo sem o conhecimento, as habilidades e as disposições que resultam de aprender a pensar como os cientistas fazem ou raciocinar como os humanistas. O programa considera também à estrutura ética refletida na Declaração Universal dos Direitos Humanos e ao objetivo específico de contribuir para enfrentar e resolver os riscos prementes do mundo, como os definidos pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os dezessete objetivos estão enraizados em várias disciplinas focadas no desenvolvimento humano e social. Representam um desafio o desenvolvimento e progresso social, enfatizando a interdependência da inclusão, justiça social, paz e sustentabilidade.
Um tópico essencialmente global é a mudança climática. A competência global deve permitir que as pessoas entendam as mudanças climáticas, se adaptem para mitigar seu impacto. A Educação sobre Mudanças Climática foca em preparar as pessoas para cultivar meios mais sustentáveis de se relacionar com o planeta. Abrange a preparação para adotar práticas que são conhecidas por serem sustentáveis, por exemplo, retardar o crescimento populacional, consumir uma dieta com uma pegada de carbono menor ou usar energias renováveis. Essas práticas podem ser individuais nas escolhas que se faz para o próprio consumo e estilo de vida, ou podem ser coletivas, o resultado de escolhas quando se participa do processo democrático em vários níveis de governo.
Como exemplo de programa de Educação Global, Fernando Reimers, professor da Harvard Graduate School of Education, criou o currículo World Course, implantado inicialmente na escola Avenues em New York, da educação infantil ao ensino médio. Currículo que incorporou princípios e estruturas específicos. Não trata apenas de informar questões globais aos alunos, mas também em desenvolver (i) as habilidades para colocar esse conhecimento em uso e (ii) as atitudes para inspirar a ações significativas. Essa combinação de conhecimentos, habilidades e atitudes é resumida no conceito “competência global”. A Asia Society e a OCDE consideram quatro aspectos-chave da competência global (1) investigar o mundo além de seu ambiente imediato, examinando questões de significado local, global e cultural; (2) reconhecer, entender e apreciar as perspectivas e visões de mundo dos outros; (3) comunicar ideias efetivamente com públicos diversos, envolvendo-se em interações abertas, apropriadas e eficazes entre culturas; e (4) agir para o bem-estar coletivo e o desenvolvimento sustentável, tanto local quanto globalmente.
Um programa eficaz de educação global não é o resultado de uma série de experiências isoladas em vários silos curriculares, mas o resultado de oportunidades de aprendizagem coerentes e integradas que podem ajudar o aluno a entender a relação entre o que aprende em várias séries e disciplinas a serviço da compreensão do mundo e de ser capaz de agir para melhorá-lo. Como tal, uma educação global ajuda o aluno a pensar sobre a complexidade e entender os sistemas que sustentam as questões globais e a interdependência global, conscientizando-o sobre o senso dos direitos e das responsabilidades nas comunidades local, nacional e global, com o propósito de realizar o bem comum. É fundamental que ocorra desde criança. A formação torna o jovem apto a viver e trabalhar numa sociedade global. É essencial que as instituições educacionais se comprometam com a abordagem.