“A saúde emocional dos profissionais é um ponto que deve ter muita atenção das empresas”

Carolina Holanda, psicóloga e sócia da TGI analisa as transformações provocadas pela pandemia no trabalho, afirma que ficou ainda mais evidente a importância das habilidades socioemocionais dos funcionários e alerta para a necessidade de os gestores se preocuparem com a saúde mental de sua equipe.

A pandemia trouxe grandes mudanças para as empresas e os profissionais. Ambos tiveram que se adequar à realidade do home office e, agora, com a possibilidade do retorno ao trabalho presencial, o regime híbrido tem sido adotado em muitos ambientes corporativos. Mas como a Covid-19 abalou a condição psicológica de boa parte da população do planeta, essa consequência, inevitavelmente impactou o mundo laboral. A psicóloga Carolina Holanda, sócia da TGI, ressalta que todas essas repercussões levaram a uma necessidade ainda maior dos gestores de cuidarem e se preocuparem com seus funcionários.

O momento também deixou ainda mais notória a importância da inteligência emocional como uma das habilidades necessárias aos trabalhadores contemporâneos. “Ficou evidente que profissionais que tinham desenvolvido mais competências socioemocionais souberam lidar melhor nas situações de crise”, constata a consultora da TGI. Nesta entrevista à Cláudia Santos, Carolina analisa esses impactos da pandemia, fala da importância da diversidade nas equipes e fornece algumas dicas para entrar no mercado de trabalho.

Passada a fase mais crítica da pandemia, podemos dizer que o trabalho híbrido veio para ficar? Por quê?

O modelo de trabalho híbrido é realmente uma tendência que deve ficar cada vez mais forte nas empresas daqui pra frente. Isso porque durante o período de isolamento e do trabalho remoto, provocados pela pandemia, em muitas empresas se observou um aumento de produtividade, redução dos custos empresariais, além de um maior sentimento de bem-estar nos profissionais. Eles puderam no período de home office ficar mais próximos da família, não enfrentar o estresse do trânsito, reduzir os gastos pessoais. Porém, ao mesmo tempo, enfrentaram desafios ao tentar conciliar a rotina de casa com a do trabalho e dar conta das inúmeras demandas com a família.

Se por um lado, teve ganhos, por outro lado, sentiram também a perda da troca de experiência com os colegas ou com seu gestor, de ter uma melhor definição do horário de trabalho (em casa, boa parte, trabalhava mais horas do que no escritório) e de poder sair do mesmo ambiente. Do mesmo modo, muitas empresas também sentiram o peso de ter toda a equipe distante, com perda da integração e das possibilidades de construção conjunta e até uma menor agilidade na tomada de decisão.

Também com a pandemia, veio a necessidade de as empresas prestarem mais atenção a um ponto que impacta diretamente o desempenho das pessoas: a saúde emocional. Então, oferecer um modelo de trabalho mais flexível, com possibilidade de os profissionais alternarem idas ao escritório com dias de home office tem sido uma boa alternativa para os dois lados. Empresas com profissionais mais satisfeitos e produtivos terão melhor resultado e um clima de trabalho mais saudável.

Porém, é importante ressaltar que o modelo de trabalho hibrido nem sempre é adequado para todas as empresas e segmentos, seja porque a empresa ainda não se sente preparada para lidar com esse modelo ou pela demanda de ter profissionais presentes integralmente na estrutura física. Não existe um modelo único que cabe para todas as empresas.

Quais são as condições necessárias para as pessoas serem produtivas em home office?

Primeiro passo é definir em qual local da casa você vai trabalhar, que além de ter as condições mínimas como uma boa internet, deve ser um espaço reservado livre de interrupções constantes e barulho. Não podemos esquecer de definir um horário para começar e terminar o expediente, levando em conta sua jornada de trabalho habitual.

A segunda dica é se organizar. Definir uma rotina que contemple todas as suas obrigações profissionais e pessoais, sem permitir que uma prejudique a outra. É fundamental definir seu plano de atividades a cumprir no dia, elencadas por prioridade, e ter clareza de quais entregas do trabalho precisa realizar. Sem esquecer, inclusive, das reuniões remotas que podem estar programadas. O fato de estar em casa, muitas vezes, leva a um certo desleixo com esses agendamentos. Devemos nos comportar como se estivéssemos na empresa e nos mantermos prontos para fazer uma chamada por vídeo com um cliente ou gestor de última hora. Não vale ficar de pijama ou desarrumado só porque está em casa.

Sozinhos e em casa pode ser mais difícil evitar as distrações e ter a disciplina necessária para não cair em algumas armadilhas como: “vou deixar para amanhã, quando chegar no escritório”, fazer uso excessivo das redes sociais ou envolver-se nas demandas do lar fora do horário previsto, principalmente quando se tem criança em casa.

Esse, de fato, é um grande desafio e pode não parecer fácil porque, para algumas crianças, os pais estarem em casa significa que estão disponíveis para brincar ou dar atenção. Minha sugestão é sempre conversar, explicando que agora o modelo de trabalho está diferente e combinar minimamente alguns acordos para evitar as interferências. E, claro, sempre após o expediente de trabalho, dedicar-se a fazer alguma atividade com os filhos.

Como tem sido o retorno ao trabalho presencial, mesmo que seja híbrido?

Tenho percebido que agora está mais tranquilo e com menor receio com a redução expressiva do risco de contaminação. Além disso, como falei no início, muitos profissionais estavam sentindo falta da dinâmica que há nas empresas, das trocas, da possibilidade de voltar a ter mais integração.

Muitos estão precisando reorganizar suas rotinas considerando o tempo de deslocamento novamente, a logística familiar e a saudade da comodidade de estar em casa. Há, também, os que estão passando por problemas emocionais, como ansiedade, depressão ou doenças psicossomáticas e doenças físicas, ambos impulsionados por tudo que viveram durante a pandemia.

Tudo isso acaba impactando na produtividade, engajamento e motivação dos profissionais e fica cada vez mais evidente que saúde emocional é, sim, um ponto que deve ter muita atenção das empresas. Os gestores precisam ter sensibilidade para identificar os sinais de que algo não está bem, como falhas constantes, oscilação de humor, atrasos, queda de resultados ou desânimo. Cuidar das pessoas e se colocar à disposição para dar um maior suporte, conversar e ajudar no que for possível faz-se extremamente necessário. É claro que não devem funcionar como um psicólogo mas só o fato de se mostrar disponíveis e atentos, já fará a diferença.

Especialistas em gestão de pessoas afirmam que as habilidades mais demandadas no pós-pandemia são as chamadas competências socioemocionais ou soft skills. Por quê?

Ficou ainda mais evidente, na pandemia, a diferença que o equilíbrio emocional faz na vida da pessoa. Passamos por um momento de muita tensão, falta de controle e sensação de impotência. A pandemia nos colocou à prova em várias questões. Muitos, para não dizer quase todos, foram impactados pela situação antes inimaginável e ainda estamos passando por esse processo. Mas ficou evidente que profissionais que tinham desenvolvido mais competências socioemocionais souberam lidar melhor nas situações de crise.

Na verdade, esse conceito de inteligência emocional é um conteúdo trabalhado desde a década de 1990, quando foi constatado o impacto dos processos emocionais em todos os processos mentais, inclusive, nos cognitivos e a influência determinante do inconsciente nas nossas atitudes e reações. Fica evidente, na observação da dinâmica de qualquer organização, que há profissionais que têm o desempenho afetado negativamente pela dificuldade de lidar com situações difíceis ou de controlar suas emoções, mesmo sendo muito bons tecnicamente.

Antes mesmo da pandemia, as empresas demandavam que profissionais tivessem conhecimento técnico e experiência, além de uma capacidade de compreender e lidar com seus próprios sentimentos e com os dos outros, mesmo em adversidades, principalmente os gestores. É um diferencial quando o profissional consegue ter autoconhecimento (uma certa capacidade de identificar seus sentimentos e gatilhos que o levam a ter comportamentos inadequados), autocontrole (ou seja, aceitar seus sentimentos mas regular a ansiedade, irritação ou qualquer emoção que o leve a uma ação impulsiva), motivação (frente às oportunidades que aparecem e a forma de encarar os problemas e as dificuldades), empatia (a capacidade de o gestor entender o sentimento do outro, inclusive, por meio da interpretação do discurso e de sinais não verbais, como um tom de voz, um gesto, uma reação desproporcional) e, por fim, habilidade nos relacionamentos.

A capacidade de construir vínculos sólidos e de respeito é cada dia mais essencial no mundo do trabalho, pois se trata da capacidade de perceber os sentimentos de outra pessoa e agir de maneira a enfatizá-los quando positivos ou minimizá-los quando prejudiciais.

Leia a entrevista completa na edição 198.4 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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