Os surtos de zika, chicungunha e dengue nos últimos anos fizeram despertar a atenção de pesquisadores para a necessidade de investigar novas formas de prevenir e combater as arboviroses. Órgãos como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Secretaria de Saúde do Recife desenvolvem novas pesquisas na área. Confira a seguir o que os estudos mais recentes revelam. Remédio Pesquisas realizadas por cientistas da Universidade da Califórnia, tendo um brasileiro à frente do estudo, Alysson R. Muotri, constatou que a cloroquina, medicamento usado no tratamento da malária, pode impedir transmissão do vírus zika da grávida para o feto, evitando assim que os bebês nasçam com microcefalia. Segundo o infectologista do Hospital Esperança Recife, Moacir Jucá, a análise realizada in vitro mostra que a cloroquina defendeu dos ataques do vírus os minicérebros humanos – estruturas formadas por células-tronco que se aproximam da formação de um cérebro desenvolvido. Em seguida, os testes foram realizados com camundongos, que também responderam positivamente ao medicamento. “As fêmeas grávidas tratadas com cloroquina se tornaram imunes à doença, e tiveram filhotes saudáveis, mesmo após serem expostas ao vírus”, conta Jucá. Entretanto, o coordenador do serviço de infectologia do Hospital das Clínicas da UFPE, Paulo Sérgio Araújo, afirma que ainda é cedo para garantir a eficácia da droga. “Mulheres grávidas, por exemplo, não deveriam usar a substância porque acarreta risco ao feto, por isso, o tratamento requer mais estudos”, alerta. Até pouco tempo acreditava-se que as únicas formas de transmissão da zika se dava pela picada do mosquito, e da gestante para o filho e por meio do aleitamento materno. Entretanto, um estudo intitulado “Zika Bra”, fomentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em parceria com a Fiocruz, investiga a forma de transmissão da doença via sexual e a possibilidade de contágio por outros fluídos biológicos, como lágrima, saliva, suor e sêmen, sendo a última já relatada em artigos, mas ainda sem força científica. “Por isso, são necessários estudos mais desenhados, como o que estamos desenvolvendo, com o número maior de pessoas participando, além das cinco identificadas na região”, ressalta Araújo, que é coordenador da pesquisa. Iniciado no segundo semestre de 2017, o estudo está sendo realizado em Manaus, no Rio de Janeiro e no Recife, onde são investigados moradores próximos ao HC, centro em que se desenvolvem as análises. Síndrome de Guillain-Barré O resultado de um estudo intitulado Quadro neurológico associado a Zika Vírus, coordenado por Lucia Brito e Fátima Militão, desenvolvido pela Fiocruz em parceria com o Hospital da Restauração, está prestes a ser publicado. A pesquisa vai divulgar números significativos de pacientes acometidos por zika e chicungunha que desenvolveram sintomas relacionados à Síndrome de Guillain-Barré (SGB). Trata-se de uma doença neurológica em que há uma produção desordenada de anticorpos que atacam os nervos periféricos, fazendo com que o impulso nervoso seja transmitido de forma lenta, causando fraqueza muscular e paralisia. “O número de pacientes analisados foram mais de 200”, informa o pesquisador e colaborador da Fiocruz Pernambuco, Carlos Brito. O intuito principal desta iniciativa é alertar os especialistas e a população que o quadro neurológico da SGB, relacionado a chicungunha e Zika, é mais frequente do que se imagina. “Inclusive, no caso da chicungunha, a doença pode ser tão grave quanto a zika e, em alguns casos, em uma proporção até maior”, esclarece Brito. Embora seja uma doença pouco conhecida pelos pernambucanos, quatro casos de pacientes com Guillain-Barré foram confirmados pela Universidade Federal de Pernambuco. Brito acredita que os resultados ajudarão a criar protocolos no tratamento de pacientes e melhorar os diagnósticos. Vale lembrar que o Ministério da Saúde já havia confirmado a ligação do Zika vírus com a SGB, depois de alguns estudos realizados pela UFPE, no qual foi observado que dos seis pacientes com sintomas neurológicos, quatro foram confirmados com a síndrome. Em breve, novas vacinas Já existe vacina para dengue desde a metade de 2016, entretanto, ela é oferecida apenas em consultórios particulares e tem eficácia de 66%. “O Programa Nacional de Imunização considera que não é custo-efetivo, logo ele não oferece a vacina nos postos de saúde, com exceção do Estado do Paraná, que implantou ano retrasado”, conta Paulo Araújo. A vacina é indicada para crianças a partir de 9 anos de idade, adolescentes e adultos até 45 anos. A boa notícia é que existe uma vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), que se tiver comprovada a sua eficácia será distribuída gratuitamente. Ela está em fase de teste, sendo aplicada em 16 centros pelo Brasil, entre eles a Fiocruz no Recife. Vem sendo aplicada em pacientes de 2 a 60 anos e o bairro eleito para receber o teste no Recife foi Iputinga. Araújo explica que essa vacina é produzida com vírus inativado, ou seja, que está enfraquecido. “Se os resultados encaminharem para comprovar sua eficácia será uma arma contra a doença”, destaca. O estudo vai abranger 17 mil pessoas. Em Pernambuco a mostra é estimada em 1.200 pacientes e, por enquanto, já foram inseridas mais de 900 pessoas. A previsão é que, se tudo der certo, a novidade seja aprovada no prazo de três a cinco anos. Uma vacina experimental contra a infecção pelo vírus zika também está sendo estudada. Apesar de ter sido testada em humanos e aprovada por comitês de ética nacionais e internacionais, ela precisa ainda ser avaliada em um novo grupo de pessoas. “A finalidade é estudar novos dados sobre a sua eficácia e segurança no organismo de pessoas sadias. Por enquanto, é tudo ainda muito incipiente”, justifica Jucá. MOSQUITOS ESTÉREIS Uma das estratégias utilizada pela Secretária de Saúde do Recife para combater o Aedes Aegypti é o uso das ovitrampas, armadilhas com água que simulam um criadouro. Por conterem larvicida, os ovos colocados pelo mosquito fêmea não se desenvolvem. “As aplicações das ovitrampas nos ajudam a dar um diagnóstico mais preciso da frequência e quantidade de vetores do Aedes nas comunidades”, explica Jailson Correia, secretário de Saúde