Arquivos Entrevistas - Página 28 de 28 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

A internet não vai acabar com outros veículos

Entrevista a Camila Moura e Cláudia Santos   Jorge José Pioneiro da TV e personagem do rádio em Pernambuco fala de sua trajetória na comunicação Uma verdadeira enciclopédia  do rádio e TV pernambucanos, Jorge José Santana trabalhou ainda garoto nos estúdios radiofônicos e integrou a primeira equipe que atuou na televisão no Estado. Nesta conversa com Algomais ele fala  dessa trajetória e da sua vida como escritor. Como foi a infância no Recife? Quando garoto, brincava na praça de Casa Forte, depois eu fui morar em Apipucos, depois Dois Irmãos. Morei num sítio enorme ao lado da casa de Gilberto Freyre.  Ficava vendo Fernando Freyre e Sonia Freyre andado de patins. Como  eu era pobre, não tinha dinheiro para comprar patins, pelo menos eu ficava lá olhando, me divertindo. Às vezes, eu me acordava cedinho para apanhar as mangas que caiam no meu quintal  e vendia a 10 centavos. Era um dinheirinho para pagar o cinema. Eu estudava no São Luís e minha mãe impôs regras para o meu estudo: se eu tirasse 10 e 10, eu tinha um dinheiro para ir ao cinema. Se fosse 10 e 9, eu não tinha o dinheiro para ir ao cinema . E se tirasse menos do que isso, eu ficava de castigo e não ia ao cinema. Depois fui para o colégio estadual,  em seguida passei uma temporada no Colégio Padre Félix. Houve um período em que eu não dei continuidade aos estudos. Quando eu cheguei na fase de vestibular, já havia entrado no rádio que era um ópio, me seduzia. Garoto ainda, de 11 anos, fazia rádio, subia num banquinho porque a haste do microfone não descia até a minha altura. E como você entrou no rádio? Eu ficava em casa lendo os jornais em voz alta, transmitindo o jogo de futebol e meu pai viu que eu gostava daquilo. Eu pedi: pai, eu quero trabalhar no rádio. Ele falou com o amigo Ziul Matos, locutor que tinha programa de auditório na Rádio Tamandaré. Ele me levou para o rádio e comecei a fazer os papéis de garoto nas radionovelas. Depois, encontrei uma pessoa que me ensinou a ser contrarregra,  fazia ruídos de passos (usando tábuas) cavalo correndo no asfalto (com cocos), etc.  Lá para frente surgiu a oportunidade de ser produtor de rádio, escrevendo. Existia naquela época a novela semanal. Nós íamos assistir ao filme, antes de ele ser lançado, e depois a gente iria radiofonizar aquele filme em cinco capítulos.  Isso foi em 1954. E na televisão? Em 1959 abriu um curso para televisão e me inscrevi. Nessa época a Rádio Tamandaré tinha passado para a Rádio Clube de Pernambuco (pertencente aos Diários Associados), e houve a transferência da equipe. O curso era para produtor de televisão e ocorreu um concurso em que tirei terceiro lugar. Eu era garotão, 18, 19 anos. Comecei na TV Rádio Clube com a responsabilidade de escrever novelas. Eu já vinha escrevendo novelas para o rádio. Nenhum dos produtores tinham a dimensão da força da imagem e da palavra ao escrever aqueles grandes teatros que duravam uma hora e meia. Tudo ao vivo. O estúdio era quente, os atores terminavam o ato e precisavam trocar de camisa, porque estavam todos molhados de suor. Segui esse caminho, fazendo teleteatro, depois escrevendo novelas. A primeira foi chamada O Ruído do Silêncio.  Os atores vieram do teatro e do rádio, tanto na TV Rádio Clube, quanto na TV Jornal do Commercio, que era chamada gaiola de ouro, porque tudo lá era muito rico, grandes estúdios. Qual foi a primeira TV a ser inaugurada? A TV Rádio Clube. Inaugurou no dia 20 de junho de 1960. Uma semana depois inaugurou a  TV Jornal do Commercio. Bem, um dia resolvi ir embora para o Sul do País. Muita gente tinha ido para o Rio de Janeiro, porque já tinha começado o sistema de videotape, os custos baratearam e na produção local o custo era alto. No Sudeste havia mais oportunidades. Foi na época que foram para lá: José Santa Cruz, Lucio Mauro, Arlete Salles. Mas, por um acaso, encontrei Paulo Pessoa (ex- dono da TV Jornal) que me chamou para trabalhar com ele e me disse: “você vai fazer a viagem por conta da empresa. Vai conhecer nossos representantes do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul e quando voltar, você vai dirigir o departamento de teleteatro”. Isso foi em 1964.  Voltei de São Paulo e fui para a TV Jornal do Commercio, com o segundo salário mais alto da empresa na época. Uma empresa que eu sempre sonhara em trabalhar. Foi uma fase de muitas novelas.  Uma delas,  A Moça do Sobrado Grande, foi um sucesso.  Tanto que ela foi exibida na TV Bandeirantes para todo o País. E depois? Fui chamado para ir para a Bahia, trabalhar na  TV Itapoan. Resolvi ir, porque queria conhecer o mercado e porque a empresa Jornal do Commercio estava para inaugurar lá uma emissora. Quando avisei sobre a proposta recebida, Paulo Pessoa disse: “ótimo, vá para lá. Você vai para conhecer o mercado, porque quando a gente inaugurar a nossa emissora, você vai trabalhar com a gente”.  Fui  trabalhar nos Associados como olheiro. (risos). Mas a TV Itapoan passou muitos anos como única emissora da Bahia.  Quando inaugurou a TV Aratu, com uma programação mais moderna, fornecida pela Globo, os espectadores migraram para TV Aratu. A audiência dos Associados caiu. Vi que não dava para mim: primeiro porque não conseguia brigar com uma audiência dessa, segundo era uma programação global, terceiro os programas dos Associados estavam meio cansativos, não havia renovação. Nesse período, a empresa  Jornal do Commercio que ia inaugurar uma emissora lá, começou o processo de falência. Eles não acompanharam a evolução de tecnologia. Compraram todo equipamento em preto e branco e de repente começou a surgir o sistema colorido e todo equipamento foi perdido. Além da Bahia, Paulo Pessoa também pensou em comprar a TV Rio e começou a levar o dinheiro daqui para

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Na política há os idealistas e os carreiristas

Entrevista a Cláudia santos e Rafael Dantas   Advogado fala sobre sua atuação na ditadura e à frente da Comissão da Verdade Ele foi personagem ativo da política brasileira nos últimos 60 anos. Nesta conversa com a Algomais, o advogado Fernando Coelho conta como foi sua trajetória na luta pelas liberdades democráticas.   Como o senhor chegou ao Recife? Sou paraibano, de Campina Grande, meu pai era funcionário federal. Quando eu tinha 6 anos, ele foi transferido para Minas Gerais. De lá veio para o Recife. Hoje tenho título de cidadão pernambucano, eu praticamente me criei aqui. Estudei no Colégio Nóbrega e na Faculdade de Direito. Tive a satisfação de ser eleito deputado federal por Pernambuco, sendo o mais votado em seis zonas do Recife e na  RMR. E fui ainda candidato a vice-governador. Por que a política o atraiu? Sempre acompanhei com interesse a política desde menino. Ainda como secundarista, participava do grêmio do Grupo João Barbalho. Na universidade, fui eleito vice-presidente nacional da UNE, em 1953. Eu mesmo não me considero político. Como foi a entrada no legislativo? Quando saí da faculdade, participei da política fazendo advocacia eleitoral. Era delegado do Partido Socialista Brasileiro no cartório eleitoral. Trabalhei na prefeitura de Pelópidas Silveira. Quando ele saiu, Arraes pediu para que eu continuasse na prefeitura, mas em outro cargo. Fui presidente do Ipsep (Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Pernambuco), aos 28 anos. Quando houve o golpe, saí com todos do governo de Arraes. Como viveu o dia do golpe? O dia do golpe era dia de pagamento das pensões no Ipsep. Duas mil pessoas, geralmente idosas,  iam receber a pensão no instituto. Muitas vezes, sem ter a passagem de volta.  Passei a véspera do golpe resolvendo problemas de requalificação de algumas pessoas. Às 23h, saí do instituto para Boa Viagem, onde morava. Estava até cochilando no carro quando, ao passar por trás do Teatro Santa Isabel, vi que a ponte estava cheia de motocicletas, obstando a passagem. O motorista deu a volta e seguiu pelo Palácio da Justiça e Rua do Imperador. Aí olhei o Palácio do Governo com as luzes todas acesas. Pedi ao motorista que retornasse. Precisava saber o que estava havendo. Estava acontecendo uma reunião. As notícias do palácio era de uma sublevação em Minas, mas que estava sob controle.  Tínhamos notícias contraditórias. As oficiais eram de que o governo estava sob controle. Fui de carona para casa com Egídio Lima, deputado estadual que morava perto de minha casa. No caminho, uma surpresa: defronte aos armazéns do Cais José Estelita, passou um tanque de guerra. O carro de Egídio era um fusquinha. Se ele não tivesse tirado o carro da frente com a maior rapidez, e entrado num acostamento, o tanque tinha passado por cima. Ao chegar na ponte, tinha um tanque olhando para cá e na outra cabeceira outro virado para o outro lado. O trânsito estava passando, mas eles tinham tomado a ponte. Já no Ipsep, pela manhã, de vez em quando, eu colocava a cabeça pela janela para ver o movimento na Rua do Sol. Muitos soldados passando para o Palácio das Princesas. Chegou um diretor e disse: "deu no rádio, Arraes foi deposto e Paulo Guerra assumiu". Não era verdade, isso só aconteceu no fim da tarde. Mas eles (os militares) tinham tomado as rádios e a partir nas 9h passaram a dar com frequência um noticiário falso, que desmobilizava o nosso pessoal do interior. Ao cumprir meus compromissos fui para o palácio, mas não pude entrar. Como foi sua vida depois do golpe? Eu era advogado, funcionário do Estado e assumi o meu lugar. Não pude sair para o exterior, por causa da família e por não ser rico. Tinha um filho pequeno e a esposa esperava outro. Deixaria a família com quem? Segui advogando. Entrei com 30 ou 40 mandados de segurança para reintegrar ao serviço público pessoas que foram demitidas sem processo administrativo com direito a defesa. Como o senhor retornou à política? Houve uma discussão com pessoas amigas, que tinham preocupações semelhantes, sobre o que poderíamos fazer. Achávamos a luta armada errada do ponto de vista estratégico. Seríamos amadores desarmados lutando contra pessoas profissionais armadas. Sabíamos já que o golpe fora dado por brasileiros, mas com auxílio internacional, por conta da Guerra Fria. Todos os países onde os governos eram independentes, mesmo sem serem comunistas, contrariando interesses norte-americanos, foram derrubados, como no caso do Brasil. Uma reação só no Brasil não ganharia e não seria mantida. A classe média estava muito dividida. O operariado menos dividido, mas a repressão foi muito violenta. Aqui em Pernambuco o sistema de repressão vinha do Estado Novo, praticamente não houve descontinuidade. Veio Arraes, mas depois,num tempo curtíssimo, veio o golpe. As estruturas da repressão continuaram. Quando o Exército começou a reprimir, a repressão aqui não teve o que aprender, já sabia tudo. Optamos pela oposição institucional, fui fundador da primeira direção do MDB. Mas fazer oposição era uma insanidade com nenhuma oportunidade de ganhar. Por que a classe média estava dividida? Porque havia propaganda massiva afirmando que aqui havia subversão. Saiu matéria n' O Globo com foto dos bacamarteiros de Caruaru, dizendo que eram uma milícia privada armada de Arraes para derrubar o governo, que dissolveriam o Exército regular e criariam uma milícia civil, como Cuba. Os bacamarteiros eram a prova que as pessoas estavam treinando (risos). Como foi ser deputado do MDB? Não queria ser candidato. Na época, eu era candidato a presidente da OAB-PE quando veio a eleição e me indicaram. Eu tinha um certo respeito, era professor de faculdade e eles insistiram para que eu fosse candidato. Mas tinha uma experiência política pelo trabalho do Ipsep. No Governo de Arraes, fui escolhido como secretário do ano. Mudei o quadro da instituição, Arraes me deu todo apoio e isso repercutiu. Recebi muita carta de viúva dizendo que votaria em minha candidatura. Em 1974, fui eleito deputado pela primeira vez. Nessa eleição eles achavam impossível que a

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É bom conhecer outras formas de ver o mundo

Entrevista a Camila Moura e Rafael Dantas   Embaixadora de Bangladesh fala da carreira e da experiência de vivenciar outras culturas Única pernambucana a ocupar o cargo de embaixadora, Wanja Campos, foi morar em Brasília quando ainda era criança, mas os laços com a terra natal nunca desapareceram. Desde que foi aprovada no concurso do Instituto Rio Branco, já passou por 10 países. A mudança mais recente ocorreu, em 2013, quando assumiu, em Bangladesh, o tão almejado posto de chefia das missões diplomáticas. De passagem no Recife, falou a Algomais, fez um balanço de sua carreira e revelou as curiosidades dos bastidores da vida dedicada à diplomacia. Qual sua relação com o Recife? Minhas origens são recifenses. Nasci no Recife e as recordações daqui estão presentes na minha memória. As minhas primeiras lembranças de infância são da casa da minha avó, no Espinheiro, com quintal, mangueira, carambola, pular cerca para brincar na casa dos vizinhos. Como foi a mudança para Brasília? Meu pai era engenheiro e, em 1963, logo no início de Brasília, quando começaram a importar profissionais para construir a cidade, meu pai foi para lá. Eu era pequenininha, deveria ter uns 4 anos. Então, toda a minha vida escolar foi em Brasília. Você manteve contato com Pernambuco? Todos os anos, eu, meus pais e meus irmãos passávamos as férias aqui. Conheci as melhores praias daqui, numa época, em que só havia casas de pescadores. Apesar, de termos ido morar em Brasília, sempre mantivemos os laços. Você também teve referências do Sertão na infância? Minha mãe é de Triunfo e meu pai, do interior da Paraíba. Naquela época, quando vínhamos de Brasília, muitas vezes, fazíamos a viagem de carro para que pudéssemos ir para o interior. Conheci o Sertão inteiro quando ainda era criança. Fui conhecendo o Brasil. Talvez, por isso, eu tenha tomado gosto em sair pelo mundo. Há referência do cangaço na sua família? O meu avô paterno, Chico Pinheiro, foi um cangaceiro paraibano e, com minha avó, Jarda, participou de muitas lutas e foi, por diversas vezes, perseguido, até ser assassinado. Minha avó, com medo que os filhos pudessem entrar numa vida de vingança, criou meu pai e meus tios de uma forma muito pacífica. Mas o cangaço sempre foi uma realidade muito presente nas nossas vidas. Temos uma visão distinta das pessoas das outras partes dos Brasil, que enxergam de uma maneira folclórica, sem entender as raízes e o que leva uma pessoa do bem, como era meu avô, a uma vida de fuga, de luta. Como surgiu o interesse pela carreira diplomática? Acho que a mosca me mordeu nessas viagens que fazia pelo Nordeste quando era criança. Da oportunidade de conhecer culturas diferentes e ter a sensação de descobrir algo novo. Na minha adolescência fiz intercâmbio para os Estados Unidos. Na época, eu achava que queria ser arquiteta, mas, quando eu voltei de viagem, decidi que queria fazer relações internacionais. Eram os primeiros cursos de nível superior na Universidade de Brasília. Fiz o curso, no entanto, ainda não pensava em diplomacia. Quando me formei, continuei estudando direito e comecei a ver que os principais postos com os quais eu imaginava que era trabalhar com relações internacionais estavam ocupados justamente por diplomatas. Então, fiz o concurso público para o Instituto Rio Branco e passei. Desde então, já são mais de 30 anos. Como foram os primeiros passos da carreira diplomática? Não é uma vida glamourosa, como as pessoas pensam. As mudanças exigem capacidade de adaptação trmenda. Os filhos e cônjuges sofrem com isso. O lado profissional para o diplomata é também uma estrada longa e que exige muita dedicação. Dizemos que estamos disponíveis 7 dias por semana, 365 dias por ano e 24 horas por dia. Não importa onde você esteja, se precisam, seja por causa de uma tragédia ou por simples fatos que acontecem em Bangladesh, onde estou agora, você precisa comparecer. Por exemplo, muitas vezes, os brasileiros chegam ao aeroporto e são informados que precisam de visto. Então, eles nos ligam de madrugada. Logo, é necessário você ter a noção que presta um serviço público, que exige um nível mais elaborado de preparo e atualização constante. E assim é a nossa carreira, a qual tem seis estágios: terceiro secretário, segundo secretário, primeiro, conselheiro, ministro e o último ponto embaixador. É uma longa carreira de sacrifício, mas da qual eu não me arrependo nenhum minuto. Mas há também o lado positivo? Sim, claro. Eu acho fascinante a possibilidade de morar em outro lugar e vivenciar o dia a dia. O que mais me encanta é a possibilidade de você conhecer e perceber outras formas de ver o mundo. Em Bangladesh, por exemplo, eu tenho aproveitado para conhecer os países da região. Fui a Myanmar. Viajei só e contratei uma guia. Conversando, ela me perguntou qual o dia eu tinha nascido. Respondi, mas, na verdade, ela queria saber o dia exato da semana. Lá, isso é tão importante que o dia da semana é incorporado ao nome próprio. Em Myanmar, o calendário da semana tem 8 dias e toda lua cheia é feriado! Isso para mim foi a coisa mais fascinante que eu ouvi nos últimos 30 anos. Então, você é obrigado a pensar de forma diferente. Quais os países onde morou? Logo após a formatura no Instituto Rio Branco, fazemos um estágio em alguma embaixada, normalmente, na América do Sul. O meu foi na Bolívia. Em seguida, fui para a Austrália, onde fiquei quase 6 meses. Depois, minha primeira missão permanente foi no Suriname, onde ocupei o posto de terceira secretária por mais de dois anos. Na sequência fui para Paris, Argel, Roma, Cidade do Cabo, Washington e Toronto e de lá fui para Bangladesh, em 2013. Em alguns momentos, também voltei para Brasília. Como fica a família nessa rotina? Atualmente, a minha família está completamente pulverizada mundo afora (risos). Meu marido também é diplomata e está em Brasília, em outra função. Temos duas filhas. Uma ficou em Toronto, no Canadá, porque quando

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