O pólo turístico do Sertão Pajeú: uma proposta viva
*Por Geraldo Eugênio (Foto: Rafael Dantas) Os municípios de Serra Talhada, São José do Belmonte, Santa Cruz da Baixa Verde, Triunfo, em Pernambuco e Princesa Isabel, na Paraíba, contam com todos os atributos para se tornar um polo regional de turismo, seja de ponto de vista paisagístico, histórico, culinário, turístico, educativo e de saúde. PERSONAGENS MARCANTES Em se falando de história não há como não considerar o mais importante personagem do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, nascido em Serra Talhada em 1987. O cangaço foi um movimento social, político e cultural que teve seu apogeu entre os anos 20 e 40 do século passado. Caracterizou-se pelo terror causado por seus bandos resultando em saques, mortes, estupros, agressões. Tais grupos eram formados à margem da sociedade, por motivos pessoais, familiares, crimes contra a honra, assassinatos, questões fundiárias, roubo de gado e outros motivos que faziam parte da sociedade local. A população sofrida e sem contato com os governos estava dividida entre os que acobertavam os crimes cometidos pela polícia e os “coiteiros” dos cangaceiros. Uma guerra surda que se estendia por grande parte do território nordestino consumindo recursos, vidas e a paz. A questão é que este Billy the Kid sertanejo se tornou em misto de justiceiro e bandido, alguns o vendo como um vingador e outros que o consideravam um simples meliante que cultuava a violência pela violência. Nesta região, o segundo ator a ser lembrado é o Coronel José Pereira Lima, de Princesa do Agreste, município paraibano contíguo a Triunfo que se tornou reconhecido por liderar a Revolta de Princesa, em 1930, contra o governo local e federal. Uma figura controversa, líder absoluto da região, eleito deputado estadual pela Paraíba por quatro mandatos. Dentre os aspectos mais interessantes e pouco elucidado em sua vida é a relação ambígua que exercia com o cangaço. Quando conveniente, dava proteção ao grupo ou os rejeitava. Foi um administrador meritoso e produtivo, havendo investido em várias obras públicas na região. Marcou época e seu nome está definitivamente ligado ao coronelismo que exerceu forte influência na região na primeira metade do século passado em todo Nordeste. O terceiro personagem é o escritor Ariano Suassuna. Paraibano com raízes culturais e efetivas em Pernambuco, local que adotou e foi adotado. Ariano deu vida a São José do Belmonte com seu romance O Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, uma saga que não é apenas um livro, mas um manifesto à identidade nacional. A obra mescla, em sua narrativa, um megalomaníaco que se diz rei, um local de sacrifício e a espera eterna pelo retorno de D. Sebastião, o jovem monarca português que ao morrer em uma batalha no Marrocos, em 1578, e que por séculos cultivou o sentimento de redenção e da volta do messias em Portugal e no Brasil. Este rochedo, a Pedra do Reino está localizada nesse município, que também é um dos mais importantes centros de produção de energia fotovoltaica em todo o País. INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA Não dá para se falar em turismo sem levar em conta o fator logístico. O turista para chegar a este reino encantado terá que viajar do Recife a Serra Talhada pela rodovia BR-232, cujo estado de conservação deixa a desejar. Além disso, um projeto de duplicação dessa espinha dorsal de Pernambuco foi negligenciado por mais de 20 anos, desde que, no segundo mandato de Jarbas Vasconcelos como govenador, essa via foi duplicada entre o Recife e o município de São Caetano, com uma extensão de 147 quilômetros. Atualmente o percurso Recife- -Serra Talhada, de 410 km é realizado ao redor de seis horas, o que poderia ser um tempo bem mais curto, contando-se com uma estrada apta a um tráfego sem interrupções e engarrafamentos. Como alternativa, há um fato importante e positivo, o aeroporto municipal de Serra Talhada. A cidade conta com voos diários para o Recife, à exceção dos dias em que o voo é cancelado sem aviso prévio. O que há de novo é a conclusão das obras de alongamento da pista, cercas e estacionamento, o que permitirá o uso de aeronaves com maior capacidade de transporte. Chegando-se em Serra Talhada, as distâncias são mínimas para esse percurso turístico. Até Princesa Isabel, 55 quilômetros; Triunfo, 31 quilômetros; Santa Cruz da Baixa Verde, 29 quilômetros, ao norte; e São José do Belmonte, 66 quilômetros, a oeste. A região conta com uma infraestrutura de hospedagem consolidada, particularmente devido ao fato de Triunfo, por sua história, clima e cenários, se constituir em uma atração por si só. Serra Talhada, em sendo um polo de desenvolvimento regional, tem uma rede hoteleira com aproximadamente dois mil leitos. Logo, a região oferece as condições básicas para passar a ter no turismo uma opção econômica real. HOSPITALIDADE E CULINÁRIA Há uma característica ímpar por parte do sertanejo, seu caráter cordial e hospitaleiro, algo que todo turista quer e se sente recompensado. Sem falar na culinária típica que envolve a galinha de capoeira, o arroz vermelho, o bode assado, o angu, o manguzá salgado, o cuscuz, a carne de sol, a rapadura, o mel, os queijos de coalho e manteiga artesanais, o caldo de mocotó e uma tilápia frita especial. COM TUDO ISTO, O QUE FALTA? As lideranças locais devem avaliar o ativo com que contam. Lampião, por exemplo, com Padre Cícero, Luiz Gonzaga e Antônio Conselheiro fazem o universo das figuras mais cults no Sertão. Mas, por incrível que pareça, não tem sido objeto de ação turística, a exemplo do que ocorre com seu nome em todo o Nordeste e em especial no Estado de Sergipe, onde foi morto na Grota de Angicos e em Alagoas, onde ele passou boa parte de seu tempo de cangaço nas barrancas do São Francisco. *Geraldo Eugenio é professor titular da UFRPE-UAST (Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada).
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