*Por Francisco Cunha
No dia do aniversário do Recife tive a gratíssima satisfação de participar da inauguração da quarta e última etapa do Parque das Graças que faz parte, junto com o Jardim do Baobá, do chamado “trecho do encantamento” do Parque Capibaribe, de longe o mais importante plano urbanístico da história do Recife.
O Parque das Graças é um exemplo mais do que perfeito do que podem vir a ser as margens (que o cronista inglês Tollenare chegou a chamar no Século XIX de “risonhas”) do Rio Capibaribe no Recife, desde sua entrada na Várzea, até sua chegada ao Oceano Atlântico no centro da cidade. Percorrendo uma distância de cerca de 15 km (30 km se contarmos as duas margens) e conectando todas as demais áreas verdes, parques e praças ao longo do seu trajeto (como é o caso, por exemplo, dos parques do Caiara, de Santana, da Jaqueira e do Derby, no trecho do Bairro do Cordeiro até o centro).
Nas Graças se pode ver com clareza, nas ruas transversais à via-parque implantada na margem do rio, sobretudo na Rua das Pernambucanas, o emprego do conceito de “ruas de infiltração” que carrega as mesmas características do espaço público de qualidade, da borda para dentro do bairro. Inclusive, essa característica de qualidade da borda, junto com sua “infiltração” bairro a dentro e sua conexão com as outras áreas verdes do entorno, é tão poderosa que chegou a fomentar a hipótese da transformação do Recife numa cidade-parque até o seu aniversário de 500 anos como capital mais antiga do País, em 2037. Essa hipótese em especial está sendo objeto de uma pesquisa específica feita em parceria pela UFPE e pela Prefeitura do Recife.
Acontece, todavia, que no caminho da concretização da hipótese- sonho da cidade-parque coloca-se a exigência crucial de limpeza do Rio Capibaribe que, ao contrário do que se chegou a pensar em determinado momento, antes da realização da pesquisa que produziu o Parque Capibaribe, não está “morto” mas, sim, doente se sujeira. Sujeira proveniente de esgoto e de muito lixo jogado pela população.
No que diz respeito ao esgoto, canalizado em profusão para os cursos d’água da cidade e que termina nos seus principais rios, em especial no Capibaribe, cabe-nos cobrar das autoridades estaduais, sobretudo no que diz respeito ao cumprimento das metas da PPP do saneamento que precisa mostrar claramente a que veio, com metas e indicadores tangíveis, transparentes e acompanháveis pela sociedade que, inclusive, sejam capazes de desfazer a impressão de que nada está sendo feito no sentido de reduzir, de forma gradual mas efetiva, a poluição orgânica dos cursos d’água da Região Metropolitana do Recife.
Já em relação a lixo jogado pela população nos cursos d’água da cidade e que vai parar no Capibaribe, necessário se faz a instalação de uma campanha permanente de educação ambiental, em todos os níveis. E tudo leva a crer que o momento para começar é justamente agora porque o Parque das Graças está ajudando a trazer as pessoas para perto do rio e, por conseguinte, tornando visível para muito mais gente a imundice imperante.
Antes, menos pessoas viam o rio de perto e, então, valia aquela velha história de “o que o olho não vê o coração não sente”. Muita gente tem me comentado que não sabia que o Capibaribe estava tão sujo… “Até geladeira vi passar boiando”. Sim, geladeira, sofá, colchão, além de uma quantidade absurda de plástico…