“A ciência é levada a sério em Israel. Essa é a grande lição para o Brasil”

Israel é o País que mais vacinou no mundo. Apesar de ter um território semelhante ao do Sergipe e uma população menor que a de Pernambuco, eles estão muito à frente do Brasil também no desenvolvimento tecnológico para descoberta de uma vacina para prevenção da Covid-19. É um dos grandes exemplos globais do enfrentamento à pandemia, que associou o lockdown e a imunização em massa da população, com uma forte liderança do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Para comentar as lições de Israel para o Brasil, voltamos a conversar com a pernambucana Débora de Souza Leão, que mora em Haifa, no Norte do País. Já vacinada, ela fala sobre suas impressões do sucesso da campanha de imunização e do enfrentamento da pandemia. Ela é economista e trabalha em uma empresa de segurança cibernética, que atua em 15 mercados internacionais.

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Qual a principal lição da campanha de vacinação de Israel para o Brasil?

Acredito que a principal lição da campanha de vacinação de Israel para o Brasil seja a valorização da ciência e da inovação tecnológica. E isso foi o principal motivo de eu buscar Israel para continuar progredindo em minha carreira acadêmica. No geral, a sociedade israelense leva a sério as recomendações dos cientistas, pois há um respeito às autoridades em determinados assuntos. Por exemplo, quando houve os primeiros avisos dos médicos de Wuhan na China sobre o surgimento de um novo vírus, ainda desconhecido pelos cientistas do mundo todo, Israel não subestimou o problema e começou a se preparar para enfrentar o novo cenário mundial. O país foi um dos primeiros do mundo a restringir voos de algumas províncias chinesas e a implementar o isolamento social o mais rápido possível para proteger seus cidadãos. Com isso, em abril de 2020 Israel foi classificado como o país mais seguro do mundo em relação ao combate ao novo coronavírus, segundo o Deep Knowledge group.

De fato, a ciência é levada a sério aqui. De acordo com os dados do Banco Mundial, há muitos anos, Israel é, dentre todos os países, o que mais gasta, proporcionalmente ao PIB, em pesquisa e desenvolvimento. Muitas Universidades, centros de pesquisa, museus e observatórios recebem os investimentos públicos e privados e, constantemente, desenvolvem novas tecnologias. Por exemplo, o Instituto de Pesquisa da Galileia (MIGAL) criou uma vacina contra o coronavírus aviário e está fazendo a adaptação para os humanos. Em fase avançada de testes, Israel deve, em breve, estar fornecendo ao mundo sua própria vacina contra a COVID-19. Sem falar na parceria do Ministério da Saúde com dois centros médicos israelenses para o avanço dos testes da promissora proteína para a cura do câncer cuja inalação tem curado mais de 90% dos pacientes com a COVID em hospitais. A nova droga pode trazer alívio aos hospitais superlotados do mundo inteiro, pois ajuda na recuperação dos pacientes graves.

Como funciona o isolamento social em Israel?
Percebo que o governo e a população ouvem as recomendações de médicos e cientistas para evitar multidões, usar máscaras, manter ambientes ventilados… Antes mesmo do primeiro caso confirmado da doença, todos os funcionários dos hospitais já usavam máscaras e estavam preparados para tratar dos pacientes com COVID-19 na área reservada dos hospitais para isso. Essa antecipação ao problema me chamou muito atenção e fica evidente até hoje quando se percebe que Israel é o país com a maior taxa de vacinação per capita do mundo. Aqui, a prevenção é considerada o melhor remédio.

Qual é o grande diferencial do enfrentamento a pandemia em Israel?
Acredito ser o desenvolvimento de soluções inovadoras para tratar o problema. Várias empresas israelenses estão desenvolvendo novas tecnologias para isso. Por exemplo, a startup Vocalis Health desenvolveu um aplicativo capaz de detectar a piora dos pacientes infectados à distância, apenas medindo acúmulo de fluidos pelo som da voz. Já a startup israelense Aura Air exportou para o Reino Unido purificadores de ar para implantação em ônibus, levando esperança para a indústria do turismo. Outra inovação foi o aplicativo Hamagen: ele marca os lugares onde pessoas infectadas passaram, dessa forma, a população fica sabendo se entrou em contato com o vírus ou não. Os exemplos são muitos! Isso porque Israel possui o segundo maior centro de inovação do mundo, o Silicon Wadi, que só fica atrás do Silicon Valey, nos Estados Unidos. A inovação também atinge políticas públicas, como o passe verde para os vacinados, invenção israelense atualmente estudada pelo Reino Unido e pela Comissão Europeia como exemplo a ser copiado em outros países.

Eu vejo o Brasil com muitos cientistas qualificados e com grande potencial de trazer ideias originais para o enfrentamento de problemas como a pandemia. Nesse sentido, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está sendo um exemplo na conduta científica ao liderar, desde o sequenciamento genético do vírus até a produção em larga escala da vacina. Valorizar esses centros de tecnologia de ponta, que o Brasil também tem, me parece uma medida estratégica para enfrentar o problema do coronavírus e outros que podem aparecer no futuro. Vejo o Recife desenvolvendo o Porto Digital e usando os Campus das Universidades para a vacinação da população e isso me enche de esperança.

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