Para quem chega às megalópoles chinesas, como Pequim e Xangai, ou mesmo às cidades de menor porte, o fenômeno das bicicletas compartilhadas chama a atenção à primeira vista. Amarelas, azuis, laranjas, verdes, elas estão por todas as partes: calçadas, saídas das estações de metrô, de trem e rodoviárias, estacionamentos.
Relatório divulgado pelo jornal oficial da China Diário do Povo no fim de julho mostrou que, no segundo trimestre deste ano, os índices de congestionamento nas principais áreas urbanas chinesas registraram redução, em média, de 8% em comparação com o mesmo período de 2016 , graças à popularidade das bicicletas compartilhadas. Em Pequim, os engarrafamentos diminuíram 4,1%.
O estudo, elaborado pelo sistema de navegação AutoNavi em cooperação com o Ministério dos Transportes e a Universidade Tshinghua, apontou que as bicicletas compartilhadas mudaram os hábitos de deslocamento das pessoas, o que levou à redução no consumo de combustíveis.
Integrado aos modais de transporte público, o sistema de compartilhamento de bicicletas é uma alternativa para retirar veículos das ruas e reduzir a poluição nas cidades. Em 2017, estima-se que o uso das bicicletas compartilhadas poupe o equivalente a 1,4 milhão de toneladas de combustível, representando 1,1% do consumo do país asiático.
De acordo com o Ministério dos Transportes, mais de 1 6 milhões de bicicletas compartilhadas estão nas ruas de todo o país, e o número de usuários registrados supera 130 milhões.
A bicicleta é destravada com um aplicativo no telefone celular por meio do QR Code (do inglês, Código de Resposta Rápida). Essa tecnologia permite a leitura automática do código pela câmera fotográfica do smartphone. O aluguel custa, em média, 1 yuan (R$ 0,50) a hora. Quando o ciclista termina o trajeto, ele estaciona a bicicleta e aciona uma trava.
Ao contrário de outros países, como o Brasil, em que há estações para pegar ou deixar as bicicletas, na China não há pontos fixos para estacioná-las. Por isso, elas estão por todas as partes, o que traz praticidade, mas também problemas, como estacionamento de forma inadequada e ocupação excessiva do espaço público.
Zhang Yunning, de 22 anos, recém-formada em filologia hispânica pela Universidade de Pequim, acredita que o serviço é muito conveniente, pois permite que ela se locomova com facilidade em trechos curtos, complementa o transporte público, além de ter melhorado um pouco a quantidade de engarrafamentos em Pequim, ainda que o trânsito continue intenso.
Mas ela vê alguns problemas nesse sistema que se popularizou há dois anos. “Há tantas bicicletas que se torna um obstáculo dirigir e andar nas ruas. Também há muitas bicicletas com defeito que não são consertadas rapidamente”, disse. “É um fenômeno bastante recente e ainda não há muitas normas”, completou.
Na tentativa de melhorar o serviço, o Ministério dos Transportes divulgou um documento com diretrizes para os governos municipais e para as empresas na última quinta-feira (3). Entre as medidas, administrações locais e companhias deverão providenciar espaços adequados para estacionamento, e menores de 12 anos serão proibidos de usar bicicletas como meio de transporte.
As duas principais empresas do setor são a Ofo e a Mobike, estabelecidas em 2015 e 2016, respectivamente, que respondem por mais de 90% do mercado chinês. Yu Xin, um dos cinco cofundadores da Ofo, conta que a ideia do negócio surgiu entre colegas da Universidade de Pequim e, no início, começaram o serviço com mil bicicletas apenas dentro das universidades da capital chinesa. Hoje, a Ofo tem 6 milhões de bicicletas em cinco países e 120 cidades. Já a Mobike está em 100 cidades em países como Reino Unido, Japão e Cingapura, além da China.
(Agência Brasil)