Cinema e conversa

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Wanderley Andrade

Crítica: Artista do Desastre

*Por Houldine Nascimento

Era de se esperar que James Franco recebesse uma nomeação ao Oscar de Melhor Ator por sua onipresença em “Artista do Desastre” (The Disaster Artist, EUA, 2017), que, além de protagonizar, produz e dirige. Na hora das indicações, contudo, seu nome foi preterido em razão das diversas acusações de assédio sexual que estouraram. As denúncias tomaram corpo, sobretudo, após Franco vencer o Globo de Ouro de Ator de Comédia.

Assim, o título do filme se confunde com a própria trajetória de James Franco. No auge, ele estragou tudo. O caso prejudicou a distribuição do longa-metragem. A trama de “Artista do Desastre” se concentra nos bastidores do cultuado “The Room”, considerado por muitos “o pior filme de todos os tempos”. As trapalhadas da produção são colocadas em evidência a partir das ações do esquisito Tommy Wiseau (Franco).

Cansado de ser rejeitado nos inúmeros testes de atuação a que se submete, ele decide produzir e estrelar o próprio filme. Para isso, conta com a ajuda de Greg Sestero (Dave Franco, irmão de James), um aspirante a ator que conhece numa classe de teatro em San Francisco. Os acontecimentos são vistos pela perspectiva de Greg.

Juntos, eles vão viver em Los Angeles e põem em prática o projeto, que traz Tommy e Greg como protagonistas. Na cidade, Greg faz novas amizades e arranja uma namorada (Alison Brie, casada com Dave), o que desperta ciúmes em Tommy, cada vez mais solitário. Em certo sentido, isso afeta as gravações de “The Room”, que atrasou por semanas, mostrando a falta de rumo de Tommy na hora de lidar com os atores e o próprio roteiro. As confusas escolhas dele irritam a equipe, gerando conflitos, inclusive com o amigo.

Um projeto caro e bancado inteiramente por Tommy Wiseau, “The Room” custou 6 milhões de dólares e rendeu apenas 1,8 mil nas duas semanas que ficou em cartaz numa sala de Los Angeles. No entanto, o filme acabou ganhando o status de cult graças às cenas sem sentido e se tornou uma comédia involuntária. Por anos, plateias imitaram passagens e reproduziram diálogos do longa.

Em “Artista do Desastre”, James Franco promove o resgate de tudo isso. Há participações de amigos e figuras marcantes do cinema, como o diretor Judd Apatow, as atrizes Sharon Stone, Melanie Griffith, além dos atores Zac Efron, Bob Odenkirk e Seth Rogen, fiel escudeiro de James. O filme funciona no seu propósito maior, que é o de ser uma comédia, provocando risadas no público, que assiste incrédulo ao comportamento de Tommy dentro e fora do set de filmagem.

James Franco vai bem ao absorver e mostrar ao espectador elementos da personalidade de Tommy Wiseau, no que possivelmente é a maior atuação de sua carreira. É um projeto pessoal em que se arrisca por completo. Não é fácil encarnar um personagem caricato, por mais simples que pareça.

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles, responsável por distribuir os prêmios do Oscar, não ignorou o filme por completo e o indicou na categoria de Roteiro Adaptado. A história toma como base o livro homônimo escrito por Greg e o jornalista Tom Bissell relatando as experiências de Greg em “The Room”. A adaptação da obra ficou a cargo de Scott Neustadter e Michael. H. Weber.

Não bastasse a polêmica do assédio, Franco também está sendo processado pelo primeiro roteirista de “Artista do Desastre”, Ryan Moody, que alega ter sido enganado. Um “sabor especial” para o Brasil é a presença da bem sucedida canção eurodance “Rhythm of the night”, da carioca Olga Maria de Souza, famosa mundialmente como Corona.

*Em Pernambuco, o filme está em cartaz no Cinépolis Guararapes.

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