Crítica| O Banquete - Revista Algomais - a revista de Pernambuco
Cinema e conversa

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Wanderley Andrade

Crítica| O Banquete

O Banquete, nova aposta da diretora carioca Daniela Thomas, pode ser considerado, no mínimo, ousado. A começar pelo cenário, na verdade, único de todo o filme: uma sala de jantar. Na primeira cena, uma planta carnívora ataca e devora uma mosca: prenúncio do que iremos presenciar mais adiante.

Na história, um grupo de amigos está (teoricamente) reunido para comemorar os dez anos de casamento de Mauro (Rodrigo Bolzan), respeitado editor de jornal, e Bia (Mariana Lima), famosa atriz de teatro. Entretanto, Mauro não tem muito a comemorar: poderá ser preso a qualquer momento por publicar no jornal uma carta aberta contra o presidente da república. Soma-se a isso a presença no jantar de sua amante, a crítica de artes do jornal, Maria, interpretada pela paulistana Fabiana Guglielmetti.

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Na verdade, o jantar serve apenas de pretexto às reais intenções da anfitriã do encontro, Nora (Drica Moraes). A cada prato ou taça de vinho servidos, um novo segredo é revelado, constrangendo os convidados.

 

Drica Moraes interpreta Nora, anfitriã do jantar.

 

O suspense é reforçado pelo competente trabalho de fotografia do peruano Inti Briones, que também trabalhou com Daniela no longa Vazante. A câmera trêmula e sempre muito próxima aos atores transporta o espectador para dentro da cena, ampliando a experiência de tensão e angústia. Soma-se à fotografia a boa trilha sonora, composta por frases de jazz.

A proposta de O Banquete é bem parecida com a do filme espanhol Perfectos Desconocidos, disponível na Netflix. A ideia de utilizar uma sala de jantar como único cenário e de fazer do encontro ocasião para tratar, sem pudor, de temas como sexo e traição torna as duas produções bem parecidas.

Além dos atores já citados, completam o elenco: Caco Ciocler, como Plínio, advogado alcoólatra, esposo de Nora, Chay Suede, que interpreta o garçom, Ted, Bruna Linzmeyer, no papel de uma stripper, a Batwoman e, por fim, Gustavo Machado, encarnando o colunista gay, Lucky, personagem que traz alívio cômico à história.

Polêmica

Em setembro do ano passado, num debate no Festival de Brasília, a diretora carioca Daniela Thomas recebeu diversas críticas por Vazante. Alguns a acusaram de retratar com superficialidade a escravidão e os personagens negros no filme. Mês passado, mais um fato relacionado a festivais, desta vez ao de Gramado. O longa O Banquete foi retirado da disputa pela diretora em função da morte de Otávio Frias Filho, Publisher da Folha de São Paulo. A história é inspirada em alguns acontecimentos verídicos corridos na década de 90, entre eles o da carta aberta publicada por Otávio Frias em abril de 1991 contra o então presidente da república Fernando Collor.

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