Cuidado, rede social vicia

Você consegue ficar dois dias num lugar sem internet, sem possibilidade de acesso às redes sociais? Se respondeu “não”, é bom ficar alerta. Estudos científicos comprovam que a compulsão por checar constantemente o feed de mensagens pode ser um sinal de vício. Na verdade, psiquiatras estão de orelha em pé com o impacto desses aplicativos na saúde mental. Pesquisa feita pela RSPH (Real Sociedade de Saúde Pública do Reino Unido) e pela Universidade de Cambridge revelou que jovens que passam mais de duas horas por dia no Facebook, Twitter e Instagram são mais propensos a sofrer de angústia, ansiedade e depressão.

Tal qual o viciado em álcool não consegue ficar no primeiro gole, os viciados digitais não resistem a permanecer horas na web. “Mesmo fazendo esforço para reduzir o tempo, essas pessoas não conseguem resistir, eventualmente até se sentindo culpadas. O comportamento compulsivo se dá pela dificuldade em controlar o impulso de checar se há algo novo, interessante, quantas curtidas recebeu, se o seu comentário foi retrucado”, constata o psiquiatra Amaury Cantilino.

Mas calma, o fato de passar algum tempo diante de tablets e smartphones não quer dizer que você seja um viciado ou depressivo. Mas, então, quando é que este hábito se torna nocivo à saúde? “É importante verificar o quanto as redes sociais impedem a pessoa de atender suas demandas produtivas e de circulação social”, aponta Marina Assis Pinheiro, professora do Departamento de Psicologia da UFPE e da pós-graduação de Psicologia Cognitiva da universidade. Portanto, se sua produção no trabalho ou sua relação com as pessoas foi afetada, é bom ficar atento.

O certo é que há estudos que associam tempo de exposição a redes sociais e sintomas depressivo-ansiosos. Mas, segundo Cantilino, não se sabe exatamente o que surge primeiro, se o excesso de internet provoca a depressão ou se pessoas deprimidas buscam mais este tipo de ferramenta para lidar com a solidão ou a ansiedade social. A grande dica é não deixar que o mundo virtual elimine os relacionamentos pessoais mais profundos, que são protetores da saúde mental. “Quando passamos por dificuldades, nada melhor do que uma conversa com um bom amigo. As redes sociais não são o melhor espaço para desabafos”, previne Cantilino. Há ainda o agravante de quem se expõe na rede estar sujeito a toda sorte de comentários grosseiros e extremados.

Sem falar nas páginas e grupos virtuais que estimulam comportamentos danosos, como hábitos alimentares mórbidos, incitamento à agressividade e até incentivo à automutilação e ao suicídio. Um tipo de isolamento extremo, que limita os relacionamentos ao mundo da web, tem sido observado em jovens. São os chamados hikikomori, fenômeno verificado originalmente no Japão, onde se tornou uma epidemia atingindo 1 milhão de pessoas. Mas também é observado em várias partes do mundo, incluindo em Pernambuco. “Tenho visto algumas pessoas com características típicas”, destaca Cantilino.
Sem amigos e afastado dos pais e parentes, os hikikomori (significa “ficar de lado” em japonês), passam a maior parte do tempo em seus quartos. Trocam o dia pela noite para evitar se relacionar com o mundo exterior. O único contato é feito pela web, geralmente, utilizando perfis falsos nas redes sociais.

Especialistas notam também a influência desses aplicativos na autoestima de pessoas, que acabam se comparando com o que vê postados nos perfis. “É curioso como boa parte da autoavaliação do bem-estar subjetivo se dá por comparação. O mesmo ocorre com a avaliação da nossa adequação física e da nossa satisfação com a vida. Nesse sentido, as pessoas se sentem felizes ou não tomando como referência a situação de quem está mais próximo”, explica Cantilino.

Essa realidade é ainda mais forte entre adolescentes e jovens. “A adolescência é o momento em que se começa a experimentar intensidades afetivas fora da família, o jovem vai perguntar o que ele vale para o outro da sua idade”, destaca Marina. O problema, ressalta Cantilino, é que o Instagram e o Facebook tendem a dar duas falsas impressões: “a de que o outro que postou a mensagem é meu próximo e de que a vida dele é melhor do que a minha”.

E a vida como ela é não está estampada nas redes sociais. Em geral, as pessoas postam seus sucessos, seus sorrisos, mas não suas incertezas, seus fracassos. “Cuidadosamente escolhem as fotos em que ficaram mais fotogênicas, mais saudáveis, mais ‘ensolaradas’. Para um adolescente, que está tomando isso como referência do que ele é e representa, pode ser complicado atingir este padrão como modo contínuo de vida”, adverte o psiquiatra.

Foi o que aconteceu com a estudante de publicidade Bárbara Sales, de 20 anos. Ela conta que sempre se achou gordinha, o que não a impedia ter vida social. As coisas começaram a mudar, aos 16 anos, quando passou a ficar mais ativa nas redes sociais. “Comecei a me preocupar mais com a aparência e a me espelhar nos outros”, relata a jovem.

Bárbara se deprimiu por não se achar magra como as pessoas que acompanhava no Instagram. Recuperou-se depois de fazer psicoterapia. Foto: Tom Cabral

Bárbara pedia ao pai para pagar a academia, mas se boicotava, não frequentava os treinos porque ninguém da sua turma malhava. “Não queria ser a única do meu grupo a ter esse compromisso para emagrecer”, justifica. Em compensação, passou a acompanhar compulsivamente pelo Instagram o processo de emagrecimento de outras pessoas. O aplicativo abriga vários perfis que orientam como ser “fitness”, nem sempre com informações balizadas por um profissional de saúde.

Logo Bárbara passou a se “desmerecer”, porque não conseguia emagrecer em duas semanas como preconizavam as “modelos” do aplicativo. “No Instagram você deseja ter o corpo de outra pessoa e, aí, você vai se frustrando. Eu queria ter o corpo da Bruna Marquezine, o que era impossível”. Com o passar do tempo, ela entrou em depressão, a ponto de não querer ir ao shopping com familiares ou frequentar festas de amigos. “Não me sentia bem na roupa que estava vestindo”.

Para sair do baixo astral, Bárbara recorreu à psicoterapia. “Aí que descobri que posso ser magra, mas dentro do meu tipo físico, sem ter que me espelhar em ninguém”, diz, aliviada. Ela chegou a perder oito quilos, recuperou alguns, mas mantém firme sua dieta alimentar, sem se importar em quanto tempo chegará a seu peso ideal. Bárbara até abriu uma conta no Instagram para relatar sua experiência.

Não foi à toa que essa plataforma foi a que mais mexeu com o emocional de Bárbara. Pesquisa da RSPH, na Grã-Bretanha, mostrou que o Instagram foi considerado a pior rede social em relação a seu impacto sobre a saúde mental dos jovens. Na enquete, 1.479 pessoas, de 14 a 24 anos, avaliaram aplicativos em quesitos como ansiedade, depressão, solidão, bullying e imagem corporal. O resultado demonstra a força da imagem no emocional das pessoas, já que o Instagram é uma rede social de postagem exclusiva de fotos e vídeos.

Diante do número de pessoas com a saúde mental abalada pelas redes sociais, realizadores do estudo da RSPH defendem que empresas proprietárias desses aplicativos exibam alertas toda vez que ocorresse uso excessivo da plataforma. Também sugerem que seja sinalizada a foto alterada digitalmente no caso de redes de celebridades, modelos e propaganda de marcas.
Para além das medidas adotadas pelas gigantes do Vale do Silício, também é importante que a pessoa deprimida ou viciada por esses aplicativos reflita sobre as condições emocionais que possibilitam estar vulnerável no ambiente virtual. Vale ainda um alerta para os pais se aproximarem dos filhos e ficarem atentos a qualquer comportamento antissocial deles. “É importante se perguntar: por que as redes sociais tomaram este lugar?”, aconselha Marina.

O fato é que esses aplicativos são um caminho sem volta, até porque oferecem contribuições importantes para as relações humanas. “Uma vez bem utilizados, podem facilitar a coesão, a disseminação de boas ideias, a criatividade… O importante é que não se abra mão do tempo para o sossego, para uma conversa a dois, para a convivência familiar, para a apreciação do que se passa ao nosso redor”, recomenda Cantilino. Fica a dica!


Fique ligado na postura

De cada 10 pessoas que chegam ao consultório de Leonardo Monteiro, ortopedista do Hospital Jayme da Fonte, quatro têm dores na coluna cervical, aquela região logo no início das costas, próxima ao pescoço. Esse contingente inclui até crianças.
A maioria sofre da chamada text neck (numa tradução livre seria “pescoço de texto”), originada da postura inadequada ao utilizar smartphone ou tablet.

“O grande problema desses dispositivos é quando se passa muito tempo numa posição e executando o mesmo movimento”, explica o médico que é membro Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. No caso do uso do celular, é comum a pessoa permanecer durante muito tempo com a cabeça baixa, teclando no aparelho.
Em consequência, ocorre um desgaste da articulação da cervical e sobrecarga da musculatura adjacente e dos ombros. A longo prazo pode levar à artrose.

“Isso acontece porque a cabeça pesa entre 4,5kg a 5,5kg e quando a baixamos, esse peso tende a aumentar. Sabe-se, que numa inflexão a 60 graus, ela passa a pesar até quatro vezes mais, ou seja passar a ter 20 kg”, esclarece o especialista que também é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Joelho. Tem mais: teclar o smartphone repetidas vezes pode levar à tendinite.

COMO EVITAR
Para evitar dores nas costas e nas mãos, a dica é manter o celular na altura dos olhos com a cabeça reta e os cotovelos apoiados e não ultrapassar mais de meia hora numa mesma posição. “Além de corrigir a postura, é recomendável fazer alongamento e exercício físico, tanto aeróbico, quanto anaeróbico”, acrescenta o ortopedista.
A atividade física oxigena a musculatura e a fortalece, mantendo o equilíbrio do corpo. Em caso de dor, principalmente que comprometa a vida no cotidiano, deve-se procurar um especialista.

Por Cláudia Santos (claudia@algomais.com)

Deixe seu comentário
anúncio 5 passos para im ... ltura Data Driven na sua empresa

+ Recentes

Assine nossa Newsletter

No ononno ono ononononono ononono onononononononononnon