Aumento do consumo por data centers exige resposta rápida e sustentável da infraestrutura elétrica brasileira; Empresas como a Kroma Energia investem em renováveis e armazenamento para atender às novas exigências do mercado digital
O avanço acelerado da Inteligência Artificial tem provocado transformações profundas em diversos setores. Entre elas, a crescente pressão sobre a infraestrutura energética global chama atenção de especialistas e operadores do sistema elétrico. De acordo com o Lincoln Laboratory, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), até 2030, os data centers - equipamentos essenciais para o funcionamento da IA - podem consumir até um quinto da energia elétrica gerada no mundo. O aumento expressivo já começa a gerar impactos no planejamento da expansão energética, especialmente em países que, como o Brasil, apostam em fontes renováveis.
Relatório recente do Departamento de Energia dos Estados Unidos destaca que o consumo de energia elétrica por data centers no país triplicou nos últimos dez anos e pode dobrar ou até triplicar na próxima década. O fenômeno é impulsionado principalmente pelas aplicações de IA generativa, que exigem uma carga computacional muito superior à de serviços digitais tradicionais.
“A demanda dos data centers é contínua, ou seja, precisa ser atendida em tempo integral, o que contrasta com a intermitência de algumas fontes renováveis, como solar e eólica. Esse descasamento exige novas soluções de flexibilidade para o sistema elétrico, incluindo o uso de baterias e outras formas de armazenamento”, afirma Filipe Godoy Souza, gerente de Geração da Kroma Energia.
No Brasil, que possui uma matriz elétrica majoritariamente limpa, a expansão da geração renovável tem sido estratégica para garantir o suprimento diante da transformação digital. A Kroma Energia, empresa com 17 anos de atuação no setor, está entre as que buscam ampliar a oferta de energia a partir de fontes sustentáveis. A companhia tem 5,7 GW em projetos de geração renovável em operação ou ainda em desenvolvimento e prevê alcançar 480 MWp de capacidade instalada até o final de 2026, através da modalidade de geração centralizada.
Entre os projetos em curso está o Complexo Fotovoltaico Arapuá, em construção em Jaguaruana (CE), com capacidade de 248 MWp e início de operação previsto para 2026. Outros empreendimentos incluem o Complexo Solar São Pedro e Paulo (PE), já em operação, e o Complexo Colinas (PE), com previsão de entrada em funcionamento também em 2026 - ambos em parceria com a Elétron Energy. A empresa também investe em Geração Distribuída em diversos estados do Nordeste e tem meta de possuir uma capacidade instalada de 20,2 MWp em operação até o final deste ano.
“O crescimento da IA e o papel dos data centers nesse processo colocam novos desafios para a expansão da geração. A coordenação entre oferta e demanda precisa considerar não apenas o volume de energia, mas também a sua disponibilidade ao longo do tempo. A IA pode ser aliada também na gestão da operação das usinas, trazendo mais eficiência à produção”, afirma Filipe Godoy, destacando que “a otimização nos custos com energia é particularmente importante para os data centers, tendo em vista que representa entre 40 e 60% dos seus custos operacionais”.
ARMAZENAMENTO
Além da geração, soluções de armazenamento energético ganham importância estratégica. A Kroma tem desenvolvido projetos que integram sistemas de baterias às usinas solares. Para Godoy, “a estabilidade do sistema elétrico diante da eletrificação crescente e da digitalização exige a diversificação das tecnologias e a modernização da infraestrutura”.
A demanda por energia dos data centers no mundo pode ultrapassar 1.000 TWh até 2026, segundo a Agência Internacional de Energia - mais que o dobro do consumo anual do Brasil. “A digitalização avança em ritmo acelerado, e o setor elétrico precisa acompanhar, equilibrando segurança energética, viabilidade econômica e compromisso ambiental”, conclui Filipe Godoy.