Ataques sexistas contra a ministra Marina Silva durante audiência revelam desafios ainda enfrentados por mulheres em espaços de poder no Senado Federal.
*Por Rafael Dantas
Durante uma audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi alvo de ataques misóginos e sexistas que interromperam o debate e evidenciaram a persistência da violência de gênero no ambiente político. A ministra teve seu direito de resposta cerceado, com o microfone cortado em meio às intervenções, além de ouvir afirmações que a mandavam “se colocar no seu lugar”, expressão que representa o machismo estrutural que ainda permeia as relações de poder no país. O episódio expôs a dificuldade que mulheres enfrentam para ocupar e serem respeitadas em espaços públicos e decisórios.
Além do ataque direto à ministra, o ocorrido revelou uma violação clara do Regimento Interno do Senado, que assegura o direito à tréplica em debates legislativos, o que não foi respeitado durante a sessão. A situação escancarou não apenas o desrespeito institucional, mas também a tentativa de silenciamento de uma voz feminina que ocupa cargo de destaque no governo. O episódio ocorreu em um momento simbólico, quando o Congresso discute a reforma eleitoral e a necessidade de ampliar a participação feminina na política, apontando a urgência de enfrentar as desigualdades de gênero que dificultam essa ampliação.
"Sou ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima e foi nesta condição que fui convidada a falar na Comissão de Infraestrutura do Senado (27). Ouvir de um senador que não me respeita como ministra, não me deu outra opção a não ser deixar a comissão. Ainda mais porque essa agressão veio do mesmo senador que, na outra vez em que estive no Senado, também como convidada, disse que foi muito difícil para ele me ouvir durante seis horas e 10 minutos sem me enforcar. E hoje ele, novamente, veio me agredir", afirmou Marina Silva.
Este caso reforça que a violência política de gênero não é um problema isolado, mas uma realidade recorrente para muitas mulheres no cenário político brasileiro. A exposição desses atos machistas no Senado serve como alerta para a necessidade de fortalecer mecanismos de proteção e promover uma cultura de respeito e igualdade nos espaços públicos. A ministra recebeu inúmeros gestos de apoio ontem (27), após deixar o Senado Federal. O Observatório do Clima emitiu uma nota de apoio à Ministra, ressaltando as entregas na pauta ambiental na atual gestão.
Covardia e ódio contra uma mulher. Foi o que se viu nesta terça-feira (27/5) no Senado Federal, em ato de violência política de gênero contra a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Os agressores são os senadores Plínio Valério (AM), líder do PSDB, e Marcos Rogério (PL-RO), que presidia a audiência pública da Comissão de Infraestrutura, em mais um capítulo da pressão pela exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas. A agredida é uma mulher negra da Amazônia e ministra de Estado pela segunda vez. Em dois anos, o trabalho da equipe liderada por ela resultou numa redução de 46% do desmatamento na Amazônia em relação a 2022, segundo dados do Inpe. Marina é muito maior do que eles. O Observatório do Clima (OC), rede com 133 organizações, repudia qualquer ato de machismo e violência política e espera que os senadores sejam punidos.
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, também se manifestou sobre o episódio.
"Minha solidariedade à ministra Marina Silva. É inaceitável que comportamentos desrespeitosos continuem acontecendo contra mulheres na vida pública. Discordâncias fazem parte da democracia. Desrespeito, não. Marina merece respeito."
O episódio vivido pela ministra Marina Silva durante a audiência na Comissão de Infraestrutura remete a práticas autoritárias e opressivas que parecem saídas diretamente da Idade Média, quando as vozes das mulheres eram sistematicamente silenciadas e sua participação pública era severamente limitada. Esse tipo de comportamento, marcado pelo desrespeito, pela tentativa de calar e pela imposição do poder masculino, revela um retrocesso simbólico, como se alguns setores do poder ainda estivessem presos a uma lógica medieval de dominação e exclusão. Essa associação histórica evidencia o quanto ainda há de atraso na luta por igualdade de gênero e o quanto é urgente desconstruir essas práticas para avançar rumo a um ambiente político mais democrático.