Guerreiros do Passo: maioridade com sinônimo de resistência – Revista Algomais – a revista de Pernambuco
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Pedro Cunha

Guerreiros do Passo: maioridade com sinônimo de resistência

COM NOSTALGIA Guerreiros do Passo costumam se apresentar com figurinos típicos dos foliões da primeira metade do século 20. Foto: Eduardo Araújo/Divulgação

Há 18 anos, o grupo representa uma trincheira na salvaguarda do frevo pernambucano, mas carece de políticas públicas estruturadoras, assim como o próprio ritmo

De forma datada, o frevo é nosso desde 1906. Veio ao mundo no meio do intenso processo de urbanização e industrialização que o Recife vivia no início do século 20. Esse ritmo que “entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé” ganhou novos reflexos há 18 anos com um grupo que faz questão de manter essa tradição que, em sua essência, nada mais é do que uma manifestação musical e corporal urbana. O grupo Guerreiros do Passo chega à maioridade ressente de políticas públicas estruturadoras, assim como o próprio frevo. Enquanto luta, resiste com dança, pesquisa e por conta própria. Sem nenhum auxílio do poder público.  

Procurei Eduardo Araújo, pesquisador da história do frevo e um dos fundadores dos Guerreiros, pelo Instagram. Fui em busca do seu contato para entender a realidade do grupo atualmente. Liguei algumas vezes. Sem sucesso. Depois, recebi de Eduardo o retorno de que o grupo estava numa apresentação no lançamento de editais culturais lançado pela ministra da Cultura Margareth Menezes, na última sexta (1°), com a presença do prefeito do Recife, João Campos (PSB), secretários de Cultura do estado e da capital e outros convidados. Por coincidência ou precisão do destino, dia em que o grupo completou 18 anos de fundação.

“Não dá apenas para vender o frevo como atração turística em propagandas governamentais, colocar passistas fazendo acrobacias no aeroporto e em eventos e passar a imagem para quem vê de fora de que Pernambuco é um paraíso para o artista popular, o que na prática não é a realidade. São 18 anos resistindo sem apoio direto, apenas com a seleção de editais de cultura. Então, a gente tira do nosso próprio bolso, na luta de dar continuidade ao legado do nosso Mestre Nascimento do Passo. Tocamos um movimento que chamamos de resistência, de luta. Queremos continuar lutando para que a sociedade possa continuar aplaudindo as nossas atividades”, contou Eduardo Araújo por telefone.

História – O grupo nasceu em 2005 dentro da Escola de Frevo Maestro Fernando Borges, no bairro da Encruzilhada, quando o espaço estava sob a gestão do Mestre Nascimento do Passo, falecido em 2009. Sua partida deixou um vasto legado e fez com que seus seguidores criassem uma identidade própria, vivendo o frevo para além da sazonalidade. “A gente sempre achou que o Carnaval era um momento de culminância e não de iniciar o contato com o frevo. O frevo precisa se libertar dessa pecha de só ser música de folia”, disse Araújo.  Para ele, o ritmo tem que ser vivido o ano todo, como ginástica, terapia e lazer. 

A escolarização foi o caminho encontrado para a transmissão do passo e é onde a maioria dos amantes do frevo encontram apoio para manter viva sua paixão. Mestre Nascimento do Passo desenvolveu uma metodologia de ensino sistematizando os movimentos e as técnicas que até hoje são repassadas para as novas gerações.

Depois da saída da Escola de Frevo por não concordarem com a decisão da diretoria da instituição de mudar o método de ensino da dança, Eduardo Araújo e os professores Lucélia Albuquerque, Valdemiro Neto e Laércio Olímpio decidiram concentrar as atividades na Praça do Hipódromo, na zona norte, com o projeto Frevo da Praça, dando aulas às quartas, às 19h, e aos sábados, às 15h, com uma média de 40 a 50 alunos. No entanto, devido à pandemia, precisaram encerrar as aulas, que foram retomadas no início deste ano, mas a falta de apoio para a compra de materiais não permitiu o grupo voltar às atividades.

FREVO NO PÉ Aulas do grupo na Praça do Hipódromo. Foto: Eduardo Araújo/Divulgação

“A Prefeitura fez uma reforma na praça, retirou todas as tomadas e ficamos sem ter como ligar o som. Conseguimos um caixa recarregável emprestado, mas como dependia muito da disponibilidade de terceiros, não foi possível continuar”, falou Eduardo, acrescentando que desenvolveu um outro projeto, o Quintal do Frevo, também no Hipódromo, com o objetivo de promover oficinas, encontros e aulas. As obras foram iniciadas com recursos garantidos por meio da Lei Aldir Blanc, mas ainda dependem de apoio para a conclusão.

O grupo conta os dias para voltar com o projeto Frevo da Praça. Após participação no filme “Retratos Fantasmas”, longa-metragem do cineasta e roteirista Kleber Mendonça Filho, os Guerreiros firmaram uma parceria com a produtora do filme na missão de comprar um som recarregável para retomar as aulas no Hipódromo, que deve acontecer após a liberação dos recursos.

Seja com espetáculo nostálgico que remete às icônicas figuras retratadas pelo fotógrafo franco-baiano Pierre Verger em sua passagem pelo Recife nos anos de 1940 ou por meio das aulas de dança com traçados e trejeitos do frevo nas ruas e nos palcos, o que os Guerreiros do Passo querem é ampliar o conhecimento para manter vivo o ritmo que pertence a todos os pernambucanos.

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