Inclusão em movimento: a importância dos esportes e atividades físicas para a pessoa autista - Revista Algomais - a revista de Pernambuco
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Jademilson Silva

Inclusão em movimento: a importância dos esportes e atividades físicas para a pessoa autista

Prof. Kadu Lins, 36 anos, fundou o Instituto do Autismo, em 2020. Mas já tem 10 anos de atuação profissional com pessoas autistas

Mais de 83% dos autistas apresentam algum déficit motor, que pode variar desde falta de força, coordenação, equilíbrio. O que pouca gente sabe é que, quando se trabalha o desenvolvimento motor do autista, essa prática ajuda não só na questão física, mas também na comunicação, na sociabilização e nas questões cognitivas, sendo assim imprescindível o acompanhamento desse desenvolvimento. Conversamos com o prof. Kadu Lins, referência nacional quando o assunto é a pessoa autista nos esportes, atividades físicas e psicomotricidade, para essa edição especial da "Algomais Fitness e Welness" sobre a campanha Abril Azul - mês de conscientização do autismo.

Agenda TGI

Segundo o Profissional de Educação Física e Diretor Geral do Instituto do Autismo (IDA), Kadu Lins, as práticas esportivas são aceitas pela ciência para desenvolvimento das pessoas autistas.

“Hoje em dia já temos a ciência mostrando os benefícios em diversas modalidades, desde os esportes coletivos, aos treinos aeróbios de corrida, com bicicleta, treino de musculação, natação, lutas, entre outros. O importante é que seja algo que vamos conseguir dar sequência, que a criança demonstra interesse e tenha prazer em praticar”, diz Kadu Lins.

O ambiente aquático tende a ser muito reforçador para o autista, principalmente para aqueles que têm déficits motores. Além dele ter uma maior liberdade, o autista se sente mais livre e relaxado.

“Porém, é importante ressaltar que o risco de afogamento também aumenta, caso não acompanhado. É preciso entender que a água também é um ambiente de treino, e não só de brincadeiras, para que ele se desenvolva. Mas de maneira geral, a água ajuda bastante o tônus muscular e a capacidade cardiorrespiratória”, revela.

A prática de artes marciais ajuda a melhorar a coordenação motora, o equilíbrio, a concentração e a autoconfiança, além de proporcionar uma atividade física divertida e socialmente estimulante. No entanto, é importante considerar as necessidades individuais da pessoa com autismo e garantir que a prática da arte marcial seja adaptada e supervisionada por profissionais qualificados.

“Os esportes de luta, além de ajudarem no desenvolvimento da força, da consciência corporal, e de outras capacidades físicas, tendem a ajudar muito nas questões sensoriais, de contato físico, suor, roupas diferentes, com o uso do Kimono”, informa Kadu Lins.

A criança deve ter a orientação do profissional de educação física.

Psicomotricidade é uma ciência que estuda o ser humano em relação ao movimento, ao mundo interno e externo, as suas emoções e habilidades interpessoais.

“Para o autista, é de grande importância a psicomotricidade, justamente por trabalhar desde a parte motora, como também a parte relacional, de sociabilização, do desenvolvimento socioafetivo e do controle de emoções. É saber ganhar, saber perder, buscar soluções para os problemas, aprender a usar seu corpo da melhor forma com eficiência”, diz Kadu Lins.

A atividade esportiva deve ser adequada, segura e prazerosa para a pessoa autista, de modo a promover não apenas o desenvolvimento da psicomotricidade, mas também a socialização, a autoconfiança e o bem-estar geral.

O prof. Kadu Lins elenca os principais desafios enfrentados sobre a inserção da criança atípica para praticar esportes e atividades físicas.

“O desafio começa pela falta de locais e de profissionais capacitados. Depois vem o preconceito dos outros participantes. Esse desafio segue com a falta de conhecimento da própria família sobre os benefícios do esporte. Mas todos esses podem ser superados, com muita informação. Eu sempre falo da educação parental. Quanto mais os pais souberem dos benefícios, mais poderão ajudar seus filhos. Não desistir quando seu filho não quiser ir depois da primeira vez. É preciso tentar entender o porquê ele não quer ir, para ir solucionando os problemas, até ele sentir vontade de não parar mais”.

Para Kadu Lins, existem várias adaptações às necessidades específicas de cada pessoa autista, no tocante às atividades multidisciplinares desenvolvidas por profissionais especializados.

“Podemos dizer que há várias adaptações. Autismo não tem apenas uma característica. Falo muito de adaptar para o autista e não para o autismo. No geral, estabelecer rotinas visuais do que vai acontecer para mostrar a ele previsibilidade, fazer adaptações para diminuir o toque, caso ele se incomode com o sensorial no início, diminuir o volume da música, imitar o movimento e não só falar, respeitar o tempo de descanso dele que pode ser maior. É dar opções que se adequem ao seu cognitivo, e sempre oferecer suporte necessário”, revela Kadu.

Os pais ou responsáveis fisicamente ativos são modelos para crianças autistas se espelharem e optarem também por atividade esportiva ou física.

“Falo muito que o exemplo começa em casa. Pais fisicamente ativos tendem a ajudar ainda mais seus filhos a gostarem de esportes e de atividades físicas. Fora isso, dar todo o suporte necessário, não desistir na primeira atividade. Às vezes, os pais escolhem um esporte, a criança não se adapta, e daí não tentam outras práticas esportivas. Incentive, dê exemplos, tente várias atividades e sempre comemore as evoluções”, diz

Portanto, a família tem ação crucial para o desenvolvimento do autista no contexto esportivo.

Kadu Lins cita o caso de gêmeos autistas que melhoraram a sociabilidade, a condição motora e emocional, ao começar a praticar esportes e atividades físicas.

“Temos várias crianças e adolescentes que mudaram de vida depois do esporte. Temos gêmeos autistas, Pedro e Ângelo, que só conseguiram escrever depois que praticamos diversas modalidades, como tênis, natação e musculação, e conseguiram desenvolver a força e a coordenação que as mãos precisavam para a escrita. Já no treino de futebol, conseguimos fazer com que tocassem as pessoas, aprendessem a perder, tolerassem o barulho. Até de campeonato eles participaram. De atletas famosos, temos jogadores de futebol, de basquete, de dança, corredores, todos com relatos de que entraram no esporte por serem introspectivos, com dificuldade de comunicação, questões sensoriais e hoje superaram para poder se tornar mundialmente conhecidos”, informa.

Para tornar a sociedade mais inclusiva e acolhedora em relação à participação de pessoas com autismo em atividades esportivas e de treinamento, se faz necessário respeitar as diferenças.

“Primeiro entendendo que precisamos respeitar as diferenças. O esporte deveria ser sempre democrático. Historicamente vivemos em uma sociedade preconceituosa e excludente no âmbito esportivo. Não só com os autistas, mas com todos aqueles que não têm as habilidades para serem profissionais. O que precisamos difundir é que o esporte tem que ser visto como a maior ferramenta de desenvolvimento humano, tanto em questões motoras, como em sociais, cognitivas e afetivas. Tudo que o autista precisa”, finaliza.  

Esporte é a oportunidade de uma vida melhor para o autista.



Juliana Maia é fonoaudióloga

Conforme a Classificação Internacional de Doenças, 11º edição, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que compromete as áreas da interação social, comunicação e padrões de comportamento e é subdividido por nível de suporte de acordo com a presença ou ausência de transtorno do desenvolvimento intelectual e nível de comprometimento da linguagem funcional. 

Por se tratar de um espectro, o autismo se manifesta de forma heterogênea, havendo desde autistas que precisam do nível máximo de suporte, que precisam de cuidados diários e contínuos, aos que precisam de um suporte mínimo e que conseguem ter uma vida funcional autônoma. Desta forma, quando pensamos na inserção das pessoas autistas no mercado de trabalho, temos que considerar demandas e adaptações, desde as mínimas às mais complexas. Segundo a Lei 12.764, de 2012, as pessoas com autismo são reconhecidas como pessoas com deficiência, tendo sua inclusão no mercado de trabalho defendida pela Lei de Cotas 8213/91.

Para que o autista adulto consiga se inserir no mercado de trabalho, ele precisa ser capaz de manejar questões como a busca por emprego, as habilidades sociais necessárias para uma entrevista ou processo seletivo, as interações sociais em ambientes profissionais e o cumprimento de demandas que seguem um padrão normativo de funcionamento neurológico e que não são adaptadas às demandas individuais destes indivíduos.  Além disso, segundo estudiosos, ainda são poucas as pesquisas sobre a Inserção do autista do mercado de trabalho no Brasil, o que nos mostra o pouco interesse pela temática, mas, as poucas pesquisas que existem, apontam que há uma dificuldade em manter o emprego e que, quando empregado, a pessoa com autismo recebe salário inferior aos colegas que desempenham a mesma função. 

Pelos desafios inerentes ao diagnóstico que acompanham as pessoas com autismo ao longo da vida, faz-se necessário que o mercado de trabalho repense seus processos seletivos, que o Estado incentive a contratação de pessoas com deficiência e que a sociedade abandone conceitos discriminatórios, capacitistas e que julgam as pessoas como competentes ou incompetentes partindo de um princípio único comum à maior parte do funcionamento das pessoas, sem considerar as particularidades, individualidades de um funcionamento neurodivergente. Assim, como vemos cada vez mais crianças com autismo inseridas em escolas e na sociedade, precisamos ver e conviver com autistas adultos em diversos ambientes, inclusive em locais de trabalho, a fim de termos uma sociedade mais justa, plural e representativa da realidade.


Mobilização em prol do autismo

No próximo dia 6 de abril, a Praia de Boa Viagem, no Recife, será palco do evento:  3ª Caminhada Pernambucana pela Conscientização sobre o Autismo. Sob o tema 'O Melhor Presente é Ser Presente', o MobilizaTeaPE convoca a sociedade a se unir em prol da inclusão social das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A concentração será a partir das 14h no Terceiro Jardim. Informações: @mobilizateape


Atividades musicais na programação

Para reforçar e demonstrar que cada pessoa tem o direito de ser e de funcionar conforme suas potencialidades, a Aprimore Terapia Integrada realizará o Festival Viva as Diferenças, no dia 06 de abril, no Parque de Santana, zona norte do Recife, das 16h às 19h. A programação, gratuita e aberta ao público, contará com exibição de filmes, atividades musicais e circenses, tendo os neurodivergentes, identificados como pessoas com autismo, TDAH, entre outros, como protagonistas das apresentações. Informações: @aprimoreterapia


O neurocientista Victor Eustáquio e as psicólogas Roberta Monteiro e Luana Passos em preparação para o Abril Azul

A Clínica Somar realizará no dia 07 de abril, às 14:30h, na Livraria Jaqueira, no Recife Antigo, apresentações artísticas de autistas e seus familiares. Também haverá uma caminhada até o Marco Zero. Camila Yallouz, psicóloga, realizará palestra sobre a campanha Abril Azul. Informações: @autismosomar


Evento também terá "cãominhada"

Em comemoração ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado dia 2 de abril, será realizada a Atípicos Run, corrida pela inclusão, em Caruaru.  Será no dia 20 de abril, a partir das 7h, com largada no Parque Ambiental São Francisco. Os participantes terão três percursos para escolher: 3,2km para corrida; 2,8km para caminhada; e 2km para "cãominhada". Podem participar crianças e adultos atípicos, típicos, bem como cães de estimação. Informações: @educacaoespecialpe


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