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IoT traz boas perspectivas para o setor de tecnologia de Pernambuco

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Com a redução do custo dos equipamentos e aumento da demanda por dados, setor de tecnologia local, que já produz hardwares e softwares, vislumbra cenário promissor com internet das coisas.

*Por Rafael Dantas

O Recife tem trilhado um caminho ainda tímido, mas crescente de empresas no segmento de Internet das Coisas. A IoT, como é conhecida, é a conexão de objetos físicos à internet, permitindo que eles coletem, compartilhem dados e interajam entre si e com os usuários. Tudo isso de forma inteligente, automatizada e nos últimos anos com várias soluções made in Pernambuco. Em diferentes vertentes, várias empresas locais têm construído suas histórias nessa atuação que perpassa entre os hardwares e a inteligência de dados.

Diferente do desenvolvimento de softwares e aplicações, em que Pernambuco tem algumas centenas de startups e empresas atuando, no segmento de IoT o número de players é pequeno. Porém, as expectativas são grandes nesse mercado, com a redução do custo dos equipamentos e o aumento da demanda de dados para a tomada de decisões em todos os negócios e serviços.

“O mercado global de IoT está em rápida expansão e analistas, como a GlobalData, projetam que ele possa ultrapassar US$ 1,1 trilhão até 2024, impulsionada pela automação e pela necessidade de dispositivos conectados. Temos algumas iniciativas promissoras em IoT em Pernambuco, mas a maior representatividade está nas universidades e nos projetos de governo. Universidades como a UFPE e o Instituto Senai de Inovação promovem pesquisas importantes e incubam startups, enquanto o Porto Digital fomenta projetos com IoT”, afirmou o professor da UniFBV Wyden Marcello Mello, que é PhD em Educação Tecnológica e mestre em Ciências da Computação.

"O mercado global de IoT está em rápida expansão e analistas, como a GlobalData, projetam que ele possa ultrapassar US$ 1,1 trilhão até este ano, impulsionada pela automação e pela necessidade de dispositivos conectados." Marcello Mello

Diante do aumento da produção em escala desses equipamentos, o professor afirma que os custos dos sensores e módulos de comunicação diminuíram consideravelmente, permitindo que mais empresas e consumidores acessem essas tecnologias. Alguns dos produtos mais populares são os assistentes domésticos, como o Alexa. Além disso, várias soluções de automação residencial estão se tornando mais acessíveis.

Esse avanço começa a ser percebido no Estado, segundo o CEO da Parlacom, Clóvis Lacerda. “Nós temos empresas que fabricam equipamentos em Pernambuco. Empresas genuinamente pernambucanas. Isso é importante porque no mundo inteiro se discute a questão do circuito integrado, porque é uma questão de estratégia nacional. No Recife temos no Porto Digital empresas de programação, muitos desenvolvedores… Mas agora a gente tem a união do software com hardware”, destacou.

TECNOLOGIAS À SERVIÇO DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA

Um dos players locais no segmento é a BottomUp, que nasceu em 2011 em uma incubadora no Itep (Instituto de Tecnologia de Pernambuco). Hoje a empresa tem uma planta instalada na Várzea e já está com planos para levar suas operações para o Parqtel (Parque Tecnológico de Eletrônicos e Tecnologias Associadas de Pernambuco). O novo espaço representará um salto pois terá uma estrutura quatro vezes maior que a atual. A empresa é uma fábrica de hardwares, com 60 funcionários. A corporação dispõe de um setor interno de Pesquisa & Desenvolvimento, uma área de design industrial e muitos produtos no mercado.

Hardwares desenvolvidos pela BottomUp e instalados nos postes do Recife ajudam a evitar que as lâmpadas queimem numa oscilação de eletricidade, desligam a luminária, em caso de vazamento de corrente e, se o poste parar de funcionar, o sensor emite um alerta para a gestão municipal.

O principal segmento de atuação da BottomUp é de equipamentos voltados para os serviços de iluminação pública. Pequenos hardwares instalados nos postes da cidade ajudam a evitar que as lâmpadas queimem, diante da oscilação de eletricidade, por exemplo. “Nós temos um equipamento que é instalado e se o poste vazar corrente, o sistema desliga apenas aquele poste. A equipe da prefeitura fica sabendo qual poste foi desligado e está com problemas. Dessa forma, ninguém leva choque”, exemplificou Fred Braga, CEO da empresa.

Caso as luminárias parem de funcionar, o sensor também emite um alerta para a gestão municipal. Além disso, uma funcionalidade bem típica desses equipamentos é a medição do consumo de cada ponto. Como se trata de uma solução de interesse das municipalidades de todo o País, os equipamentos da empresa pernambucana estão espalhados para além das fronteiras do Estado. Só aqui na Região Metropolitana, por exemplo, vários desses hardwares estão em uso nas cidades do Recife, do Cabo de Santo Agostinho, em Goiana, entre outras.

"Antes as empresas que prestam esse serviço público recebiam as notificações de luminárias queimadas dos cidadãos. Com a inovação, a autoridade municipal já recebe a informação antes mesmo do aviso da população." Fred Braga

Apenas nesse exemplo da iluminação, é possível perceber a inversão de lógica nos serviços públicos que a IoT abre caminho. “O município deixa de ser reativo e passa a ser proativo”, afirma Fred. Antes dessas tecnologias, as empresas que prestam esse serviço público recebem as notificações de luminárias queimadas dos cidadãos. Com a inovação, a autoridade municipal já recebe a informação antes mesmo do aviso da população.

A empresa, no entanto, não atua apenas nesse segmento, tendo soluções também de telegestão de ambientes (para condomínios residenciais e comerciais), Smart Parking (para identificação de vagas em estacionamentos), telemetria (de água, gás e energia), entre outros. Um dos produtos da BottomUp, por exemplo, foi o Botão do Gás, comercializado para a Supergasbras. A empresa pernambucana fabricou 132 mil unidades do equipamento que, ao ser acionado, faz o pedido automático de compra do botijão.

Além desses serviços já em uso, o desenvolvimento do setor no suporte às smart cities – cidades inteligentes – aponta para muitas novidades nos próximos anos.

IOT NO SUPORTE À EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Com precisão na medição de dados em soluções de IoT, a XP Energy vem se destacando no segmento de monitoramento e controle de energia. Fundada em 2019, a startup pernambucana desenvolve tanto o hardware quanto o software necessários para acompanhar o consumo energético em tempo real, disponibilizando informações detalhadas aos clientes diretamente pela nuvem. Essa tecnologia integrada permite que empresas identifiquem padrões de uso, otimizem processos e reduzam despesas.

A plataforma da XP Energy permite às empresas acompanhar os custos de energia em tempo real e acessar relatórios detalhados para um planejamento financeiro mais eficaz. A solução beneficia médios e grandes consumidores de energia, com contas superiores a R$ 10 mil, para quem a redução de desperdício e a eficiência energética são fundamentais. “O benefício de IoT em geral e dos nossos serviços é a redução de custo, automação de processos, digitalização e velocidade no acesso a dados para tomada de decisão”, afirmou o sócio da XP Energy, Fernando de Siqueira.

A empresa também explora novos caminhos no mercado IoT brasileiro, desafiando as limitações do setor. Diferente de muitos players que importam hardware pronto, a XP Energy desenvolve seus próprios equipamentos, tornando-se uma das poucas startups a trabalhar com tecnologia proprietária no segmento. Essa estratégia fortalece sua posição de mercado, facilitando a personalização dos produtos e aumentando a exclusividade dos serviços oferecidos.

"Não atuamos no Brasil inteiro, mas a meta é deixar o produto cada vez mais robusto para que possa atender outras regiões e a gente consiga outras equipes técnicas para trabalhar com nossos produtos e serviços". Fernando Siqueira

Atualmente, o desafio da startup é expandir seu alcance nacional, levando suas soluções para mais regiões do Brasil e ampliando as funcionalidades de sua plataforma. A empresa também está atenta às inovações em conectividade, como o 5G, que potencializam o volume e a qualidade dos dados coletados. “Hoje, a gente não atua no Brasil inteiro, trabalhamos em regiões mais próximas onde estamos dando suporte. A meta é deixar o produto cada vez mais robusto, mais confiável, para que ele consiga atender outras regiões e a gente consiga outras equipes técnicas para trabalhar com nossos produtos e serviços”, projetou Fernando.

IOT CUSTOMIZADA NO SUPORTE À INDÚSTRIA E À AGROPECUÁRIA

Os usos de IoT pelos diversos setores econômicos são bem amplos, segundo o professor Marcello Mello. “Os principais setores que utilizam IoT incluem cidades inteligentes, onde sensores monitoram o trânsito e o consumo de energia; a saúde, com dispositivos que permitem o monitoramento remoto de pacientes; e a agricultura, com sensores para monitoramento de solo e clima”. O especialista, no entanto, projeta que a maior popularização nos próximos anos deve acontecer mesmo no segmento da automação residencial.

"A automação que oferecemos para o setor industrial não se limita a aumentar a produtividade; ela garante mais segurança e precisão em cada etapa do processo". André Medeiros

Além de uma atuação transversal, outra característica das experiências atuais de IoT é permitir um aumento exponencial da geração de dados, que são fundamentais para a tomada de decisões. Com as informações em tempo real e precisas, sejam indústrias ou mesmo uma grande fazenda na área rural têm condições de fazer planejamentos mais efetivos, reduzindo custos e aumentando a eficiência.

Uma novidade mais recente do setor é o barateamento dos custos, o que permite que essas tecnologias cheguem a mais empresas de portes menores. “A coleta de dados já existe há muito tempo, mas muitas vezes ela estava restrita a grandes organizações que tinham o poder de compra para instalar sensores em suas plantas industriais e em seus ambientes de trabalho. O que está acontecendo com a IoT é que o custo do dispositivo começou a ficar barato para ser acessível a pequenas empresas e residências. É essa a revolução que a IoT está trazendo”, afirmou André Medeiros, sócio da startup Bzu Tech.

A empresa pernambucana, com atuação focada em IoT, oferece soluções personalizadas de monitoramento e automação para diversos setores. As inovações desenvolvidas pela Bzu Tech têm levado mais tecnologia ao cotidiano de indústrias, empresas do setor agropecuário, instituições de saúde e companhias de monitoramento ambiental.

“A gente tem uma equipe que faz o desenvolvimento do hardware. Criamos o projeto e enviamos para fabricar na China, porque eles conseguem produzir em pequenas quantidades. Também fazemos aqui o software que será embarcado no hardware e fará a leitura dos dados coletados pelos sensores. Em outra frente de trabalho temos a plataforma em que o usuário pode criar seus gráficos, os alertas e receber a informação que os sensores estão emitindo”, afirma André Medeiros.

Ele explica que o diferencial da empresa está em compreender as necessidades de cada cliente e criar soluções que impactam diretamente na eficiência e na tomada de decisões. Essa abordagem, segundo André, é essencial para garantir que as criações em IoT entreguem resultados mensuráveis e contribuam para o desenvolvimento de cada operação.

Na indústria, por exemplo, o foco da Bzu Tech está na automação de processos, resultando em maior produtividade e redução de falhas. “A automação que oferecemos para o setor industrial não se limita a aumentar a produtividade; ela garante mais segurança e precisão em cada etapa do processo”, explica André Medeiros. Já no setor agropecuário, as soluções em IoT proporcionam um controle minucioso das condições de plantio e cultivo, com sensores que captam dados essenciais para a qualidade e o rendimento da produção.

CONECTIVIDADE PARA INCENTIVAR A IOT

Para incentivar o avanço das experiências de IoT, a Parlacom lançou uma ação ousada de disponibilizar de forma gratuita a rede LoRaWAN (Low Power Wide Area Network) no Porto Digital. Essa rede possibilita conectar dispositivos com foco em comunicação bidirecional, segurança de ponta a ponta e alta eficiência energética. O projeto abrange os bairros do Recife, Santo Antônio, São José e Santo Amaro, garantindo a gratuidade nos primeiros seis meses. As empresas do polo poderão usufruir da conectividade com alcance de até 15 km.

“Com essa iniciativa vamos medir a temperatura, a umidade, o índice pluviométrico, o índice sonoro de decibéis, o índice de CO2... Estaremos coletando uma pancada de informações. Então a gente está falando de big data. Vamos oferecer essa massa de dados para os centros acadêmicos e para o governo”, afirmou Clóvis Lacerda, CEO da Parlacom, líder em soluções integradas de M2M (machine-to-machine) e IoT há mais de 15 anos no mercado. “Esperamos que haja uma movimentação econômica no ecossistema tecnológico do Porto Digital e arredores na casa dos R$ 500 mil no primeiro ano de uso dessa rede”, comentou Lacerda, CEO da Parlacom.

"Vamos medir temperatura, umidade, índice pluviométrico, índice sonoro de decibéis, índice de CO2 em áreas do Centro do Recife. Vamos coletar uma pancada de informações. Então, estamos falando de big data". Clóvis Lacerda. Foto: Divulgação

A expectativa é que com os dados levantados a partir dos hardwares instalados em diversos prédios da região sejam geradas novas possibilidades de análises, com impacto nas dinâmicas dos bairros centrais da cidade. “Vamos tirar a inteligência desses dados para saber o que pode ser melhorado nessa região em termos de qualidade de vida. Com medidores instalados em parceiros que estão recebendo os equipamentos, vamos mostrar novamente que o Recife está na ponta também com os fabricantes de hardware. Com a internet das coisas, o volume de aplicações é gigantesco”, afirmou Clóvis Lacerda. “Novos negócios, novas soluções, um caminho para tornar o Recife uma cidade inteligente”.

NOVOS ATORES DE OLHO NO MERCADO

O avanço das possibilidades de negócios e aplicações no IoT têm atraído empresas no mercado local a investir no segmento. A Nortel Data, por exemplo, prevê que em pouco mais de um ano, essa vertente seja a principal no seu negócio. A corporação já tem 38 anos de atuação, mas está direcionando seu foco para o segmento, que se mostra promissor.

A empresa, que já trabalhou com telefonia, especializou-se em gerenciamento predial, com serviços de controle de acesso, detecção e alarme de incêndio, sonorização e até sistemas de irrigação automatizados. Esses serviços já dispõem de plataformas que usam sensores IoT para otimizar processos. “Esses sensores podem medir variáveis como umidade do solo, consumo de energia, e até a localização de ativos em tempo real, como equipamentos médi- cos e móveis hospitalares”, explicou o CEO Francisco Brito.

No setor de saúde, a Nortel Data tem investido em soluções para monitoramento de pacientes e ambientes clínicos. Francisco Brito destaca que a empresa está trabalhando na homologação de sistemas para coleta de sinais vitais sem fio, com o objetivo de otimizar o atendimento a pacientes e reduzir o tempo gasto com medições manuais. "Tarefas, como a medição da temperatura dos pacientes, podem ser automatizadas, melhorando a qualidade do atendimento e permitindo que os enfermeiros foquem em funções mais complexas”, afirmou Francisco Brito.

"Tarefas, como a medição da temperatura dos pacientes, podem ser automatizadas, melhorando a qualidade do atendimento e permitindo que os enfermeiros foquem em funções mais complexas". Francisco Brito. Foto: Divulgação

A empresa também tem investido no monitoramento de equipamentos médicos, como ressonâncias magnéticas, para garantir a precisão dos exames e a longevidade dos aparelhos. Barreto identificou também um grande potencial no oferecimento de serviços voltados ao monitoramento de leitos de baixa complexidade e no setor de home care. A corporação tem grandes perspectivas para o futuro, com a expectativa de que, em um ano, a vertical de IoT se torne a principal área da empresa.

SOLUÇÕES DESENVOLVIDAS NO CESAR

Um dos gigantes do Porto Digital, o CESAR possui desde 2015 um Grupo de Pesquisa em IoT, que une especialistas da instituição e docentes da CESAR School para realizar pesquisa aplicada nessa área. Desse ponto de partida, já existe uma trajetória relevante no segmento, combinando sua expertise em tecnologia e inovação para impulsionar soluções que impactam setores, como saúde, educação e indústria.

Thiago Barros, líder da área de IoT no CESAR, conta que nesse período, a instituição iniciou o desenvolvimento de uma metaplataforma, chamada KNoT, capaz de integrar componentes de diferentes plataformas de IoT. Esse trabalho foi consolidado em uma tese de doutorado pela CESAR School. Além disso, o centro também realizou diversos projetos práticos na área ao longo dos anos.

Um dos serviços de destaque no segmento veio de uma parceria com a Salvus. O projeto ATAS O2, por exemplo, é um sistema de monitoramento de oxigênio medicinal. Essa solução utiliza sensores e IoT para monitorar os níveis de oxigenação de pacientes em tempo real, oferecendo uma solução que não apenas melhora a precisão no fornecimento de oxigênio, mas também otimiza a alocação de recursos. O equipamento foi projetado tanto para uso em ambientes hospitalares quanto para terapia de oxigênio domiciliar.

O CESAR, em parceria com a Petrobras e a UFRJ, desenvolveu também uma solução inovadora de gêmeo digital para monitorar dutos flexíveis utilizados na extração de petróleo no Pré-Sal brasileiro. A tecnologia, implementada em unidades como as bacias de Santos e Campos, integra sensores, inteligência artificial e modelos digitais em tempo real para prever a vida útil dos dutos, prevenir acidentes e otimizar operações. A ferramenta permite a análise e gestão de dados de corrosão e fadiga estrutural. O projeto foi premiado pela Society of Petroleum Engineers (SPE Awards) e foi finalista do Prêmio ANP de Inovação Tecnológica.

As experiências de IoT desenvolvidas ou executadas por empresas pernambucanas vão ganhando seu espaço na vida real e nos negócios locais. A capacidade do segmento de gerar dados e impactar uma série de serviços motiva corporações do mundo inteiro a aportar recursos em inovações e pesquisas na área. Oportunidades em que o promissor setor de tecnologia do Estado não pode ficar de fora.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Pernambuco Antigamente e Gente & Negócios (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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