Após três anos de trabalho no Recife, o cônsul geral americano John Barett está retornando aos Estados Unidos. Publicamos hoje uma entrevista com ele, que é fellow do Iperid, concedida ao jornalista Rafael Dantas. O nome do novo representante dos EUA no consulado instalado na capital pernambucana será anunciado em breve. As oportunidades na relação Pernambuco x EUA no contexto pós-pandemia e a relevância da atividade consular na cidade são alguns dos temas dessa conversa.
Diplomata de carreira, Barrett já trabalhou em Washington D.C., atuando como oficial sênior responsável pelo suporte à relação bilateral EUA-Filipinas. No Brasil já serviu na Embaixada dos EUA em Brasília, entre 2008 e 2011. Na sua trajetória profissional diplomática já passou também por El Salvador, China, Afeganistão e Guatemala.
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Há quanto tempo você assumiu o consulado do Recife e como avalia a sua passagem durante esse período no Brasil?
Foi uma verdadeira honra representar os Estados Unidos no nordeste do Brasil nos últimos três anos. Cheguei no dia 2 de julho de 2017, apenas algumas horas antes da Celebração do Dia da Independência do Consulado, e ainda me lembro bem da festa. No palco, anunciei que aprenderia a surfar durante o meu tempo aqui. Fico feliz em dizer que honrei esse compromisso e já consigo surfar nas ondas leves da praia de Maracaípe.
Nosso trabalho no Consulado também evoluiu. Durante os últimos três anos mais de 165 mil vistos foram emitidos e apoiamos o desenvolvimento econômico, educacional e cultural dos estados do Nordeste, através de programas de intercâmbio com especialistas, professores e pesquisadores americanos. Demos especial atenção à promoção da ciência e da tecnologia para jovens estudantes da rede pública e ao ensino de inglês. A segurança mútua também é uma grande área de cooperação. Assinamos memorandos de compartilhamento de informações importantes com sete estados do distrito consular, o que ajudará os dois países a reprimir o crime internacional.
No cenário pós-pandemia, como você avalia a relação Brasil-Estados Unidos? Há oportunidades para Pernambuco?
As empresas americanas continuaram operando e crescendo ao longo dos últimos três anos em Pernambuco e no Nordeste. As turbinas da General Electric irão gerar energia na maior usina de gás natural liquefeito do país em Sergipe, um projeto que também depende de um forte apoio financeiro de setor privado dos Estados Unidos. A Amazon anunciou planos para abrir um centro de distribuição no Porto de Suape, o primeiro do gênero fora de São Paulo. Outras empresas Americanas estão investindo em todo tipo de atividade, desde projetos ambiciosos de cabos de fibra óptica submarina até pequenas e promissoras startups no Porto Digital.
Nosso Embaixador no Brasil, que tem muita experiência em acompanhar economias, disse que a pandemia criará oportunidades para as relações comerciais Estados Unidos-Brasil. Acho que ele está certo, as empresas americanas estão buscando uma diversificação geográfica para suas linhas de produção. E os Estados Unidos e o Brasil sempre tiveram uma inclinação natural para trabalhar juntos, uma vez que são as duas maiores democracias e economias do hemisfério. A meu ver, as maiores oportunidades de colaboração no Nordeste permanecem em energia, especificamente renovável, tecnologia e inovação, saúde e infraestrutura.
Na sua opinião, qual a relevância da rede de consulados presentes no Recife para o desenvolvimento da região?
Tenho orgulho de dizer que o Consulado Geral dos Estados Unidos no Recife faz parte desta comunidade há 205 anos consecutivos. Isso nos torna um dos mais antigos postos diplomáticos dos Estados Unidos no hemisfério. Recife abriga uma série de missões diplomáticas, mais do que qualquer outra cidade do Nordeste. Isso mantém Recife e sua população mais conectados ao mundo e garante uma ampla gama de negócios e outros intercâmbios culturais e acadêmicos.
Você é Fellow do Iperid e tem participado nas ações dessa instituição. Como você avalia o trabalho do Iperid?
Fiquei honrado quando o Iperid me convidou para colaborar com eles. Como um Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais e Diplomacia que se concentra essencialmente nesta região do Brasil, desempenha um papel vital na facilitação de discussões, na análise de dados e tendências e na busca de recomendações que atendam às necessidades locais. É importante unir diversas cabeças pensantes locais para focarem em questões locais que impactam à coletividade.
Com o final desse ciclo você retorna para os Estados Unidos? Quais os novos planos?
Vou fazer uma pequena pausa em minha cidade natal que fica ao longo da costa central da Califórnia. Não vou surfar, pois as águas lá são sempre bem geladas. Vou me reconectar (com cautela, é claro, devido á pandemia do Covid) com minha família e amigos que moram lá. Depois, viajarei para nossa Embaixada em Lima para administrar nosso relacionamento econômico com o Peru como Conselheiro de Assuntos Econômicos.