Márcio de Mello se destaca pelas virtudes de leitor voraz e de escritor de notável criatividade. O texto desse noronhense, que viveu por longo tempo em Macau-RN, tem cheiro de maresia, é claro. Não das praias rasas de águas tépidas, mansas, cristalinas, mas de mar aberto, denso, profundo, exato, como o zelo com que nutre cada palavra, frase, sentença, parágrafo.
Márcio dispõe de outra virtude intrínseca ao bom escritor: a memória. E dela faz bom uso na composição dos contos do seu “Um certo Capitão Vidraça” (Edições Bagaço 2013), bem como maneja habilmente a inventiva, como fez no livro anterior “Uma história de outro mundo e outras histórias de bichos que não navegaram na arca de Noé”, da mesma editora, em 2012.
Da memória ele traz personagens de perfis inusitados, vistos e reinventados com o necessário talento. Da sua criatividade aparecem outros tantos protagonistas surgidos do imaginário privilegiado, todos temperados pelo humor fino, ironia e outros ingredientes que seduzem o leitor a partir das primeiras linhas. No entender o escritor João Gratuliano, Márcio de Mello sabe como contar histórias. “E mais, sabe como escrevê-las de um jeito especial. Os contos têm o que de melhor se pode esperar desde o enredo instigante, a narrativa que flui com tamanha naturalidade que caímos com facilidade nas armadilhas. Para onde o narrador está nos levando? Os personagens são incomuns ao ponto de deixar o leitor na dúvida: existem no mundo real ou são meras coincidências que a mente desse ficcionista engenhoso e criativo trouxe à vida? E o que é mais raro na arte das narrativas curtas: elaborar uma trama tão bem tecida que fica difícil distinguir a história que se mostra e a oculta, aquela que está nas entrelinhas e que nos deixa com aquela sensação de ‘será que…’
Ler esses contos traz à tona nossas mais diversas emoções. Ora um riso, quando somos pegos de surpresa, ora uma lembrança quando nos identificamos com os personagens demasiadamente humanos, mas sempre com uma reflexão sobre nossa condição última.
Um livro de cabeceira, para ler uma história por dia, se deliciando com as artimanhas que o autor descobriu para nos entreter. Para quem o conhece é como se ele estivesse presente lendo por nós”.
*Paulo Caldas é escritor