Na apresentação de “Escrever ficção não é bicho-papão”, o escritor Ney Anderson, editor do site Angústia Criadora, pergunta: “De onde vem a ficção?”. E acrescenta: “Essas perguntas não são fáceis de responder. Geralmente se cai no clichê barato da inspiração, onde tudo aparece como um passe de mágica”, afirma. E continua seu questionamento: “Mas de onde surge essa primeira chama para a concepção literária?”. E responde mais adiante: “As ideias podem aparecer através de cenas do cotidiano, da música, de uma conversa no ônibus e de muitas outras formas”.
Há quem defenda que a chama surge da eclosão, da ideia, “e a partir daí é escrever, escrever, escrever”, aconselha o mestre Raimundo Carrero. Para David Lodge, autor de “A arte da ficção”, cada autor tem o seu estilo. “A maioria dos autores faz algum trabalho preliminar, ainda que de cabeça. Muitos se preparam por semanas ou meses, enchendo cadernos de anotações: fazendo esquemas da trama, compilando dados para os personagens, criando situações de diálogo e imaginando cenários para a composição do texto”, detalha.
O que dizem os escritores:
“Você pode aprender a escrever fazendo uso de publicações editadas com essa finalidade. É claro, que a simples leitura não o tornará escritor. O uso desses livros não dispensará o hábito da leitura de bons autores, dos clássicos, além de muito exercício literário. Escrever, rasgar, escrever, rasgar, reescrever, tornar a escrever. Já foi dito que o maior amigo do escritor é o cesto do lixo. Não existe inspiração, aquela musa ectoplasmática, que traz emanações quase mediúnicas e proporciona a feitura de contos, romances e poemas. Na verdade a criação literária é fruto do trabalho, da transpiração. Assim ensinam os mestres, dentre eles, Raimundo Carrero e Paulo Caldas. Li vários autores dessa linha de literatura: ‘A arte da ficção’ de John Gardner; ‘Os segredos da ficção’ e ‘A preparação do escritor’, ambos de Raimundo Carrero; ‘Como funciona a ficção de James Wood’; ‘Aspectos do romance’ de Edward M. Forster, um dos principais desse segmento. Não descarto a utilidade deles no aprendizado do ofício, mas não defendo que sejam únicas fontes. No meu caso, busco na consulta a esses manuais, o esclarecimento, quando tenho dúvida, sobre determinado assunto. Creio que essa é a principal contribuição dessas publicações”. Márcio de Mello.
“Todo mundo sabe que o escritor é a continuação do leitor. Não aprendemos nada com os livros. Isso, entretanto, não os torna menos importantes. Sua função é estimular. Árdua tarefa. Aprendemos, sim, fazendo, escrevendo, tomando tempo para colocar no papel (ou na tela do computador) uma mentira tão bem contada que suspenda a descrença do leitor. Aqui o gerúndio é indispensável.
Livros que pretendem ensinar a escrever ficção não fogem a essa regra. Escritores reconhecidos não conseguem explicar de forma satisfatória sobre seu processo criativo ou sobre a internalização das técnicas estilísticas. E mesmo se pudessem nos decepcionaríamos com o fato de que isso não nos tornaria mais criativos.
Nem por isso deixamos de ler ‘Confissões de um jovem romancista (Umberto Eco)’, ‘A Arte da Ficção (David Lodge)’, ‘A Arte da Ficção (John Gardner)’, ‘Como Funciona a Ficção (James Wood)’, ‘Sobre a Escrita (Stephen King)’, ‘Os segredos da Ficção (Raimundo Carrero)’ etc. Comece a escrever”. Cesar Sampaio.
“No desenvolvimento da escrita de autores iniciantes, os livros contribuem no encurtamento da estrada do tempo de amadurecimento e revelam técnicas que ajudam a vestir suas histórias com franjas de seda para encanto do leitor. Dos que li, todos poderiam ser mais sucintos. Hoje, mantenho na escrivaninha, James Wood em ‘Como funciona a ficção’ e ‘Cartas a um jovem poeta’ de Rainer Maria Rilke”. Ed Arruda.
“Em ‘Lições de literatura’, Vladimir Nabokov disseca o conteúdo dos grandes romances, na medida em que seus escritores (Jane Austen, Dickens, Flaubert, Kafka, Joyce, Proust e Stevenson) conceberam os cenários, cenas, diálogos e, sobretudo a construção de personagens emblemáticos do universo da literatura. Sílvia Adela Kohan participa da coleção ‘Guias do escritor’(Editora Gutemberg), com ‘Os segredos da criatividade’, com técnicas para desenvolver a imaginação, evitar bloqueios e expressar ideias, onde recomenda dentre outras dicas que o autor escreva sobre as coisas que o apaixonam, mesmo que outras pessoas considerem absurdas”. Paulo Caldas.