“Meu querido filho” narra o súbito ruir de uma família tunisiana

Por Houldine Nascimento.

O diretor tunisiano Mohamed Ben Attia é um nome relativamente novo no audiovisual. Após ter lançado no circuito comercial brasileiro seu primeiro longa-metragem, “A Amante” (2016), no ano passado, o público do nosso país agora tem a chance de ver “Meu querido filho” (Weldi, TUN/BEL/FRA, 2018). No Recife, o filme está em cartaz no Cinema São Luiz, no Cinema da Fundação e do Museu.

Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes em 2018, o segundo longa de Attia se debruça sobre uma família de classe média da Tunísia, às voltas com o futuro de Sami (Zakaria Ben Ayed), um jovem prestes a fazer o vestibular. O filho único da família Saïdi tem sofrido constantemente com enxaquecas às vésperas de prestar o exame.

Os pais apostam todas as fichas nele a ponto de fazerem sacrifícios. A mãe Nazli (Mouna Mejri), uma professora de árabe, e o pai Riadh (Mohamed Dhrid), na iminência de se aposentar, fazem tudo por Sami, mas isso não parece suficiente para o filho, que some sem razão aparente. Os acontecimentos são vistos conforme a perspectiva do pai, o qual é o real protagonista. É ele quem se move em busca do rebento, suspeitando que tenha se envolvido com alguma organização terrorista.

A tensão está presente na angústia do casal Nazli e Riadh, que não têm noção de como ou por que a família desmoronou. Para o espectador, também fica difícil entender o real motivo da fuga de Sami pela falta de indícios dada ou até mesmo por apontar outros caminhos, como o desinteresse em dedicar-se aos estudos. Através das vivências dos personagens, também dá para sentir um pouco da sociedade tunisiana, das nações mais moderadas entre as da África Islâmica.

Ben Attia explica de onde surgiu a ideia para “Meu primeiro filho”: “Relatos de pais que estavam à procura dos filhos que tinham se juntado ao Estado Islâmico estavam começando a se espalhar nas rádios, na televisão, nos jornais. Um dia, ouvindo um pai falando sobre sua história, realmente me afetou. Ele continuava repetindo: ‘meu filho’. Eu rapidamente percebi que o que me interessou mais não foram as razões que fizeram o filho sair, mas o ponto de vista dos que ficaram atrás: os pais dele que não viram isso chegando.”

Chama atenção a resistência do patriarca e a obstinação em saber o verdadeiro paradeiro do filho e até de pensar em como tudo ruiu. Nesse sentido, a atuação de Mohamed Dhrif sustenta bem a trama, galgada no realismo e na discrição.

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