Uma crônica bem-humorada para quem continua acreditando no amor
Por Manu Siqueira
Eu mudei de endereço recentemente. Uma mudança muito esperada e repleta de significados. Mudei a casa, a decoração e meus cabelos. Parece que quando uma mudança vem, ela chega como uma avalanche. Mudamos o CEP várias vezes ao longo da vida. Mudamos de emprego. Mudamos o visual. Mudamos o parceiro amoroso. Mudamos os hábitos. O que antes era importante, hoje não passa de um detalhe insignificante. Isso vale para pessoas também.
Em meio à mudança, vivenciei um caos completo. Ainda com o tornozelo quebrado, ergui uma nova morada em poucos dias, apenas com um caminhão de mudança e uma vontade imensa de ser feliz. Recomecei quase do zero: comprei do abridor de garrafas à geladeira nova, que ainda vai chegar. Nessas infinitas idas às lojas de utensílios domésticos, de móveis e armazéns de construção, percebi que esses lugares são recheados de inúmeras possibilidades de encontros.
Sim! Eu finalmente descobri que uma ida ao Atacado dos Presentes, no sábado à tarde, pode ser mais interessante que um chopp num barzinho. E que os domingos, na Ferreira Costa, que considero atualmente a minha segunda casa, pode ser um programa ideal para quem gosta de flertar. Não sou especialista na arte da paquera, mas creio que identificar uma pessoa interessante na seção de copos e taças, pode ser, no mínimo, divertido.
-“Licença, tudo bem? Você sabe se esta taça é para água ou para suco? Sempre me confundo…”
Você pode iniciar um papo assim, despretensiosamente, em meio a um sorriso e uma mexida de cabelo, igual a Mônica Martelli, no filme Minha Vida em Marte, na qual ela usa o cabelo como sua principal arma de sedução. Vai que você encontra um amor entre um espremedor de alho e uma tábua de cortar legumes? A gente nunca sabe, né?
Outra dica para quem cansou de usar os famigerados aplicativos de paquera é ir aos supermercados, de preferência à noite ou nos finais de semana. Sempre há um solteiro perdido na seção de chocolates, cervejas e pipocas. Tente ir aos mercados menores, de bairro, geralmente frequentados pela vizinhança. Vai que o amor mora ao seu lado e você não sabe…
Li recentemente, em uma matéria, que livrarias e supermercados têm o poder de criar uma cultura de conexão entre pessoas de diferentes estilos de vida e faixas etárias. E eu concordo plenamente com essa possibilidade. Acredito que empresas podem contribuir para combater a solidão e promover encontros entre as pessoas. Em Amsterdã, a marca holandesa Oma’Soep lançou uma campanha para facilitar a interação entre seus clientes. As cestas verdes, por exemplo, indicam que os compradores estão abertos a uma boa conversa durante as compras.
No local ainda há folhetos que orientam as pessoas a como iniciar uma conversa. Há, também, um espaço para troca de telefones para futuros bate-papos. A iniciativa foi um sucesso e já começou a ser implementada em outras cidades da Holanda.
Por aqui, sigo acreditando que o amor pode nascer entre a seção do repolho e a do leite sem lactose. Mal posso esperar o fim de semana para dar o meu rolê no Atacado dos Presentes e na Ferreira Costa, novamente. Será que a gente se encontra por lá?