(Da Fundaj)
A saída de nordestinos para outras áreas do Brasil, associada à falta de oportunidades de emprego, pode ser o principal fator para o baixo crescimento populacional da Região Nordeste, de acordo com uma nota técnica divulgada, na segunda-feira (10), pelos pesquisadores Wilson Fusco, diretor da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), e Ricardo Ojima, professor do Programa de Pós-Graduação em Demografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A nota aborda os resultados preliminares do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 28 de junho de 2023, com um recorte sobre o Nordeste. De acordo com o Censo, a Região ainda ocupa a segunda posição no ranking populacional, com 54,6 milhões de pessoas, mas com diminuição de participação no todo, uma vez que sua taxa de crescimento foi a menor do país, com 0,24% anuais.
“Historicamente, esta região enfrenta desafios econômicos e sociais, e a inércia dos movimentos emigratórios que leva nordestinos para outras regiões há décadas, associada à falta de oportunidades de emprego, pode estar na explicação desse baixo crescimento”, destacam os pesquisadores.
Ainda assim, Fusco e Ojima ressaltam que esta relação entre baixo crescimento populacional e saldo migratório negativo só poderá ser confirmado após a divulgação dos resultados completos do Censo Demográfico de 2022, mas é uma hipótese a se considerar, pois esta região tem a segunda maior taxa de fecundidade do Brasil e a terceira menor taxa de mortalidade. “Ou seja, maior número de saídas do que entradas de pessoas na região no período intercensitário pode ter grande peso na explicação do baixo crescimento observado”, aponta a nota técnica.
A análise também salienta o desempenho destoante de Sergipe, que há décadas vem apresentando saldo migratório positivo, e, apesar da menor população da região, registrou a maior taxa de crescimento entre 2010 e 2022, com 0,55% ao ano, único estado do Nordeste com taxa acima da média nacional.
Já a Paraíba, apesar de crescer abaixo da média nacional, figura na segunda posição regional em termos de crescimento, com uma taxa de 0,45% anual. Rio Grande do Norte, que vinha acompanhando Sergipe em termos de crescimento baseado em saldos migratórios positivos até 2010, teve um crescimento intermediário pelos padrões da região, com 0,35% ao ano. O ritmo de crescimento do Ceará (0,33% a.a.), e Piauí (0,39% a.a.) também podem ser classificados como intermediários.
Alagoas, segunda menor população do Nordeste e fronteiriça a Sergipe, assim como Bahia, que tem a maior população da região, registraram as menores taxas de crescimento, com 0,02% e 0,07% ao ano, respectivamente. Apesar de terem registrado taxas um pouco mais elevadas, Pernambuco (0,24% a.a.) e Maranhão (0,25% a.a.) completam a lista dos estados com baixo ritmo de crescimento populacional no Nordeste. Reitera-se a necessidade de aguardar os resultados completos do Censo de 2022 para que conclusões sejam apresentadas, mas a possibilidade da migração ter um peso importante na explicação do crescimento populacional deve ser considerada.
O IBGE ainda vai divulgar uma variedade de outros dados demográficos, econômicos e sociais nos próximos meses que podem incluir dados sobre migração interna e internacional, taxas de natalidade e mortalidade, mudanças na economia e no mercado de trabalho, efeitos de políticas governamentais, e outros fatores.
“A principal e mais importante conclusão que podemos ter até aqui é que o IBGE é uma instituição fundamental para o Brasil e o Censo Demográfico ainda é uma pesquisa imprescindível para entender as mudanças que ocorreram e planejar o futuro que precisamos”, conclui a nota técnica.