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Francisco Cunha

O plano mais importante desde Maurício de Nassau

*Por Francisco Cunha

Discurso feito no lançamento do plano estratégico O Centro do Recife na Rota do Futuro, dia 09/04/25

Quando do lançamento da “ordem de serviço” do Plano do Centro, aqui mesmo neste Moinho retrofitado, só que lá no quarto andar, cheguei a dizer que aquele era um dos dias mais importantes de minha vida. O mesmo digo hoje.

E por que eu falo da importância desses dias?

Quando criança, adolescente e jovem adulto, o Centro da cidade era o meu centro das atenções e, porque não dizer, também, meu “parque de diversões”, como também, de milhares de outras pessoas:

  • Com a Viana Leal e sua maravilhosa escada rolante;
    Com a Confeitaria Confiança e seu sanduiche de queijo quente que fazia um fio dourado no ar entre a boca e o pão mordido;
    Com o parque linear do comércio da era pré-shopping center, cujo eixo era o corredor Imperatriz-Nova-Duque de Caxias onde se comprava, em idas e vindas, de um tudo em termos de vestuário e itens pessoais;
    Com o “festim” das cinco da tarde na Guararapes e arredores;
    Com o Bar Savoy e seus “30 copos de chopp, seus 30 homens sentados, seus 300 desejos presos e seus 30 mil sonhos frustrados”, como disse o poeta Carlos Pena Filho;
    Com a Praça da Independência e as passeatas estudantis contra a ditadura às 18h que, não raro, terminavam em correria da polícia;
    Com os seus sete cinemas e a magia de cada filme que poderia começar a ser assistido de qualquer momento da projeção e que também poderiam ser vistos mais de uma vez seguida sem ter que pagar outro ingresso;
    Com o Projeto Seis Meia no Teatro do Parque onde podiam ser vistos os principais músicos nacionais junto com os valores locais;
    Com o Pátio de São Pedro e a força de sua cerveja gelada que tinha o poder mágico de atrair universitários da distante Cidade Universitária dispostos a gazear a última aula da tarde para ficar conversando sobre a salvação do mundo e coisas mais prosaicas até altas horas, enquanto o pátio fervilhava de vida e figuras folclóricas.

Quis o destino, todavia, que após viver o apogeu do Centro do Recife, eu fosse testemunha ocular e angustiada de um longo e sofrido processo de decadência que já está por completar cinco séculos de lenta e continuada agonia.

Mas quis o destino também que eu tivesse a felicidade de, desde o ano 2000, dar consultoria à CDL Recife e, lá, dedicar-me, junto com os diretores, à frente deles Fred Leal, a buscar alternativas para reverter a decadência.

Infelizmente sem sucesso, muito embora tenhamos tentado de tudo. Talvez tenhamos conseguido, no máximo, reduzir um pouco o ritmo da queda mas, sem nem de longe, sequer, conseguir interrompê-la.

Depois de muito esmurrar a ponta da faca, entendemos que nenhum processo efetivo de reversão seria possível sem que o Poder Público Municipal se tornasse o principal protagonista da recuperação.

E foi com essa certeza que acompanhamos com entusiasmo a decisão corajosa do prefeito João Campos de assumir o Centro como uma das prioridades da sua gestão.

E, aí, mais uma vez, o destino me encontrou na presidência do Conselho da Aries – Agência Recife para Inovação e Estratégia e, nessa condição, podendo ajudar a viabilizar a elaboração do Plano Estratégico de Longo Prazo do Centro do Recife que estamos tendo a grande satisfação de entregar hoje.

Nesta jornada tive também a muito grata satisfação de estreitar relações com a competente Ana Paula Vilaça que, hoje, considero uma amiga que ganhei do Recentro. Daí, eu gostar de dizer que o Recentro é feito de coragem e competência.

Pude me aproximar também de Washington Fajardo, um urbanista de mão cheia, sensível ao apelo humanizado dos afetos como vetor de recuperação das cidades. Sem falar de Sérgio Buarque, consultor competente e sensível além de amigo de longa data.

Desde o início da empreitada do plano que fiz questão de alertar a competente equipe da Aries comandada por Mariana Pontes que devíamos evitar duas armadilhas: (1) o plano perfeito; e (2) o plano unânime.

Cinquenta anos de experiência cotidiana com o planejamento (desde o primeiro dia da faculdade de arquitetura e urbanismo) me ensinaram que assim como “não existe vento favorável para quem não sabe para aonde quer ir”, também não há mapa infalível do caminho. O mapa vai se redesenhando ao caminhar. Ele ajuda, orienta, mostra a direção, mas não é perfeito. O melhor plano sempre será o próximo.

A experiência também ensina que não há plano unânime, sempre existirão os que não concordarão com ele, uns por vaidade, outros por desconhecimento, outros mais por não se sentirem contemplados.

O fundamental é ter feito todo o esforço possível para contemplar todas as facetas como, tenho certeza, foi feito com este que está sendo entregue hoje. O primeiro plano de fato estratégico do centro desde que Maurício de Nassau sonhou fazer da Mauriciópolis a capital do Brasil Holandês, traçando para ela o primeiro plano urbanístico renascentista do continente americano.

São praticamente os contornos da Cidade Maurícia que se transformaram no Centro atual do Recife e da sua região metropolitana, uma das principais do País. E é, justamente, este contorno que é objeto do plano que está sendo entregue hoje.

Não é corriqueira a missão de recuperar o Centro degradado da capital mais antiga do Brasil, uma das cidades coloniais mais antigas do continente. Porque esse Centro Histórico é, aprendi depois de caminhar centenas de quilômetros por ele, um museu vivo da história de Pernambuco e, mais do que isso, da história do Brasil.

Portando, a missão é tão grande quanto desafiadora só que, agora, com o plano, ou seja, com um norte e um roteiro amplamente validado.

Meu agradecimento em nome pessoal e da cidade, ao prefeito João Campo; ao vice-prefeito Victor Marques; ao secretário Felipe Matos e equipe; à chefe do escritório do Centro, Ana Paula Vilaça e equipe; aos consultores especiais Sérgio Buarque e Whashington Fajardo; a Mariana Pontes e Ciro Pedrosa no comando da competente equipe da Aries; aos colaboradores e colaboradoras do plano; bem como aos integrantes da governança do Centro.

O nosso desafio se reforça hoje com o plano O Centro na Rota do Futuro mas, tenho certeza, que este dia já está inscrito na história da cidade e de que em 12 de março de 2037, quando do aniversário de 500 anos do Recife, a foto estará lá, na linha do tempo da exposição comemorativa. Espero que todos aqui estejamos lá também comemorando os avanços conseguidos e a recuperação tornada irreversível do nosso Centro. Muito obrigado pela atenção!

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