O que você come tem veneno?

Incluir frutas, legumes e verduras nas refeições não é suficiente para se falar de uma alimentação saudável. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), 70% dos alimentos consumidos in natura do País estão contaminados por agrotóxicos. “É alarmante que mais da metade das substâncias usadas aqui são proibidas nos Estados Unidos e nos países da União Europeia. Somos campeões de uso de agrotóxicos, mas não de fiscalizar a sua utilização. Não se pode falar de bem-estar sem pensar nas escolhas que fazemos cotidianamente, naquilo que a gente consome, principalmente o alimento”, alertou Renata Nascimento, diretora do Tulasi Mercado Orgânico durante sua palestra no CAM Bem-Estar.

Defensora da causa da agroecologia, Renata Nascimento explica que o ciclo de produção de alimentos ancorado no latifúndio e na monocultura foi responsável pelo surgimento de pragas e, consequentemente, de agrotóxicos. “A monocultura aumentou o desmatamento e reduziu a biodiversidade dos ecossistemas. Sem os inimigos naturais, vieram as pragas, que são combatidas justamente com essas substâncias nocivas à nossa saúde. Esse sistema gerou também a contaminação do solo e das águas, numa deterioração da cadeia alimentar e da saúde dos trabalhadores rurais e dos consumidores”, aponta Renata.

A agroecologia caminha no sentido contrário a esse modelo. É uma ciência e prática social que propõe a criação de ecossistemas produtivos preservadores da natureza, sendo socialmente justos e economicamente viáveis. Há no Brasil e em Pernambuco experiências do cultivo de agroflorestas, que são sistemas produtivos que imitam a natureza. O solo coberto por vegetação e a mescla de várias espécies de plantas e árvores na mesma área são algumas de suas características, além da dispensa do uso de agrotóxicos.

“No conceito de Ernst Gotsch, uma das referências no País sobre o assunto, trata-se de uma visão da agricultura que reconcilia o ser humano com o meio ambiente”, informou Renata. A empresária, além de comercializar produtos orgânicos em feiras que promove no Mercado Tulasi e por e-commerce, também incentiva produtores familiares a trabalhar no sistema de agrofloresta. Um dos momentos emocionantes da sua apresentação foi quando pediu para esses agricultores subirem ao palco do CAM Bem-Estar.

As vantagens do produto orgânico também foram ressaltadas na palestra da nutricionista Virgínia Campos que abordou seus efeito benéfico à saúde. “O alimento só pode dar ao corpo aquilo que ele encontra no solo. O cultivo orgânico tem mais imunidades, minimizando o uso de defensivos. Quando há necessidade dessas substâncias, utilizam-se as não-tóxicas, provenientes das plantas. Os pesticidas intoxicam o corpo, abrindo portas para doenças autoimunes, infertilidade e até câncer”, afirma a especialista.

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Ter uma dieta baseada em alimentos de verdade, cultivados sem adição de agrotóxicos, faz um bem enorme à saúde. É o que recomendam Renata Nascimento e Virgínia Campos.

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Uma vez intoxicado, o organismo não consegue funcionar de forma adequada. “Isso significa que haverá mais inchaço, enxaquecas e que o metabolismo do corpo fica mais lento. O alimento deve ter energia para trazer vitalidade e não veneno para matar tudo, incluindo o ser humano. Deve-se preferir alimentos frescos e orgânicos. Pode-se economizar em outros produtos, mas jamais na qualidade daquilo que é matéria-prima para saúde: o alimento”, defende a nutricionista.

Um estudo do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França, que analisou a alimentação de quase 70 mil pessoas, apontou que aqueles que praticam uma dieta à base de orgânicos reduziram em 25% o risco de desenvolvimento de câncer em geral. Em alguns tipos específicos de tumores malignos, a redução da incidência chegou a mais de 70%, quando comparada com o grupo da população que nunca se alimenta com produtos sem agrotóxicos. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo, que durou mais de quatro anos com adultos franceses, relacionaram o risco de câncer com a quantidade de agrotóxicos e pesticidas inseridos no processo de cultivo dos alimentos.

No Brasil os dados também são alarmantes. “O número de mortes e de intoxicação por agrotóxicos no País dobrou nos últimos 10 anos”, salientou Renata. Esses indicadores são da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Ministério da Saúde. Somente em 2017, uma média de 11 pessoas foram intoxicadas por dia devido à exposição aos venenos usados na agricultura.

Os números sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde dos brasileiros vieram à tona no momento em que o País discutia mudanças na legislação que flexibilizam as regras para fiscalização e aplicação dessas substâncias e dificultavam a comercialização de orgânicos. No ano passado o Projeto de Lei 6299/02, conhecido como PL do Veneno, tentou trocar o nome de agrotóxicos ou defensivos agrícolas para fitosanitários. A modificação tem como objetivo desburocratizar a aquisição desses produtos no País, sob a alegação de que a regulação atual dificulta o desenvolvimento agrícola brasileiro. Outra polêmica de 2018 foi a discussão da PL 4.576/16 que buscava justamente restringir a comercialização de produtos orgânicos.

NADA ARTIFICIAL
Além de eliminar os agrotóxicos da dieta, outro recado das especialistas é ter sempre à mesa alimentos que não sejam processados. “Um princípio básico de autocuidado seria minimizar a aquisição de industrializados, ou seja, produtos alimentícios, priorizando comida de verdade, que são folhas, legumes, frutas, raízes, carnes e ovos. Uma alimentação em que se desembala menos e se descasca mais é uma recomendação que vale para todos”, orienta Virgínia.

A especialista afirma que a população, ao longo das décadas, passou a consumir mais produtos alimentícios e menos alimentos de verdade, comprometendo a saúde e contribuindo para o aumento do peso. “Esses produtos não são nutritivos e, sim, cheios de sódio, açúcares, aditivos químicos. Já o alimento em si, como veio da natureza, é riquíssimo em fibras, vitaminas, minerais. Tudo o que nosso corpo precisa”, explica Virgínia, que fez um convite à plateia para experimentar o verdadeiro sabor dos alimentos reduzindo o uso de açúcar.

Outra recomendação é ficar longe de adoçantes como aspartame, sacarina, sucralose e ciclamato. “Usados em larga escala pela indústria em produtos como refrigerantes, sucos e iogurtes, eles podem ser tão ou mais prejudiciais que o açúcar. Seu uso contínuo contribui para o ganho de peso, ao contrário do que muitos pensam, além de serem danosos para a saúde cerebral”, advertiu.

Quando necessário usar adoçante em substituição ao açúcar, Virgínia recomenda que se faça a opção por artigos à base de plantas, como a estévia pura e a taumatina. Mas, a especialista alerta: “Melhor mesmo é sentir o sabor real do alimento e não daquilo que a gente modifica com o açúcar. Experimentem”, conclamou a plateia. “O desafio dura cinco dias consecutivos. No sexto o paladar estará acostumado. Precisamos exercitar essas mudanças até virarem hábito”.

*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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