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O sagrado dos terreiros no olhar de Roberta Guimarães

Revista algomais

Em tempos de intolerância por que passa o Brasil, a força da palavra Agô – que no idioma iorubá significa “com licença” – traduz com fidelidade as imagens da fotógrafa pernambucana Roberta Guimarães. Inédita no Recife, a exposição traz 40 fotografias, vídeos e informações sobre terreiros de xangô de Pernambuco, conduzindo o olhar para a diversidade, combate ao preconceito e reafirmação dos direitos humanos. A abertura aconteceu no dia 23 e segue até 2 de junho, no Museu do Estado (Sala Lula Cardoso Ayres, 1º andar), acesso gratuito. Nos outros dias, a entrada é o valor de acesso do museu: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia).

As imagens são o resultado de mais de três anos de pesquisa feita pela fotógrafa, em 14 terreiros de xangô de Pernambuco, trabalho já registrado no livro “O Sagrado, a pessoa e o orixá”, lançado em 2013, no Recife. São apresentadas imagens que mostram as particularidades dos rituais, respeitando a tradição e a religiosidade.

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Algumas sessões fotográficas exigiram mais de 12 horas de trabalho seguidas, acompanhando rituais extremamente minuciosos, como o Ebó das Águas, em que o adepto passa por uma preparação, vai se banhar num rio e depois retorna ao terreiro para finalização da cerimônia.

A curadoria é do antropólogo Raul Lody, um dos mais reconhecidos especialistas em cultura afro do país. Formado em Etnografia e Etnologia pela Universidade de Coimbra, é doutor pela Universidade de Paris e responsável por dezenas de estudos na área das religiões afro-brasileiras.

“Esta é uma experiência artística, estética e etnográfica sobre o xangô pernambucano, numa leitura fotográfica de Roberta Guimaraes”, diz Lody, ressaltando que o trabalho caminhou nos muitos momentos do sagrado de matriz africana, que se mostram nos rituais, cores, formas, texturas. “Um depoimento visual emocionado que chega com imersões profundas nas muitas interpretações sobre este patrimônio de fé”, explica.

Para a fotógrafa Roberta Guimarães, seu trabalho – apresentado em João Pessoa há cinco anos – traz, de fato, importantes questões humanas, como respeito e solidariedade. E, ainda, um alerta sobre os caminhos percorrido pelo país. “O xangô faz parte da nossa identidade, da nossa cultura, e nos ensina sobre amor, afeto e tolerância. Agôchama para essa reflexão”, completa. A mostra tem produção executiva da Imago e da Janela Gestão de Projeto.

Conexão – A exposição conecta as fotografias ao mundo digital dos vídeos. No meio do espaço com as fotos haverá uma projeção com imagens dos elementos da natureza que representam os orixás. Ao percorrer a mostra, vários vídeos vão se entrelaçando na narrativa, reforçando princípios como respeito, abordando questões como de gênero.

Em um deles, com imagens de Roberta e edição de Pedro Andrade (Jacaré Vídeo), é mostrada a transformação –crossdressing - de dois filhos de santos em divindades de sexo oposto.

Outro vídeo traz a interpretação dos Itãs (contos de tradição iorubá, que abordam os feitos dos orixás), com narração da contadora de histórias Kemla Baptista, criadora do “Caçando histórias”, iniciativa que promove atividades lúdicas em comunidades de terreiro. Participa também da narrativa o cantor e compositor Jr. Black, que começou com a banda recifense Negroove e possui parcerias artísticas com China, Mombojó, DJ Dolores, Bande Dessinée, entre outros. O material tem produção de Hugo Coutinho e Pedro Andrade (Jacaré Vídeo).

Com 18 minutos, em uma dobradinha da própria Roberta com o também fotógrafo Breno Laprovítera, e áudio de Pedro Andrade (Jacaré), uma projeção apresentará o dia-a-dia dos terreiros, dos rituais e entrevistas com filhos e pais de santos falando sobre suas relações com a religião. Neste vídeo, o fio condutor é a profunda relação da religião com a natureza, que transcende dos atos religiosos para o cotidiano de seus seguidores.

Educação – Durante a mostra haverá um projeto de Arte Educação desenvolvido por Kemla Baptista, com a concepção colaborativa de Bruna Rafaella. Serão visitas guiadas direcionadas a pessoas com deficiência visual e auditiva. O trabalho é feito em parceria com o Instituto de Cegos e o SUVAG.

Acessibilidade - A exposição contará com áudiodescrição para as fotos expostas, com libras,e legendas LSE nos vídeos. A empresa responsável é a Com Acessibilidade Comunicacional, de Liliana Tavares.

A exposição terá desdobramento positivo também para a Fundação Joaquim Nabuco, referência em pesquisa da cultura afro no Nordeste. Serão doadas para o acervo da Fundaj, 20 imagens disponíveis na mostra (em formato digital).

Carreira – Com mais de 20 anos de experiência, Roberta Guimarães é formada em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e cursou Fotografia no Instituto Superiore di Fotografia de Roma (Itália). Tem ainda especialização em Estudos Cinematográficos (Unicap). Atuou como repórter fotográfica na Folha de Pernambuco e no Jornal do Commercio. É diretora e sócia fundadora da Agência Imago. Entre outros trabalhos de Roberta estão os livros “É do coco é do coqueiro”, “Eu vi o mundo e ele começava no Recife” e “Olaria Ocre”, em parceria com os artistas Dantas Suassuna e Joelson Gomes.

Em 2013, lançou, no Recife, o livro “O Sagrado, a pessoa e o orixá”, trabalho que resultou na exposição Agô, que teve estreia, em 2014, em João Pessoa.

A fotógrafa participou, também, de diversas mostras no Recife, em outras cidades e fora do país. Entre as exposições, Interpress Photo O Homem e a Vida (Prêmio medalha de prata Man and Life, 1991); II Salão FINEP de Fotojornalismo( Rio de Janeiro, 1995); Causas da Mortalidade Infantil em Pernambuco ( UNICEF Teatro Nacional de Brasília, 1996), VI Festival Mundial do Minuto ( SESC - SP – 1996) Projeto Lambe-Lambe ( ICA - Londres, 1997), Un Paisaje de identidad Cultural (fotos do Rio São Francisco, Salamanca- Espanha, 2005).

SERVIÇO:

Exposição Agô

Local: Museu do Estado de Pernambuco (Sala Lula Cardoso Ayres, 1º andar) - Av. Rui Barbosa, 960 - Graças, Recife

Abertura: 23 de abril de 2019, às 19h. Fica em cartaz até 2 de junho de 2019

Visitação: de terça-feira a sexta-feira: das 9h às 17h |Sábados e domingos: das 14h as 17h | Fechado às segundas

Entrada gratuita na abertura. Nos outros dias R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia).

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