Nos rincões do sertão entre Pernambuco e Paraíba reza a lenda: quem bebe da água do Rio Pajeú, vira poeta. Definindo o cotidiano das pessoas, nas festas, residências, nos mercados, relembrando histórias de cantorias, em grandes respostas poéticas e dissertando sobre o sentimento, a poesia é onipresente e primordial. E é ela a protagonista em O Silêncio da Noite é que tem sido Testemunha das Minhas Amarguras. O filme tem estreia nacional dia 15 de março, em capitais como Recife, São Paulo, São Luís, Curitiba, além de um circuito alternativo gratuito pelo interior de Pernambuco, de 07 a 12 de março.
Finalista entre os dez melhores filmes da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2016), o longa foi rodado nas cidades de Ouro Velho e Prata (PB) e da pernambucana São José do Egito, tomada como berço imortal da poesia. O documentário passeia pela região, revelando a tradição herdada por várias gerações, vidas pautadas pela poesia e a peculiar e orgulhosa prática diária de poetas, sonetistas, cantadores e violeiros que fazem de métricas e rimas disciplinadas um modo de vida.
O Silêncio da Noite é a segunda produção em longa-metragem de Petrônio Lorena (de O Gigantesco Imã), diretor e também compositor e produtor musical para trilhas. Nascido em Serra Talhada, localizada a duas horas de São José do Egito, desde a infância se interessava pela poesia, pela composição de músicas, sempre em contato com os poetas da região. Em 2010 deu o impulso inicial, realizando um profundo trabalho de pesquisa e de desenvolvimento de roteiro, apoiado pelo Funcultura. Filmou aos poucos, em muitas idas ao sertão, até 2015. A distribuição do longa, realizada pela Inquieta Cine, conta também com financiamento do Funcultura, junto com o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
“O que eu acho mais legítimo do documentarista é sempre voltar àquilo no qual está trabalhando, criar um envolvimento. Eu sempre retornava à região. Esse envolvimento fez com que a poesia, que já estava presente, entrasse mais ainda dentro de mim; não a métrica, não o saber fazer poético, mas o sentimento. Lá tem muitos que dizem: ‘o verdadeiro poeta é o outro’. E o outro é aquele que sente. Então o verdadeiro poeta é o que sente, o que foi transformado”, explica o diretor Petrônio Lorena.
A taciturna frase que dá nome ao filme faz alusão a uma das figuras mais interessantes retratadas no longa: Severina Branca, dita a “Eleonor Rigby do Nordeste”, e quem deu o ‘mote’ ao poema elaborado, então, por Didi Patriota. Musa e prostituta, poetisa e boêmia, Severina encantava os poetas da região, dando-lhes ‘motes’ rebuscadíssimos, cantados por eles, falando não apenas da vida dela, mas das amarguras de ser poeta. “O título refere-se também à dor e à alegria de ser poeta; da cumplicidade da madrugada na criação desses versos num sertão conservador e da utilidade social que a poesia traz a essas pessoas”, completa Petrônio.
"Meus filhos são passarinhos
Que vivem dos meus gorjeios
Eu para encher os seus papos
Cato grãos em chãos alheios
E só boto um grão no meu
Quando vejo os deles cheios."
(Lourival Batista)
“Se a coruja é minha companheira
O relógio se marca meia-noite
Ela sai pra fazer o seu açoite
Sai de dentro da sua cumeeira
Me acompanha entremeio
A fumaceira de uma neve que cai pela cidade
E o fantasma cinzento da saudade
Sai de dentro das furnas mais escuras
Onde existem tamanhas rachaduras
Que o tempo marcou sem ter pedido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras”
(Didi Patriota)
Cosmologia
Dizem que a princípio, o caos pesou
E a luz surgiu do choque das camadas
Tais narrativas são falsificadas
Não há quem saiba como começou
Se as massas foram impulsionadas
Tem uma força que as impulsionou
Pergunto eu por quem foram tocadas
E fico como um sábio uma vez ficou
Célula, ovo, do nada em transição
Gameta de pequena evolução
Crepúsculo de caótica procedência
Originária da microssomia
Desenvolvendo a macrossometria
Da monstruosidade da existência.
(Biu de Crisanto)
Sinopse:
Numa região do sertão, na divisa de Pernambucano com a Paraíba, se passa um fenômeno curioso. Pessoas nascem, vivem e morrem poetas, convivendo dia a dia com a arte da rima, entranhada no cotidiano da população, que perpetua a tradição ao longo de gerações. Aos versos de métricas exigentes fundem-se declamadores, sonetistas, cantadores, violas e o improviso. Além de Severina Branca, cuja noite é que tem sido testemunha de suas amarguras.
Trailer: https://vimeo.com/257924297
Facebook: https://www.facebook.com/osilenciodanoitefilme
IG: @osilenciodanoitefilme
O diretor
Formado em Radialismo, Petrônio Lorena é diretor de curtas premiados em 35mm como “Santa Helena em Os Phantasmas da Botija” (2004), "O som da Luz do Trovão" (2005) - ambos co-dirigidos por Tiago Scorza – e “Faço de Mim o que quero”, co-dirigido por Sérgio Oliveira; e da ficção “Calma Monga, Calma!” (2011).
Em 2014, estreia seu primeiro longa-metragem com “O Gigantesco Imã”, co-dirigido também por Tiago Scorza. Atua também nas funções de roteirista e produtor dos filmes que assinou a direção. Paralelamente, desenvolve o trabalho de compositor, diretor e produtor musical de trilhas para cinema, recebendo dois prêmios de melhor trilha sonora (Festival de Triunfo e CINE PE, em 2015) por “O Gigantesco Imã”; e integra o coletivo musical “Petrônio e as Criaturas”.
Ficha técnica:
Elenco (personagens)
Severina Branca, Jorge Filó, João Badalo, Antônio Marinho, Ésio Rafael, Zé Rocha, Greg Marinho, Nõe de Job, Expedito Vaqueiro,Lamartine Passos, Zé de Cazuza, Cícero Bernardes, Job Patriota,Didi Patriota, Antenor Cazuza, Marquinhos da Serrinha, Paulo Barba, Romero Cazuza, Carlinhos da Prata, René Cavalcanti, Giuseppe Mascena, Graça Nascimento, Tonfil, Mariana Teles, Rildo de Deus, Val Patriota, Neném de Santa.
DOCUMENTÁRIO/ 2016/ 78 MINUTOS
Diretor: Petrônio Lorena
Produção Executiva: Stella Zimmerman
Roteiro: Narjara Medeiros, Petrônio Lorena
Fotografia: Roberto Iuri
Montagem: Çarungauá
Som: Guga S. Rocha
Trilha Sonora: Petrônio e as Criaturas, Zeto
Formato: DCP
Classificação: 16 anos
Janela: 1:85
Som: dolby 5.1
Idiomas: Português, Inglês
Realização: Nosotros y Los Demás
Co-produção: Candiero Produções
Distribuição: Inquieta Cine
SERVIÇO
Circuito Alternativo no Interior de Pernambuco & Debates com o diretor
(7 a 12 de março) em:
07/03 - Arcoverde
Local: Área externa da Estação da Cultura - Av. Zeferino Galvão, 119 - Santa Luzia
Hora sessão: 20h - Debate: 21h20
08/03 - Belo Jardim - Sessão especial para celebrar o dia da mulher
Local: Cine Teatro Cultura - Praça Jorge Aleixo, s/n – Centro.
Hora evento: 18h30/ Exibição: 19h00 / Debate: 20h20
09/03 - São José do Egito - Sessão especial aniversário da cidade
Local: Escola Nana Patriota - R. Vinte e Cinco de Agosto, s/n – Centro.
Hora exibição: 19h / Debate: 20h20
10/03 – Triunfo – Evento especial " "À liga, mulhé!" (Coletivo Pantim em parceria com o movimento de mulheres feministas do sertão)
Local: Theatro Cinema Guarany - Praça Carolino Campos, s/n, Centro.
Hora exibição: 15h / Debate com Petrônio: 17h
11/03 - Serra Talhada– Cidade natal do diretor
Local: Centro de Artes e Esportes Unificados - Céu das Artes - Av. Olímpio de Menezes Leal, s/n - Caxixola
Hora: 19h15/ Debate logo após a sessão
12/03 - Caruaru
Local: Auditório Mestre Vitalino - Rodovia BR-104, Km 59, s/n - Nova Caruaru
Hora exibição: 18h30 / Debate: 20h
*Todas as sessões nas cidades do interior serão gratuitas
Estreia Nacional – dia 15 de março nos seguintes cinemas:
São Paulo (SP) – Belas Artes
Recife (PE) - Cinema do Museu
Serra Talhada (PE) - Cine Pajeú
João Pessoa (PB) - Cine Banguê
Curitiba (PR) - Cine Guarani e Cinemateca
Rio Branco (AC) - Cine Teatro
São Luis (MA) - Cine Lume
Vitória (ES) – Cine Metrópolis
29 de março
Goiânia (GO) –– Cine Cultura
Maceió (AL) - data a definir