Lançado nove meses antes da Guerra Civil Espanhola, o livro The Story of Ferdinand, do escritor americano Munro Leaf, revoltou lideranças de alguns países por onde passou, mais especificamente, daqueles que seguiam uma linha totalitária de governo. A proposta pacifista da história, que tem como protagonista um touro que prefere a vida no campo e o aroma das flores a lutar em touradas, trouxe como consequência o banimento do livro em países como Espanha e Alemanha. Baseada nessa importante obra da literatura mundial, chega aos cinemas a animação O Touro Ferdinando, do brasileiro Carlos Saldanha.
Saldanha tem um currículo respeitado mundialmente. Dirigiu franquias de sucesso como A Era do Gelo e Rio. Só a Era do Gelo, juntando todos os cinco filmes, arrecadou cerca de US$ 3,200 bilhões. E seu novo projeto já está rendendo bons frutos: O Touro Ferdinando já acumula o total de US$ 185 milhões em bilheteria por onde passou. Além da boa recepção de público, recebeu a indicação ao Globo de Ouro nas categorias Melhor Animação e Melhor Canção.
A história começa com Ferdinando ainda bezerro. Mais reservado, gosta de admirar as flores, o que chama a atenção dos outros bezerros que preferem buscar inspiração nos touros maduros e fortes do rancho. Nesse lugar, eles são treinados para enfrentar os toureiros nas arenas de Madrid. Após um teste de força com outro touro, o pai de Ferdinando é selecionado para participar do evento. Mas o triste resultado do embate mudará completamente o destino do pequeno Ferdinando, que será adotado por uma nova família.
A animação propõe o respeito às diferenças como tema norteador da trama. Assunto bem necessário em tempos de intolerância, seja ela de qualquer espécie. Mas apesar da boa proposta, a história se perde em meio aos clichês do gênero. Perde muito tempo com algumas piadas insossas e com longas perseguições que, apesar de bem construídas, como a que acontece no centro de Madrid, só servem para alongar a história. Alguns personagens que acompanham o protagonista como a cabra Lupe, dublada por Thalita Carauta, até ajudam a movimentar a trama, mas deixam no ar a sensação de “mais do mesmo”. Não por acaso, O Touro Ferdinando perdeu o prêmio de melhor animação para Viva: A Vida É Uma Festa, no Globo de Ouro.
Se por um lado o novo trabalho de Carlos Saldanha não consegue explorar satisfatoriamente o tema proposto, com uma trama de pouca profundidade para um espectador mais exigente, por outro, deverá agradar ao público infantil. Suas cores e personagens por demais simpáticos facilmente conquistarão os pequenos. Boa pedida para o período de férias.