O tempo do trabalho forçado em home office está ficando no passado. A maioria das empresas que fecharam seus escritórios e começaram a trabalhar com suas equipes de modo remoto vive um momento diferente: ou permanecem por opção no regime que conheceram na pandemia, ou retornam ao formato presencial ou adotam um modelo que mescla os dois. Nesse cenário o trabalho híbrido ganha força, mas é importante observar para o fato de que muitas empresas sequer planejam voltar ao expediente tradicional. Para compreender os benefícios e dificuldades desses modelos conversamos com a consultora e sócia da TGI e da ÁgilisRH Andréa Carvalho.
O tema ganhou a capa da edição 186.2 da Revista Algomais.
Quais os principais aprendizados você destacaria que as empresas tiveram durante esse período forçado de trabalho remoto?
Com a pandemia e a necessidade de se reinventar, as empresas tiveram que resignificar o seu modelo de trabalho e adotar novas medidas de funcionamento em pouquíssimo tempo. O home office é um modelo de trabalho exigente e traz uma dinâmica diferente. Não diz respeito apenas ao fato de trabalhar em casa, mas se trata de uma mudança de cultura, de foco e de comportamento. As pessoas precisam ter mais disciplina, estarem mais organizadas para poderem trabalhar em casa e saber lidar bem com o tempo.
Nesse sentido, alguns ganhos e aprendizados percebidos com o trabalho remoto estão relacionados à necessidade de aprender a identificar prioridades, de otimizar os processos, aprender uma nova forma de comunicação, de organização e de gerir o tempo e as equipes.
E para os profissionais? Você acredita que haverá resistência em retornar ao trabalho presencial? Algumas pessoas que experimentaram esse modelo de trabalho podem não querer retornar?
Acredito que não se trata de resistência, mas sim, da necessidade de se adaptar a uma nova realidade já presente no nosso dia a dia. Nos deparamos com as mais diversas situações vivenciadas durante essa pandemia, Por um lado, muitos profissionais conseguiram se adaptar bem ao home office, identificando ganhos, principalmente em relação à flexibilidade, redução de tempo e custos com deslocamento e melhoria da qualidade de vida com essa nova dinâmica de trabalho mas, por outro lado, um alto percentual de pessoas tiveram muitas dificuldades para conciliar o trabalho em casa devido à falta de foco por ter inúmeras distrações ou a falta de infraestrutura, com acesso tecnológico não apropriado para a necessidade de trabalho, além da perda da interação social entre os empregados. Por essas e outras razões, especialmente considerando a realidade dessas pessoas que não tiveram uma experiência positiva no trabalho em casa, o retorno ao trabalho presencial se torna ainda mais necessário.
As empresas que aprenderam a trabalhar bem com suas equipes usando as novas tecnologias ganharam competitividade?
A necessidade de se adaptar a uma nova realidade com a utilização de novas tecnologias trouxe ganhos para as empresas e para os profissionais no âmbito da dinâmica do trabalho, planejamento, organização e melhoria da produtividade, garantindo maior eficiência no trabalho à distância.
Muitas ferramentas e tecnologias de comunicação (em nuvem), já existentes no mercado, mas ainda pouco conhecidas e utilizadas, proporcionam uma maior flexibilidade e otimização do tempo, uma vez que fronteiras geográficas deixaram de existir (aproximando pessoas de diferentes localidades), além de funcionarem como facilitadores para a organização e o acompanhamento das atividades (ferramentas de controle que facilitam o gerenciamento da produtividade dos profissionais).
Portanto, aquelas empresas que saíram na frente e que souberam aproveitar bem esses novos recursos e tecnologias, tiveram ganhos de produtividade e se mantiveram competitivas no mercado.
O modelo de trabalho híbrido é a grande tendência que veremos nos próximos anos no mercado profissional? O que isso impactará na preparação dos profissionais?
É fato que com a pandemia, cada vez mais o modelo híbrido tem ganhado espaço no mundo empresarial e dificilmente vamos enxergar as relações de trabalho da mesma maneira.
A grande maioria das empresas constatou na prática que é possível manter suas atividades, produtividade e engajamento dos empregados com o trabalho remoto. No geral, o home office funcionou bem e algumas empresas já anunciaram que vão seguir com o modelo híbrido. Outras, foram ainda mais longe decretando que não voltam mais para o escritório físico…
Portanto, o trabalho híbrido é uma tendência relevante, onde o presencial e o remoto se complementem, e é certo que a pandemia trouxe mudanças definitivas para alguns processos, mas o momento é de mapear as forças e fraquezas da empresa durante este período de home office, o desempenho e a preferência dos empregados, bem como os ajustes e investimentos que seriam necessários para uma mudança permanente. Afinal, o modelo precisa ser sustentável a longo prazo para valer a pena!
Sendo assim, as organizações devem estabelecer o seu próprio esquema, já que não existe “o melhor” modelo e nem todas as empresas estão preparadas para colocar em prática essa nova modalidade de trabalho. Cada caso merece uma análise diferente.
É preciso repensar os modelos do passado e avaliar, considerando a sua realidade, qual o formato mais adequado para atender às demandas e necessidades das empresas e das pessoas diante das exigências desse novo contexto empresarial.