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Francisco Cunha

O WhatsApp e o mito dos grupos autogeridos

 

Muitos dos conceitos relacionados à gestão organizacional têm uma vida cíclica e entram e saem de moda, de épocas em épocas, geralmente com uma nomenclatura diferente ou ajustada a cada rodada. A ideia de que os grupos ou equipes de trabalho podem prescindir de gerenciamento ou coordenação é um desses conceitos que vão e voltam ao longo do tempo.
Recentemente, por conta da ampla disponibilidade dos recursos eletrônicos e, em especial, pela emergência da chamada economia do compartilhamento (que alguns chamam de “uberização” da economia), a ideia da autogestão voltou com força. Justifica-se mais ou menos assim: pessoas competentes, responsáveis, geralmente trabalhando à distância, não precisam de ninguém para lhes dizer como proceder, podem se resolver sozinhas, usando a cooperação e o bom senso para isso.

Embora cooperação e bom senso sejam indispensáveis ao trabalho em equipe, a experiência do dia a dia lidando com a questão (que, no meu caso, já vai pra lá de 30 anos), mostra que, infelizmente, não são suficientes para garantir o cumprimento dos objetivos a que os grupos e as equipes de trabalho se propõem, cada um de per si.

Para que se tenha uma ideia disso, basta verificar o que acontece, guardadas as devidas proporções, com os onipresentes grupos de WhatsApp que são diferentes dos grupos de trabalho mas têm em comum um objetivo, uma razão de ser, ainda que uns mais, outros menos explícitos, geralmente menos. As experiências de autogestão dos grupos do aplicativo não raro são desastrosas… Postagens desfocadas, ofensivas, piegas, violentas… Amizades revisitadas e logo desfeitas… Relações familiares abaladas…

Tudo por falta de objetivos e regras definidas, ainda que mínimas, e explicitadas. Além disso, carecem da imprescindível coordenação (que nos grupos de trabalho são comumente mais denominados de “gerenciamento”) para fazer valer as regras, realizar a mediação dos inevitáveis conflitos e, principalmente, colocar em prática o sistema de consequências pelo descumprimento dos acordos. Até, em último caso, desligando o recalcitrante do grupo para sustentar e manter a continuidade do propósito estabelecido.

Pois é!, infelizmente, grupos de trabalho autogeridos, só existem como raríssimas exceções que apenas confirmam a regra.

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