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Outros olhares sobre o crescimento da população neurodivergente

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Nem todos os especialistas, porém, compartilham das mesmas visões sobre a neurodivergência. A psicanalista Ana Elizabeth Cavalcanti, que integra o CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem) destaca, por exemplo, que há uma outra leitura também sobre o crescimento do número de diagnósticos. Além da perspectiva de que essas condições sempre existiram, mas passaram a ser identificadas com o aprimoramento dos métodos diagnósticos, ela aponta uma segunda linha que sugere que as condições que levaram a uma explosão do número de pessoas diagnosticadas são, em parte, construções históricas e culturais, moldadas por fatores contextuais e ideológicos.

Ela reforça que essa polêmica entre o que sempre existiu e o que é historicamente construído é complexa, mas indispensável para se compreender a evolução do campo da saúde mental. “O autismo, por exemplo, foi descrito pela primeira vez pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner em 1943, dentro de um contexto em que a psiquiatria ainda era uma especialidade médica, vista com certo ceticismo e fortemente influenciada pela psicanálise e pela fenomenologia”, relembrou.

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Porém, a partir da década de 1970, a psiquiatria passou por uma transformação, rompendo gradualmente com a psicanálise e a fenomenologia, passando a aderir aos critérios de diagnóstico médico, buscando maior credibilidade como ciência. Essa mudança deu origem à chamada “psiquiatria biológica”, que deslocou o foco da subjetividade para a identificação precisa de transtornos.

Segundo ela, essa transição também impulsionou a medicalização do comportamento humano, transformando emoções e comportamentos antes descritos de maneira cotidiana, como tristeza ou desobediência infantil, em diagnósticos clínicos, como depressão e TOD (Transtorno Opositor Desafiador).

"Quando uma criança tinha dificuldades, a primeira questão era: o que está acontecendo com essa criança? Hoje, a primeira questão é: qual é o diagnóstico médico-psiquiátrico?”, afirma a psicanalista. Essa mudança de paradigma, segundo ela, reforça uma visão médica que privilegia o diagnóstico e o tratamento, com forte pressão da indústria farmacêutica, deixando em segundo plano questões mais subjetivas e contextuais em que esses comportamentos surgem.

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