Parei De Beber E Foi A Melhor Escolha Que Fiz - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco
Reticências

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Manu Siqueira

Parei de beber e foi a melhor escolha que fiz

Por Manu Siqueira

Janeiro de 1992. Férias. A Ilha de Itamaracá, reduto de adolescentes naquela época, fervilhava com shows, paqueras e pele bronzeada. Era a apresentação do grupo de pagode Raça Negra, na Praça do Pilar. Eu, com 14 anos, acompanhada de duas primas, experimentei bebida alcoólica pela primeira vez. Era uma caipirosca, docinha, que logo me deixou tonta. Lembro que não gostei da sensação de estar tonta, mas insisti. O menino que eu paquerava no show, que devia ter uns 16 anos, exibia com orgulho um litro de uísque importado e as chaves do carro do pai. Essa era a realidade da juventude de classe média/alta dos anos 90.

Assim como nos anos 60, em que fumar era sinônimo de charme e sedução, beber nos anos 90 era uma condição sine qua non para ser aceito em qualquer grupo.

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Lembro que, ao longo da minha infância, todos os almoços na casa da minha avó materna tinham como base muito afeto e música, mas, sobretudo, muita bebida alcoólica também. Muita! Resultado: frequentes discussões, gente sem limites e alguns traumas instalados. Essa dinâmica reverberou na minha vida adulta, refletindo em escolhas e relacionamentos muitas vezes equivocados.

Eu conseguia perceber os danos emocionais causados pela bebida, mas gostava de beber. Gostava da sensação de me sentir solta, livre, mais receptiva ao outro. Após um longo relacionamento, comecei a selecionar criteriosamente com quem eu bebia e diante de quem eu me permitia ficar vulnerável. Passei a ponderar os riscos e a conta não fechou. Aos poucos, e escolhendo muito bem com quem eu queria estar, a bebida foi naturalmente perdendo espaço na minha vida.

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A maturidade também contribuiu muito para essa decisão. Informação e autoconhecimento ajudam, e muito. Começar a beber é uma escolha. Parar de beber também é.

Não estou falando aqui de quem é viciado, que fique claro. O alcoolismo é uma doença. E pode acometer o homem mais lindo, a mulher mais rica, ou o jovem mais miserável. Não se trata disso.

O que quero dizer é que parei de beber e estou descobrindo um novo jeito de estar nos lugares, de me relacionar, de curtir os momentos em sua plenitude. Sem névoa. Sem ressaca.

Este não é um texto para te convencer a parar de beber. É um convite à reflexão:
E se eu parar de beber, ainda assim terei motivos para ser feliz?

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*Manu Siqueira é jornalista

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