Pernambuco cria ambiente para captação de investimentos

(Por Rafael Dantas)

Pernambuco surfou na onda de crescimento econômico do País na década, mas como todos os entes da Federação sofreu forte com a crise econômica e política. A retração de 3,5% do PIB estadual em 2015, foi a primeira queda desde 1992. Para frear o desaquecimento dos setores produtivos, o poder público e os players econômicos locais têm atuado de forma a preparar o ambiente de negócios para a retomada dos investimentos. O reinício de grandes obras de infraestrutura, principalmente hídricas e de transporte, e o adensamento das cadeias produtivas mais dinâmicas, como a automotiva e de energias renováveis, são os caminhos que estão sendo desenhados no horizonte pernambucano além da crise.

A preparação para o convívio com a escassez hídrica pela qual passa o Estado, com anos de seca, gerou uma das oportunidades mais maduras para captação de recursos. Mesmo com o momento econômico atual, a Compesa prevê R$ 400 milhões investidos neste ano. “No meio de uma crise imensa, seguimos com um potencial de investimento grande”, destaca Roberto Tavares, presidente da estatal. Ele lembrou ainda que a média histórica da empresa era de R$ 80 milhões por ano. Esses valores não abarcam o que está sendo investido por meio do Programa Cidade Saneada, que é a maior parceria público privada (PPP) de saneamento da América Latina, com um montante de recursos a ser aplicado de R$ 4,5 bilhões.

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Veja entrevista com Roberto Tavares: migre.me/voUCr

A Compesa tem ainda uma carteira de projetos divididos em dois ministérios que engloba um montante de R$ 3,4 bilhões (R$ 1,7 bi com a Integração Nacional e R$ 1,74 bi com a pasta das Cidades), aguardando liberação de recursos. A empresa tem acessado também financiamentos através do Banco Mundial, US$ 190 milhões, e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), US$ 330 milhões. “Estamos tocando essa carteira com dificuldade, mas não deixando-a morrer. O momento é para investir fortemente em projetos. Estamos armados com diversas fontes e com obras em todo o Estado. Quando a crise diminuir e as fontes de financiamento voltarem a se regularizar estaremos prontos para sair na frente”, diz Roberto Tavares.
Ainda em investimentos em infraestrutura, outra novidade foi o recente lançamento do Plano Caminhos do Desenvolvimento. Tratam-se de três obras estruturadoras na área de transportes apresentadas pelo Governador Paulo Câmara, com objetivo de qualificar a mobilidade da população e ampliar o potencial logístico do Estado. “O Plano Rodoviário busca integrar cada vez mais Pernambuco, priorizando as rotas de desenvolvimento. Dessa forma, vamos destravar gargalos e melhorar a acessibilidade da população, além da condição econômica da região”, disse Câmara na ocasião do lançamento.
A principal novidade é o Miniarco. Previsto para ser licitado em julho, o Arquinho, que é um trecho de 14,4 km, que promete tirar o tráfego intenso de veículos dentro de Abreu e Lima. “Com essa iniciativa, o governador Paulo Câmara vai possibilitar os estudos técnicos para viabilidade econômica e financeira. É um projeto para investimento privado e, quando ficar pronta, a rodovia será pedagiada”, adianta o secretário-executivo de transportes, Antônio Cavalcanti Júnior. A estimativa de aporte para esse empreendimento é de R$ 170 milhões. Os demais projetos são a requalificação do contorno urbano da BR-101 e a duplicação da BR-104. Juntas, as obras somam R$ 520 milhões.

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Além desses projetos, que estão no escopo do Governo do Estado, o presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco), Gustavo Miranda, destaca a necessidade de conclusão da ferrovia Transnordestina pelo Governo Federal. “Hoje está em situação de abandono, se retomada seria convertida numa oportunidade interessante de aquecimento econômico”, sugere. Sobre obras de menor porte, Miranda acredita que surgirão oportunidades ligadas à mobilidade urbana no Recife, além da possibilidade de construção de estacionamentos na cidade. O anúncio da oferta de R$ 34 bilhões para o mercado imobiliário nacional, realizado pela Caixa Econômica, também sinaliza uma reanimação na área de habitação.

CADEIAS PRODUTIVAS. Outra aposta do Governo do Estado para atrair investimento é o estímulo ao preenchimento dos elos das cadeias produtivas. Após a vinda de grandes empresas, que estruturaram segmentos da nova economia pernambucana, especialistas sinalizam que há espaço para a instalação de fornecedores, que irão gerar novos empregos e arrecadação tributária. “Temos em Pernambuco várias sementes de polos plantadas. E em todas elas existem investidores esperando que melhore a situação econômica para tomarem decisões de investimento”, avalia o secretário de Desenvolvimento, Thiago Norões.
A cadeia automotiva é uma das que desperta potencial de instalação de novas empresas, atraídas pelo parque industrial da Fiat Chrysler Automobiles (FAC). “A Fiat Chrysler veio com a ideia de trazer um conjunto grande de fornecedores. Vieram os sistemistas de primeira linha, que estão dentro da planta industrial deles, mas sempre tiveram o projeto de fazer mais um ou dois parques de fornecedores”, afirma Thiago Norões. O movimento, no entanto, foi freado com a crise automobilística. “Esse é um foco nosso e da própria montadora, de despertar esse movimento num momento oportuno”.
Na outra ponta da Zona da Mata, nos estaleiros, na petroquímica e na instalação do segundo terminal de contêineres estão as apostas do poder público para reaquecimento econômico. Após um início de grande dependência das encomendas da Petrobras, as gigantes do polo naval Suape têm conquistado uma clientela diferente. O secretário avalia que, num primeiro momento, as encomendas de outras fontes são uma iniciativa de sobrevivência do setor, porém elas permitirão no futuro uma retomada do desenvolvimento da indústria metalmecânica. Os dois maiores estaleiros do polo, de acordo com Balanço Empresarial elaborado pelo consultor José Emílio Calado, sofreram nos dois últimos anos. Enquanto o Atlântico Sul acumulou um prejuízo de R$ 698,8 milhões, o Vard Promar teve um déficit de R$ 790,5 milhões no período.
Ainda em Suape, outro investimento esperado no Complexo Industrial Portuário é o andamento da construção dos players do setor petroquímico. Em visita ao Planalto, no final do mês de outubro, a conclusão da Refinaria Abreu e Lima foi uma das demandas do governador Paulo Câmara ao presidente Michel Temer.
Quanto a PetroquímicaSuape e a Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe), colocadas à venda pela Petrobras, há uma expectativa de que com a vinda de um empreendedor privado haja investimentos para o aproveitamento máximo das suas unidades. O complexo tem capacidade de produzir resina PET, PTA (ácido tereftálico purificado), além de beneficiar a fibra têxtil e poder fabricá-la. “Dessas, hoje apenas uma está funcionando e outra precariamente, pela incapacidade de investimento da Petrobras nos últimos três anos”, afirma Norões. Ele avalia que um investidor estrangeiro vai querer aproveitar ao máximo os ativos que já estão colocados ali, quando surgir a volta da dinâmica desse setor. Entre 2014 e 2015 as empresas somaram um prejuízo de R$ 5,5 bilhões.
Para fomentar o adensamento dessas cadeias produtivas, a Fiepe tem realizado um trabalho de formação. “Estamos atuando na capacitação dos empresários, para qualificar a indústria existente para que ela possa entrar nessas cadeias de valor recém-instaladas em Pernambuco. Incentivamos muito a inovação para torná-las competitivas”, diz.

ENERGIA. A indústria de energias renováveis também está na pauta de atração de investimentos. Fábricas em Suape produzem equipamentos para o setor e o interior do Estado apresenta potencial de produção energética. Em participação no Conselho Estratégico Pernambuco Desafiado, o ministro das Minas e Energias do Governo Federal, Fernando Bezerro Filho, mencionou que nessa área há grande possibilidade de crescimento nos próximos anos em todo o País e que o Governo Federal irá incentivar os biocombustíveis e a geração de energia por matrizes renováveis.
A microgeração de energia distribuída é um segmento com grandes oportunidades de atração de investimento, na avaliação do diretor da Publikimagem, Bruno Herbert. As recentes permissões da Aneel para que os cidadãos e empresas produzam sua própria energia e a busca por redução dos custos para atravessar a crise geram um ambiente de oportunidades principalmente para a produção solar. “Num momento de crise, em que as empresas não sabem onde investir com segurança seu dinheiro, a redução dos custos é um caminho. Como a energia elétrica é grande parte dos custos de qualquer empresa, o investimento em fontes renováveis se tornou atrativo”, diz Herbert. Além dessas, Essinger, da Fiepe, lembra de um potencial futuro de produção de energia nuclear. “O projeto de uma usina em Itacuruba segue muito atualizado”, informa.
As sementes plantadas ainda antes do solo árido da crise – e agora sendo preparadas – aguardam a melhoria do mercado e o ânimo dos investidores.

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