Levantamento da ABEFIN expõe falta de planejamento financeiro e revela vulnerabilidade crescente entre trabalhadores formais e informais

Uma pesquisa inédita da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN), realizada em parceria com o Instituto Axxus, mostra que 62% dos brasileiros economicamente ativos não possuem qualquer reserva financeira para a aposentadoria. O estudo ouviu 600 trabalhadores em diferentes regiões do país e revela um cenário preocupante de despreparo financeiro, agravado pela informalidade e pela baixa instrução em educação financeira.

Vulnerabilidade financeira e falta de planejamento

Com margem de erro de 4% e índice de confiança de 95%, a amostra reflete a atual composição da força de trabalho brasileira, dividida quase igualmente entre formalidade e informalidade. A pesquisa aponta ainda que 41% dos entrevistados resistiriam menos de três meses sem renda, caso perdessem o emprego. Entre os que guardam algum recurso, predominam incertezas: apenas 19% dos que investem em previdência privada acreditam que conseguirão sustentar uma vida financeira saudável na aposentadoria.

Os dados revelam também que 87% dos entrevistados que não contribuem com o INSS afirmam não ter dinheiro suficiente para isso. O estudo sugere que, além da escassez financeira, existe um comportamento marcado pelo “desconto hiperbólico”, tendência de priorizar benefícios imediatos em detrimento do planejamento de longo prazo. A falta de orientação adequada reforça o quadro: 95% dos participantes nunca receberam educação sobre aposentadoria e, entre os poucos que tiveram algum contato com o tema, 98% consideraram insuficiente.

Preocupação estrutural

“Esse quadro expõe um país extremamente vulnerável. A ausência de um colchão financeiro de segurança não impacta apenas a aposentadoria futura, mas também a capacidade de lidar com crises inesperadas — como desemprego, doenças ou emergências familiares.”

A avaliação, feita pelo presidente da ABEFIN, Reinaldo Domingos, reforça que a ausência de reservas impacta diferentes gerações. O estudo mostra que 29% dos pais dos entrevistados dependem financeiramente dos filhos ou de terceiros, enquanto 41% continuam trabalhando mesmo após aposentados, perpetuando um ciclo de vulnerabilidade intergeracional.

Consequências e caminhos possíveis

A pesquisa aponta consequências sociais relevantes: idosos sem renda pressionam estruturas familiares e serviços públicos, além de enfrentarem maior risco de estresse financeiro e problemas de saúde. Para reverter o quadro, a ABEFIN defende ações combinadas, como educação financeira desde a infância, campanhas segmentadas, produtos financeiros flexíveis para trabalhadores informais e automatização de contribuições para estimular constância nos aportes.

O presidente da entidade reforça que o desafio é amplo e cultural. Segundo ele, se o país não avançar em educação financeira e em políticas que facilitem o hábito de poupar, continuará formando gerações que chegam à velhice dependentes ou obrigadas a trabalhar. A pesquisa, conclui Domingos, é um alerta urgente sobre a necessidade de transformar comportamento e fortalecer a preparação para o futuro.