Pesquisadores alertam para branqueamento dos corais do Nordeste - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Pesquisadores alertam para branqueamento dos corais do Nordeste

Rafael Dantas

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) constataram que os recifes de corais marinhos no Estado estão passando por um gravíssimo processo de branqueamento. Se a situação perdurar por mais três meses, representará séria ameaça à biodiversidade do ecossistema. Situação igual foi registrada nos recifes de Porto de Galinhas e Tamandaré, no Estado de Pernambuco, por professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e em outros estados do Nordeste, como Rio Grande do Norte e Ceará. Nos recifes da Austrália, em março deste ano, também foi registrado o maior evento de branqueamento dos últimos dez anos.

Segundo o estudo do Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas (LARBIM) da UFPB, os corais mais afetados no litoral paraibano estão na Praia do Seixas, no litoral sul. Das 1,1 mil colônias monitoradas, 93% estão totalmente branqueadas. No Bessa, na Grande João Pessoa, em monitoramento feito entre março e maio, os pesquisadores observaram que 90% dos corais estavam branqueados. Até janeiro, das 3,6 mil colônias monitoradas, 48% estavam saudáveis, 38% branqueadas e 13% doentes. Ou seja, há aumento vertiginoso do processo de branqueamento.

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“Nunca vi algo igual antes. E olha que eu mergulho, estudo e pesquiso os corais da Paraíba desde 1999. É o maior evento de branqueamento de corais registrado para a Paraíba”, alerta Cristiane Sassi, que é a coordenadora do projeto, financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Ela explica que o branqueamento dos corais não significa que eles estão mortos, mas que estão debilitados e vulneráveis. “Os corais da Paraíba correm risco de morrer, caso o estresse que provocou o massivo branqueamento perdure por mais de três meses”, diz Cristiane, que é professora do Departamento de Sistemática e Ecologia da UFPB e coordenadora do LARBIM.

Segundo Cristiane, o evento de branqueamento ocorre ciclicamente, mas agora está se tornando mais frequente, assim como as anomalias térmicas estão mais intensas. Como o branqueamento já perdura por cerca de três meses nos recifes paraibanos, os pesquisadores temem que isso dificulte a recuperação dos corais. Além disso, como as praias da Paraíba estão fechadas por conta da pandemia do novo coronavírus, o monitoramento dos recifes está mais difícil e restrito. Os pesquisadores têm contado com o apoio da Capitania dos Portos para continuar indo ao mar, mas mesmo assim de maneira muito mais limitada do que antes.

Causas do branqueamento

Cristiane afirma que a exploração descontrolada do turismo natural está entre as razões da degradação dos corais. De acordo com a especialista, outras causas são apontadas por provocar o branqueamento: as de origem local, como poluição marinha, alta taxa de sedimentação, pisoteio e outras ações negativas do homem; e as de origem global, principalmente o estresse térmico, com elevação da temperatura dos oceanos.

A mortalidade em massa dos corais geralmente ocorre quando o estresse que provocou o branqueamento, seja ele de origem local ou global, perdura por mais de três meses.

“Entendo que somente com mudanças de nossas posturas, reduzindo a emissão de gás carbônico, a fim de atenuar o aquecimento global, e com a diminuição da poluição dos mares, do uso dos plásticos e com o fim das queimadas, podemos contribuir na conservação dos recifes. Além disso, a prática de condutas conscientes ao se visitar esses ecossistemas também é uma ação que auxilia na sua conservação”, explica a professora.

A equipe do projeto é formada por alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Engenharia Ambiental, Mídia Digital e Psicopedagogia da UFPB. Além de Cristiane, outros dois professores estão envolvidos: Roberto Sassi e Viviany Pessoa. A ideia é entregar aos órgãos públicos ambientais os dados levantados e fazer sugestões para a gestão desses recifes. Uma das propostas é a ordenação do turismo com a implantação de um programa permanente de ações educativas para orientar os visitantes quanto à prática de condutas conscientes ao visitarem as piscinas naturais.

 

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