Pierre Lucena: "A área De Negócio Está Cada Vez Maior No Rec’n’Play". - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco
Pierre Lucena: "A área de negócio está cada vez maior no Rec’n’Play".

Revista Algomais

 Rec‘n’Play, que acontece entre os dias 15 e 18 deste mês, chega à sua sétima edição com um grande estímulo às startups. A Arena de Negócios, neste ano, vai ocupar o prédio inteiro do Cais do Sertão e mais de 200 dessas novas empresas vão mostrar as suas inovações para investidores. Outra novidade é que as ações do evento realizadas nas ruas contarão com mais espaço, proporcionando mais conforto ao público. Uma mudança necessária já que, segundo o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, na edição passada, estimava-se uma frequência de 60 mil pessoas, mas apareceram 90 mil.

Nesta entrevista a Cláudia Santos, Pierre Lucena, fala de outras novidades, como a Arena de Inovações, que estará no Armazém 14, com ativações relacionadas à inteligência artificial, Internet das Coisas, entre outras tecnologias, o Let’s Play, festival que traz talentos promissores da música pernambucana, além da participação do historiador Leandro Karnal, do jornalista Guga Chacra, entre outros. 

Lucena também comenta as ações de interiorização do Porto Digital e o desempenho do Recife, que registrou o maior percentual de crescimento de emprego formal na área de TI no País, graças aos programas de formação de profissionais. Ele defendeu, ainda, que os eventos no Estado se transformem também num atrativo do turismo. E, de olho nesta perspectiva, o presidente do Porto Digital, planeja, para o ano que vem, organizar o Rec‘n’Play dentro de um calendário turístico de negócios.

O Rec‘n’Play está na sétima edição. Quais as novidades em relação à edição passada e qual a expectativa para este ano?  

Sempre nos preocupamos em mobilizar as pessoas do Recife para criar o imaginário da inovação. Isto está no DNA do Porto Digital e o Rec’n’Play é hoje nosso principal instrumento de comunicação com a cidade. Tivemos mais de 90 mil inscritos na edição passada, esperamos a mesma quantidade este ano. Ano passado surpreendeu porque trabalhamos com um teto de 60 mil.

A primeira decisão tomada para esta edição foi espaçar mais as ativações para evitar que as ruas fiquem muito cheias e para proporcionar mais conforto ao público. Talvez se tenha a impressão de que o festival está mais vazio, na verdade, estará mais espaçado. 

Ano passado, a fila da Arena de Inteligência Artificial estava sempre quilométrica. Decidimos alugar todo o Armazém 14 para realizar a Arena de Inovações, com mais de 10 inovações de maneira geral – não só na área de IA – trazidas pela Prefeitura do Recife, Governo do Estado, inventores e empresas. Teremos o Batom Inteligente, com o qual o CESAR ganhou um prêmio, uma ativação da Neurotech, experiências relacionadas à IOT (Internet das Coisas). 

Teremos um espaço para o Porto Mais, com programas de diversidade que estamos começando no Porto Digital. Um deles é o Pilar Universitário, no qual oferecemos bolsa de estudo na Faculdade Senac para moradores da comunidade do Pilar. Fizemos uma turma de 50 pessoas trans. Além da capacitação, o programa também ajuda na busca por emprego.  

E sobre os negócios? A divulgação do evento afirma que haverá um espaço voltado à internacionalização. 

Sim. A área de negócio está cada vez maior no Rec’n’Play. A Arena de Negócios, patrocinada pelo Governo de Pernambuco, vai estar cada vez mais dentro do festival. Ela foi inaugurada em 2023 em uma sala. Ano passado, fizemos uma exposição de startups, este ano, ela vai acontecer no prédio inteiro do Cais do Sertão e será bem maior. Serão mais de 200 startups buscando investidores, duas salas de conteúdo e um hall, que é um espaço de articulação e de exposição, tipo um auditório, onde são feitos os pitchs de cases

Estamos trazendo o presidente do Google Brasil [Fábio Coelho], a presidente da Microsoft Brasil [Priscyla Laham], o presidente da Stefanini [Marco Stefanini], entre outras empresas e investidores. Essa arena é o espaço qualificado de negócios do Rec’n’Play e vai crescer cada vez mais como uma opção estratégica do evento. 

Também investimos no conteúdo da internacionalização, pois temos o Porto Digital em Portugal. Entre outras pessoas, vamos trazer a embaixadora da Alemanha [Bettina Cadenbach] e o embaixador da França [Emmanuel Lenain] e anunciar a chegada de uma empresa francesa no Porto Digital, a maior empresa europeia de serviços e tecnologia. É uma programação especial em razão do ano do Brasil na França e da França no Brasil. 

Arena de IA 1

Quais as novidades na programação cultural?

A cultura é uma opção estratégica do evento. Mas o objetivo não é transformar o Rec‘n’Play em um festival de entretenimento, queremos ser um festival cultural. A Cultura está no DNA do Porto Digital, e a principal inovação do Rec‘n’Play, neste sentido, é promover um festival de música pernambucana, chamado Let’s Play. Abrimos uma chamada, vieram mais de 240 artistas, e a curadoria do selo Estelita selecionou 20 atrações. Queremos descobrir os novos artistas que daqui a 10 anos vão encher o Marco Zero, como aconteceu com o Abril pro Rock. 

Além do festival, teremos quatro palcos: o de Hip Hop, o Palco do Sesc, o Palco Pernambuco Meu País, que é do Governo do Estado, e o palco da Prefeitura do Recife, que este ano será na frente do Paço Alfândega. A programação vai contar com nomes como: Filipe Catto, Cordel de Fogo Encantado, Academia da Berlinda, Otto, Ave Sangria, Del Rey, Joyce Alane, Sandra de Sá, Walter de Afogados, um cantor brega muito conhecido nos anos 1970/80. 

No palco do Sesc, entre outras atrações, haverá uma festa com Lúcio Maia, que foi da Nação Zumbi, e BNegão, do Planet Hemp. No sábado, teremos o Pagode do Didi e um carnaval com a presença dos blocos Homem da Meia-Noite, Vassourinhas e Pitombeiras. 

Apostamos também na qualidade do conteúdo. O tema deste Rec ‘n’ Play é O Futuro Feito Por Gente, e as diferentes palestras, trilhas e debates são nesse sentido. Teremos Leandro Karnal, falando sobre Educação do Futuro. Vamos tratar da chegada da IA na educação e, além dele, teremos Gabriela Prioli, pastor Henrique Vieira, integrantes do elenco e diretor da novela Guerreiros do Sol, os jornalistas Guga Chacra e Gerson Camarotti; Tábata Amaral, Joaquim Falcão, entre outros nomes. Haverá uma mostra de cinema francês e algumas exposições. Para as crianças, no sábado, a programação infantil conta com banda de rock, oficinas e o Bloco do Bita no Marco Zero. 

Ruas Cheias

Qual o balanço dessas sete edições do festival? Vocês atingiram o imaginário pernambucano?

Assumi o Porto Digital em 2018, na segunda edição, ainda era um festival pequeno. Na primeira edição, em 2017, foram sete mil inscritos, na segunda, 13 mil e percebi que tinha potencial para crescer. No início, não havia convidados conhecidos, era muito voltado para tecnologia. Então, furamos a bolha para além da questão tecnológica, trazendo mais gente para a cidade. Ano passado, trouxemos mais de 7 mil pessoas de fora de Pernambuco. Os números mostram que uma mobilização como esta reverbera positivamente. 

Por exemplo, tínhamos abertura de 500 vagas com o Senac de cursos gratuitos e conseguimos mais de quatro mil inscritos. Temos hoje uma capacidade de mobilização impressionante devido às comunidades que se formaram em torno do Rec’n’Play. O curso de Ciências da Computação tem nota acima de 800 pontos no Enem na UFPE. Tudo isso faz parte da imagem do Recife enquanto polo de tecnologia, que foi fortalecida por meio do Porto Digital. 

Isso é relevante, é um esforço de comunicação, de mobilização. Conseguimos fazer com que as pessoas se interessem por esse negócio. Há 15 ou 20 anos, o imaginário dos universitários girava em torno de concursos públicos na área jurídica, o que foi substituído, num prazo curto, pela consciência de que é preciso saber de tecnologia, entendendo que ela faz parte das nossas vidas. 

Queremos que o Recife todo dialogue em Pernambuco. Fizemos um pocket do Rec‘n’Play em Caruaru, que teve 13 mil inscritos. É importante colocar, na cabeça das pessoas, que a economia do futuro chegou e precisamos fazer parte dela. O principal objetivo do Rec’n’Play é inserir jovens de comunidades como Linha do Tiro e Córrego do Abacaxi, em algum centro de inovação do Porto Digital, para que eles entendam que aquilo pode ser para eles. 

Isso faz parte de um conjunto de ações com nossos parceiros, que não são poucos.  O Porto Digital, enquanto política pública, precisa fomentar discussões sobre política também: política educacional, política de cotas, política de ação afirmativa. Elas precisam ser discutidas dentro do Rec‘n’Play. Por isso, o festival, além de tecnologia, tem economia criativa, inovação, diversidade. A educação como mola propulsora para mudança social, utilizando ciência e tecnologia é o grande propósito do nosso trabalho no Porto Digital. Queremos um Porto Digital mais diverso e, para isso, temos programas que, em escala, são grandes. O Embarque Digital, por exemplo, recebe 500 novos alunos por ano.

Quais os resultados de programas como o Embarque Digital?

Temos mais de 60% de pretos e pardos no Embarque Digital, mais que o dobro de meninas em relação à média nacional. Temos 34% de mulheres, a média nacional é cerca de 13%.  Segundo o Censo recente do ensino superior, 54% de estudantes não têm nem acesso à internet em casa. Os dados mostram que somos o primeiro colocado em número de alunos em cursos de TI per capita.  Hoje as outras cidades com boa colocação nesse Censo têm 390 a 400 alunos a cada 100 mil habitantes, e nós temos 717. 

grafico alunos em tecnologia

A falta de mão de obra qualificada para o Porto Digital não é mais um problema como há algum tempo. Ainda segundo o Censo do Ensino Superior, o número anual de concluintes de cursos de tecnologia do Recife passou de 641 para 1.427. Nos cursos do Embarque Digital, ingressam 25 alunos pagantes e o restante são bolsistas.  

Quando dobramos o número de estudantes formados com o Embarque Digital, dobra a quantidade de alunos que vieram da periferia.  Isso significa que daqui a 10 anos, você vai ver a periferia do Recife ocupando vagas de trabalho, no Porto Digital, que hoje são ocupados por pessoas como eu, homem branco de classe média que é o típico trabalhador da tecnologia. O Embarque Digital é um programa de escala que possibilita criar um distrito de inovação diferente do que existe em qualquer lugar do mundo. 

O número de alunos do Recife no ensino superior disparou. Em Brasília, esse número cresceu porque temos lá um curso pela Universidade Católica, com mais de mil alunos. O impacto do programa é gigante e estamos apostando agora na interiorização. Temos um contrato de gestão com o Governo do Estado e abrimos nosso hub em Caruaru. Em breve, teremos duas unidades avançadas em Garanhuns e Araripina, e um hub grande em Petrolina.

Novo Porto Digital Petrolina
Novo Porto Digital em Petrolina

Qual o impacto dessa interiorização?  

Cada cidade terá sua história, mas a ideia é criar esse mesmo imaginário da inovação em cada uma delas. Temos o Hub Plural, no Porto Digital, que vai se instalar em Caruaru. Vamos conseguir fazer com que esse cluster se desenvolva lá. Caruaru tem tecnologia voltada para moda, design, cultura e economia criativa. Em Petrolina, imaginamos criar uma comunidade de empresas de tecnologias que serão formadas com aquelas que já existem lá, com uma possibilidade de grande crescimento no agronegócio. Vamos montar um espaço empresarial que será o Porto Digital Petrolina. Gostaríamos de entregar essa obra ano que vem. 

Esse movimento de interiorização tem impactos a longo prazo. O Porto Digital tem 25 anos, para atrair um Bradesco, por exemplo, foram 23 anos. Isso começa com base educacional, empreendedorismo, startups. Em Caruaru, já há uma história com uma base de empreendedores locais. Em Petrolina, vamos começar do zero, mas já temos parceiros como a Softex e organizações de tecnologia. Nosso negócio é fazer conexão. 

O Porto Digital é uma instituição sem fins lucrativos que gerencia uma política pública. Isso significa que temos muitas possibilidades para funcionar também como uma entidade neutra que catalisa tudo que é possível. Tenho contatos com CEOs de empresas privadas e gestores públicos.  Saímos em busca de recursos o tempo todo. 

Qual a perspectiva de crescimento do Porto Digital para este ano? 

Há um dado interessante: o Recife é a cidade onde mais cresceu o percentual de emprego em TIC, segundo dados do CAGED: 12%. Os lugares que têm ecossistemas de inovação organizados, como Florianópolis, Brasília, Porto Alegre e Curitiba, também cresceram, mas num percentual menor.  Então veja: aposta em capital humano e a localização do ecossistema fazem toda a diferença. 

Esperamos uma boa base de crescimento este ano, mesmo que a tecnologia esteja estabilizando, porque o Recife está crescendo acima da média. Esse último ano a Deloitte e o Bradesco contrataram muita gente, houve a chegada da Ernest & Young, e da empresa francesa que estamos anunciando no Rec‘n’Play. Temos muitas possibilidades de crescimento por meio da tecnologia, inovação e gerando empregos de qualidade e a chegada de empresas de ponta.

Isso requer dos governos mais discussão acerca da Reforma Tributária, que vai acabar com os benefícios fiscais dos estados e municípios e afeta o Porto Digital, pois haverá aumento significativo de impostos no setor. Como temos um ecossistema forte, poderemos continuar bem se a prefeitura continuar organizando o Bairro do Recife e o Governo do Estado ajudar na interiorização. Vale ressaltar que a grande indústria vai se transferir para São Paulo, devido à infraestrutura, e para Manaus devido ao benefício fiscal. Vai sobrar para os outros estados a indústria regional.

O imposto será redistribuído pelo consumo, então precisamos fazer com que o consumo seja mais alto para que o Estado tenha um ciclo virtuoso de receitas. Existem duas chances para isso acontecer:  ter uma população com uma renda boa, e aí é preciso apostar no setor de serviços para ter emprego bom e os estados se prepararem para ter poucas indústrias que consomem muito, como a Stellantis, que vai permanecer aqui porque já está instalada. 

Fortaleza, por exemplo, está apostando em data center, que tem um consumo grande de energia, que se reverte em ICMS para o estado. Muitos países não querem ter data center em razão do consumo energético, mas nós podemos gerar energia limpa, como a solar, eólica, então temos espaço para que isso funcione.  

A minha defesa é que a gente aposte no setor de serviço qualificado, que gera empregos melhores, como o polo médico, o Porto Digital, além de investir no turismo e na agricultura. Também investir em infraestrutura para atrair a indústria que consume muito e que traz ICMS para o Estado. 

O senhor acha que a economia criativa tem grande potencial?

Sim, mas lugares com economia criativa forte geralmente têm relevante apoio governamental, como a França. A Europa escolheu naturalmente o turismo, que é a indústria que mais cresce no mundo, mais do que tecnologia. O número de pessoas viajando nesse continente é cada vez maior e isso traz um fluxo de recursos inimaginável. A França vive disso e, por isso, precisa manter seus artistas, design e arquitetura. Paris vive em torno da economia criativa porque traz recursos. É um setor que funciona como uma indústria e tem uma cadeia produtiva.

Algo que aprendemos, no Porto Digital, é a dificuldade de transformar o job em business, uma coisa é fazer um filme, outra é ter uma cadeia econômica por trás. É preciso desenvolver empresas nesse sentido. Mas, acredito no potencial do setor que tem bases importantes muito fortalecidas, como Caruaru. 

O setor de eventos, por exemplo, precisa ter como propósito o turismo, que é “a bola quicando agora”, mas tem elementos que precisam ser trabalhados. Fui a Gramado dar uma palestra e observei que lá existe uma programação o ano todo para receber pessoas. Tudo é muito organizado, a qualidade urbana e a segurança são impecáveis.

Precisamos ter também um calendário, segurança impecável, Centro da cidade e as praias organizados e os eventos precisam servir para um pacote econômico. E temos vários hoje que dá para envelopar. Acho, por exemplo, que a principal falha do Rec‘n’Play é que não conseguimos organizá-lo dentro de um calendário turístico de negócios. É algo que pretendemos conquistar no ano que vem.

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