Vida & Arte

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Pedro Cunha

Plataforma transmídia Monumentos Virtuais lança videoperformances

Nas obras audiovisuais, os monumentos são os próprios corpos dos artistas; filmes serão exibidos em sessão no próximo domingo (22), a partir das 18h, no Youtube, com acesso livre e bate-papo em live com artistas falando sobre seus processos criativos

O projeto Monumentos Virtuais, que é uma plataforma artística transmídia, aberta ao público e de construção coletiva, lançará mais duas videoperformances no próximo domingo (22), a partir das 18h, com acesso livre e gratuito no canal do Youtube.

Na ocasião, serão lançadas e exibidas a videoperformance “Roberta da Silva”, idealizada e dirigida pela multiartista Pérola Pessoa, uma homenagem à travesti queimada viva no Cais de Santa Rita, no centro Recife; e a videoperformance/videoclipe “Abordagem”, um feat entre a rapper Agô MC e Neguinho MC, dirigido coletivamente pelas integrantes do Na Caça Coletivo (Agô MC, Amanda Timóteo, Thalligeira e Chicolhares) e Lara Bione.

Durante a live de lançamento dos novos monumentos virtuais, que acontecerá com a exibição no mesmo canal do Youtube, haverá um bate-papo com as artistas participantes dessas duas novas produções audiovisuais trocando um pouco sobre as experiências vivenciadas em seus processos de criação. 

A roda de diálogo também contará com a presença de artistas que produziram outros monumentos virtuais já lançados anteriormente na plataforma, a exemplo da Marina Mahmood, arte educadora que investiga possibilidades entre a dança e outros meios como a pirofagia e as imagens (audiovisual e fotografia), e também especialista em Dança Educacional – Práticas e Pensamentos do Corpo. 

Culturalmente no mundo, os monumentos, sejam estátuas, templos, memoriais, obeliscos ou outras formas simbólicas e grandiosas, ainda são poderosos meios de comunicar valores culturais, consagrados como elementos centrais da iconografia política do território e com um papel fundamental na criação e na permanência de determinadas paisagens urbanas. 

A plataforma Monumentos Virtuais, produzida pelos artistas Alexandre Salomão, Lara Bione e Luiz Manuel, é um acervo de obras audiovisuais que jogam luz na temática da presença do corpo, dos movimentos, das expressões e das performatividades em diálogo direto com os espaços públicos urbanos. É a afirmação e a monumentalização desses corpos, em cinesia, para pensar a cidade sob outros prismas e, acima de tudo, para imortalizar visões não institucionais sobre viver o urbano. 

“Os monumentos virtuais surgiram para repensar a forma como está a distribuição e o acesso aos bens públicos e culturais. São produções performáticas audiovisuais coletivas sobre nossos valores de representação, nossas memórias e culturas”, explica Alexandre Salomão, um dos artistas idealizadores do projeto Monumentos Virtuais. 

Partindo desta compreensão, o coletivo de artistas criou um mapa com as ações geolocalizadas em resposta ao processo de apropriação dos territórios de convivência pública (política, simbólica e cultural) nas cidades, que pode ser acessado no site www.monumentosvirtuais.ong.br. Qualquer artista com interesse pode cadastrar o seu vídeo performático na plataforma, criando o próprio monumento virtual de forma aberta e colaborativa. Esta é a primeira e única plataforma brasileira que disponibiliza espaço para a criação do seu próprio monumento virtual de maneira gratuita. 

Videoperformances lançadas

O projeto Monumentos Virtuais abriu chamada pública para o lançamento de dois novos monumentos com temática sexodissidente – LBGTQIAPN+. Com isso, o estudo da representação histórica dos lugares ampliou suas narrativas sobre o urbano que expõe violências e revela o combate ao limite da liberdade de comunicação, de expressão e de construção da sua própria história. A curadoria de ambas as obras, “Roberta da Silva” e “Abordagem”, foi de Akuenda Translesbicha, especialista em decolonialidade e arte performática. 

“Para este momento selecionamos o trabalho da artista Thallia Maria, que propôs um videoclipe da música ‘Abordagem’ da rapper Agô MC, de combate ao racismo, o qual traz a dissidência sexual atenta sobre o debate de raça ser prioritário e, inclusive, elemento que define os padrões de gênero e sexualidade impostos na contemporaneidade, além do envolvimento de outros artistas negros sob forte conotação comunitária. E o trabalho da Pérola Pessoa, “Roberta da Silva”, que propõe uma ação direta no local onde Roberta da Silva foi queimada viva no Recife, com a construção de um memorial e de uma intervenção estética – a artista tem como pressuposto que sua ação pressione a Prefeitura do Recife para a construção da Casa de Acolhimento LGBT municipal”, ressalta a curadora Akuenda Translesbicha.

As videoperformances, além de dialogarem de maneira coletiva com a realidade, também têm o caráter de denúncia e relevância pública. “É uma resposta à nossa própria contestação e indignação. A importância da construção da história através da nossa própria ótica refletida na construção de seu próprio monumento é uma autonomia necessária”, afirma Alexandre Salomão. 

Ambos os trabalhos saem do referencial “espaço público contemplativo/paisagístico” para evidenciarem ambientes onde as desigualdades socias não podem ser escondidas, ora de periferias, como Jardim Piedade e Ibura, ora do Cais de Santa Rita, espaço público onde ocorreu o assassinato da Roberta da Silva. 

“Faz parte do legado dos Monumentos Virtuais comunicar nossos próprios valores e ter como vestígios para as próximas gerações nossa atuação artística ante nossa própria construção de realidade, acesso à cultura e aos bens culturais”, complementa Salomão.

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