O futurista norte-americano Peter Schwartz, especialista em construção de cenários para o planejamento empresarial, fala o seguinte em relação à previsão do futuro: “simplesmente não é possível prever o futuro; um velho provérbio árabe diz que aquele que prevê o futuro mente, mesmo quando acerta”. Corroborando essa ideia, outro futurista, esse holandês, Arie P. de Geus, responsável durante muito tempo pelo planejamento estratégico da Shell, avança no tema ao dizer que, na verdade, além de não ser possível prever, “não importa qual será o futuro pois a única pergunta relevante é: o que faremos se tal cenário acontecer?”
Diante do resultado desta eleição presidencial no Brasil, dado o alto grau de incerteza que a caracterizou e, portanto, da rigorosa impossibilidade de antecipar com razoável grau de previsibilidade qual será o futuro do novo governo, a alternativa é seguir a recomendação de P. de Geus e, na prática, preparar-se para qualquer cenário que possa vir a acontecer.
Para isso, vale a pena atentar para o que diz o indiano Vijay Govindarajan, que foi consultor chefe de inovação da General Eletric, repetindo o que também disse certa vez Peter Drucker: “não peço que adivinhem o futuro, mas que o imaginem; afinal, a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. Para imaginar o futuro, do ponto de vista pessoal e/ou organizacional, a partir do que pode acontecer como resultado da ação do futuro governo eleito, podemos fazer o exercício de tentar caracterizar algumas tendências de peso que podem condicionar a sua atuação.
Uma dessas tendências que parece irreversível é a de se tratar de frente a questão do déficit público com medidas efetivas de contenção sob pena de vermos a dívida pública fugir ao controle e tornar arredios os credores, o que certamente produziria fuga de capitais, desacerto das contas públicas e descontrole inflacionário. Um cenário de caos que deve, portanto, ser enfrentado pelo novo governo, independente do que foi dito (ou silenciado) durante a campanha eleitoral, sob pena de, não o fazendo, ver o seu grau de governabilidade se estreitar drasticamente. Afinal, não é descabido dizer que foi a inflação descontrolada que derrubou Dilma Rousseff…
Desenhar cenários alternativos para subsidiar o planejamento do próximo ano é, portanto, tarefa inescapável deste final de ano eleitoralmente atribulado. De tédio, com certeza, não padeceremos.
*Francisco Cunha é consultor da TGI